17 maio, 2016

Entrevista do Papa Francisco ao jornal católico francês "La Croix"



(RV) “Embora a França seja filha primogénita da Igreja”, ela constitui uma “periferia a ser evangelizada”, sublinha o Papa, que afirma ter recebido uma carta de convite do Presidente Hollande e do episcopado para visitar o país, mas de momento não há datas. De qualquer modo, exclui-se 2017, ano de eleições na França. Mas não se exclui uma eventual etapa em Marselha que representa “uma porta sobre o mundo” e onde nenhum Papa esteve até hoje.

No que toca à evangelização, o Papa sublinha que as dificuldades não estão necessariamente ligadas à falta de sacerdotes e evoca o exemplo da Coreia, onde os leigos têm desempenhado um papel importante, chamando assim a atenção para o perigo do clericalismo.

Quanto à questão da pedofilia que sacudiu a França nas últimas semanas, o Papa volta a frisar, citando Bento XVI, “tolerância zero” em relação a sacerdotes que, chamados por vocação a proteger uma criança a destroem, semeando o mal, a dor… Em relação ao cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon e actualmente sob investigação, o Papa considera-o um homem corajoso que tomou as medidas necessárias e diz que não é o caso de falar em demissão.

Outra questão ligada à Igreja em França é a relação com a Fraternidade de São Pio X. A este respeito o Papa disse “avançamos lentamente e com prudência”. Ele define os lefevristas como “católicos em caminho da plena comunhão” e afirma que o superior, D. Bernard Fellay “é um homem com o qual se pode falar”.

Na entrevista ao “La Croix”, o Papa fala também das migrações e das relações com o Islão, e embora frisando que “não se pode abrir as portas de par em par de forma irracional”, diz que é importante compreender o “porquê” das migrações, e volta a chamar em causa “o sistema económico mundial dominado pela idolatria do Deus dinheiro”.  Francisco convida os europeus a favorecer a integração e sublinha que “a coexistência entre cristãos e muçulmanos é possível. E a este respeito diz “não estar convicto de que seja hoje o medo do islão enquanto tal” a dominar, mas sim o medo do Isis e da sua “guerra de conquista” em parte extraída do Islão. E referindo-se à forma como o modelo de democracia ocidental foi exportado para países como o Iraque ou a Líbia, Francisco sublinha que “não podemos ir para a frente sem tomar em consideração essas culturas”.

O Papa não foge também à pergunta sobre a laicidade do Estado deixando claro que “o Estado deve ser laico”, mas considera que a laicidade deve ser acompanhada por uma sólida lei que garanta a liberdade religiosa”. Exprime também o desejo de que a França dê “um passo em frente na questão da laicidade”, aceitando a abertura ao transcendente como um direito de todos. As leis sobre questões como eutanásia, uniões civis… devem ser definidas pelo Parlamento, mas deve também ser respeitado o direito à objecção de consciência que é um direito humano, frisa o Papa completando o raciocínio sobre o laicado.

Outros assuntos abordados na entrevista prendem-se com a diferença entre os dois sínodos sobre a família, as raízes cristãs da Europa, raízes “plurais” na óptica do Papa.

(DA)

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