(RV) O
advogado Ulrich Weber apresentou à imprensa, nesta quarta-feira (19/07),
os resultados do relatório sobre os casos de abusos perpetrados contra
estudantes, durante décadas, na escola do Coral da Catedral de
Regensburg, frequentada por pequenos cantores.
Weber foi encarregado pela diocese alemã de esclarecer o escândalo de abusos cometidos desde 1945 ao início dos anos 90.
Quinhentas e quarenta e sete vítimas contaram ter sofrido violências
físicas e psicológicas, das quais 67 sofreram também abuso sexual.
O relatório identificou 49 pessoas responsáveis por maus-tratos
corporais, das quais 9 teriam cometido abusos sexuais. Trata-se de
sacerdotes e professores.
As primeiras denúncias públicas começaram a ser feitas em 2010, muito
tempo depois dos delitos para que os culpados possam ser hoje levados à
justiça. Os crimes teriam de fato caducado. Mas permanece a dor das
crianças de então, que hoje adultas descreveram a escola como “uma
prisão, um inferno, um campo de concentração” e falaram dos anos
transcorridos naquela estrutura “como os piores de suas vidas, marcados
pelo medo, violência e falta de ajuda”. Para cada uma delas a diocese
estabeleceu uma indenização de 20 mil euros.
O relatório chama em causa o Mons. Georg Ratzinger, irmão de Bento
XVI, diretor do Coral durante 30 anos, e o Cardeal Gerhard Ludwig
Müller, Bispo de Regensburg em 2010. O primeiro não teria dado atenção
aos sinais de perigo de abusos e o segundo não teria reagido com decisão
ao escândalo.
O presidente do Centro para a proteção de menores da Pontifícia
Universidade Gregoriana, Pe. Hans Zollner, teólogo e psicólogo jesuíta
alemão, natural de Regensburg, expressa satisfação sobre como foi
tratado este escândalo hoje, à luz do sol e sem medo da verdade:
Zollner: “Sim, foi o desejo do bispo da cidade de
Regensburg, minha cidade natal, que deu a tarefa a um advogado ao qual
ofereceu todas as possibilidades não somente de consultar os arquivos,
mas também de contatar as vítimas e falar com outras pessoas envolvidas.
Portanto, foi a coragem do bispo que iluminou uma escuridão muito
profunda.”
O advogado Weber desempenhou este trabalho com grande rigor e seriedade de independência
Zollner: “Ele tinha todos os instrumentos para
investigar, tinha as mãos livres e trabalhou com rigor, com uma comissão
de conselheiros científicos. Portanto, produziu realmente um relatório
muito bem feito e irrepreensível em sua vastidão, profundidade e
ciência.”
Esse relatório marca uma mudança na maneira de enfrentar o mal quando se insinua também dentro da Igreja
Zollner: “Obviamente, temos de fazer isso, devemos
encarar a realidade e devemos enfrentar todas as injustiças, os pecados,
os crimes que são cometidos por parte de sacerdotes e também por
funcionários da Igreja. Por exemplo, no caso de Regensburg, haviam
muitos professores leigos dentro da escola que abusaram dos menores com
violência física e também sexual”.
O advogado Weber aponta o dedo também para as responsabilidades
dos pais que não deram a atenção justa e importância às histórias dos
filhos e aponta também o dedo contra as autoridades do Estado que foram
superficiais nas inspeções escolares, não tutelando a infância.
Zollner: “Sim, mas os pais tinham também o grande
orgulho de enviar seus filhos e essa escola prestigiosa, para que se
tornasse grandes músicos e pudessem andar pelo mundo. Para nós em
Regensburg essa escola era considerada realmente uma estrela e ter um
filho ali e formá-lo lá era orgulho para a família. Depois, o Estado,
certo, os departamentos de superintendência para a educação e a escola.
Devemos dizer que fecharam os olhos, os ouvidos e não fizeram o seu
dever. É também difícil julgar como pensamos hoje a questão, porque
naquela época provavelmente algumas dessas pessoas consideravam um fato
normal que se batesse nas crianças, embora esse não fosse o costume
desde o fim dos anos 60 e início dos anos 70. Lembro-me que na minha
escola primária havia dois garotos que me contavam que desde crianças
apanhavam naquela escola. Eu pensei que os seus pais soubessem. Não
havia ainda a sensibilidade necessária e suficiente para se pronunciar
publicamente para denunciar o fato e seguir as leis. Certamente, esses
crimes, naquela época, teriam sido incriminados.”
Como o senhor considera essa publicidade que se fez apresentando o relatório diretamente à imprensa?
Zollner: “Esse é um passo muito importante também
para a conscientização de toda a sociedade e todas as instituições seja
da Igreja seja fora da Igreja, pois numa instituição é possível fazer
muitas coisas para prevenir o abuso. Por exemplo, na escolha de
professores e outros funcionários, na educação e formação dessas pessoas
que trabalham com os garotos: que sejam pessoas saudáveis, equilibradas
e saibam o que é a transgressão de suas competências e a transgressão
em termos de violência que não são somente inadmissíveis, mas também
crimes.”
(MJ)
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