(RV) Uma
nova era inovadora de desenvolvimento: este é o pedido do Papa Francisco
aos líderes mundiais reunidos em Hamburgo, na Alemanha, para o G20.
A mensagem do Pontífice é endereçada à anfitriã do evento, a
chanceler alemã Angela Merkel. O grupo das 20 maiores economias do mundo
debate na sexta e sábado temas políticos, financeiros, sociais e
ambientais.
Primeiramente, o Papa manifesta o seu apreço pelos esforços
realizados para garantir a governabilidade e a estabilidade da economia
mundial, com atenção especial a um crescimento mundial que seja
inclusivo e sustentável. Esses esforços, recorda Francisco, são
inseparáveis da atenção dirigida aos conflitos em andamento e ao
problema mundial das migrações.
O Papa propõe aos líderes mundiais quatro princípios de acção para a
construção de sociedades mais justas, contidas na Exortação Apostólica
Evangelii Gaudium: o tempo é superior ao espaço; a unidade prevalece
sobre o conflito; a realidade é mais importante do que a ideia; e o todo
é superior às partes.
O tempo é superior ao espaço
Analisando cada um dos princípios, Francisco afirma que a gravidade e
a complexidade das problemáticas mundiais impedem soluções imediatas, e
o drama das migrações – inseparável da pobreza e exacerbado pelas
guerras - é uma prova disto. Todavia, é possível colocar em acção
processos que sejam capazes de oferecer soluções progressivas e não
traumáticas e conduzir, em tempos relativamente breves, a uma livre
circulação e a uma estabilidade das pessoas que sejam vantajosas para
todos.
Contudo, para Francisco, esta tensão entre espaço e tempo requer um
movimento exactamente contrário na consciência dos governantes e
poderosos. “Em seus corações e mentes, é necessário dar prioridade
absoluta aos pobres, aos refugiados, aos deslocados e aos excluídos, sem
distinção de nação, raça, religião ou cultura, e rejeitar os conflitos
armados.”
O Papa faz então um premente apelo aos chefes de Estado e de governo
do G20 e a toda a comunidade mundial pela trágica situação do Sudão do
Sul, nos Grandes Lagos, Chade, Corno de África e Iémen, “onde 30 milhões
de pessoas não têm alimento e água para sobreviver”.
A unidade prevalece sobre o conflito
A história da humanidade, inclusive hoje, nos apresenta um vasto
panorama de conflitos atuais ou potenciais. “Todavia, a guerra jamais é a
solução”, acrescenta o Pontífice, afirmando se sentir na obrigação de
pedir “ao mundo que ponha fim a inúteis massacres”.
Isso só será possível se todas as partes se empenharem em reduzir
substancialmente os níveis de conflitualidade, deter a actual corrida
armamentista e renunciar a se envolver directa ou indirectamente em
conflitos. “É uma trágica contradição e incoerência a aparente unidade
em fóruns económicos e sociais e a persistência de conflitos bélicos”,
constata o Papa.
A realidade é mais importante do que a ideia
Para Francisco, as trágicas ideologias da primeira metade do século
XX foram substituídas por novas ideologias da autonomia absoluta dos
mercados e da especulação financeira. Essas ideologias deixam um rastro
de exclusão e de descarte, e inclusive de morte. “Peço a Deus que a
cúpula de Hamburgo seja iluminada pelo exemplo de líderes europeus e
mundiais que privilegiaram o diálogo e a busca de soluções comuns.”
O todo é superior às partes
Essas soluções, prossegue o Pontífice, para serem duradouras devem
ter uma visão ampla e considerar as repercussões em todos os países, não
só nos que compõem o G20. Porque é justamente sobre as nações sem voz e
seus habitantes que recaem os efeitos das crises económicas. Para
Francisco, é importante sempre fazer referência às Nações Unidas, às
agências associadas e respeitar os tratados internacionais.
O Papa conclui invocando a bênção de Deus sobre o encontro de
Hamburgo e sobre todos os esforços da comunidade internacional para
activar uma nova era de desenvolvimento inovadora, interligada,
sustentável, respeitosa do meio ambiente e inclusiva de todos os povos e
de todas as pessoas.
A Cimeira
Na véspera do encontro, em Hamburgo, houve protestos contra a reunião
e muita violência entre a polícia alemã e black blocs. Quase 30
manifestantes foram presos e 111 policiais ficaram feridos. Mais
manifestações estão previstas para esta sexta-feira.
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