03 julho, 2017

Papa à FAO: fome não é fatalidade, é consequência humana



(RV) “As guerras, o terrorismo, os deslocamentos forçados não são fruto da fatalidade, mas consequência de decisões concretas”, é o que escreve o Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes da 40ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que foi inaugurada esta segunda-feira na sede da instituição, em Roma.


A mensagem foi lida pelo Secretário de Estado, Card. Pietro Parolin. No texto, o Pontífice afirma que a Santa Sé acompanha com muitas atenção a atividade internacional e quer cooperar para uma real erradicação da fome e da desnutrição, e não somente orientar para favorecer um simples progresso ou objetivos teóricos de desenvolvimento.

Pão cotidiano

“Todos estamos conscientes de que não basta a intenção de garantir a todos o pão cotidiano, mas que é necessário reconhecer que todos têm direito a ele e que devem, portanto, beneficiar-se do mesmo. Para Francisco, se os contínuos objetivos propostos permanecem distantes, isso depende da falta de uma cultura da solidariedade e de atividades internacionais que ficam ligadas somente ao pragmatismo das estatísticas.

Quando um país não é capaz de oferecer respostas adequadas à desnutrição devido a seu grau de desenvolvimento, suas condições de pobreza, mudanças climáticas ou insegurança, é necessário que a FAO e as demais instituições intergovernamentais possam ter a capacidade de intervir especificamente para empreender uma adequada ação solidária.

Solidariedade

“A partir da consciência de que os bens que Deus Criador nos entregou são para todos, se requer urgentemente que a solidariedade seja o critério inspirador de qualquer forma de cooperação nas relações internacionais.”

A fome e a desnutrição, reforçou o Papa, não são fenômenos naturais ou estruturais de determinadas áreas geográficas, mas o resultado de uma complexa condição de desenvolvimento, causada pela inércia de muitos ou pelo egoísmo de poucos.

Fatalidade

“As guerras, o terrorismo, os deslocamentos forçados não são fruto da fatalidade, mas consequência de decisões concretas”, escreve ainda Francisco, afirmando se tratar de um mecanismo que castiga principalmente as categorias mais vulneráveis, excluídas não só dos processos produtivos, mas também obrigadas a deixar suas terras em busca de refúgio e esperança de vida. O Papa também lamentou as ajudas cada vez mais reduzidas aos países necessitados. A respeito, o Pontífice anuncia a contribuição da Santa Sé ao Programa da FAO para fornecer sementes às famílias rurais que vivem em áreas onde se somaram os efeitos dos conflitos e das secas. Este gesto se acrescenta ao trabalho que a Igreja leva avante segundo a própria vocação de estar ao lado dos pobres da terra.

Objetivo inadiável

Por fim, Francisco cita a Agenda para o desenvolvimento 2030, em que se reitera o conceito de segurança alimentar como objetivo não adiável. “Mas somente um esforço de autêntica solidariedade será capaz de eliminar o número de pessoas desnutridas e sem o necessário para viver. Trata-se de um desafio ao qual a Igreja se sente engajada na primeira linha”, escreve ainda o Papa, fazendo votos de que as sessões da Conferência possam dar um novo impulso à atividade da Organização.

Papa na FAO em 16 de outubro

Ao concluir a leitura da mensagem de Francisco, o Cardeal Parolin anuncia que o Papa visitará novamente a sede da FAO em 16 de outubro, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, que este ano propõe a refletir sobre o tema “Mudar o futuro da migração”. O Pontífice visitará a sede da FAO a convite do Diretor-Geral, José Graziano da Silva.

Reunião bienal

A 40ª Assembleia Geral da Fao será realizada de 3 a 8 de julho. Trata-se do máximo órgão de governo da instituição e se realiza a cada dois anos.

A finalidade é reunir os Estados-membros para examinar e votar o Programa de trabalho proposto pelo Diretor-Geral (que desde 2011 é o brasileiro Graziano) e debater questões alimentares e agrícolas.

Um dos pontos mais salientes da 40ª Conferência é como passar do compromisso à ação com para alcançar a Fome Zero. Este ano participam do evento mil participantes, incluindo 70 ministros, 15 vice-ministros e um Presidente.

O Papa Francisco visitou a sede da FAO em 2014. Já em 2016, o Pontífice visitou o Programa Alimentar Mundial (PAM), com sede também em Roma.

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