(RV) “Encorajo-vos no compromisso, em favor do bem comum no nosso continente americano, e na colaboração entre todos, que possa favorecer a construção de um mundo sempre mais humano e mais justo.”
Foi a exortação do Papa Francisco aos cerca de 200 membros da Organização Internacional Ítalo-Latino-Americana,recebidos em audiência esta sexta-feira (30/06) na Sala Clementina, no
Vaticano, por ocasião do 50º aniversário da organização.
No discurso que dirigiu aos presentes, o Santo Padre destacou, entre
as finalidade da organização, promover o desenvolvimento e a
coordenação, bem como identificar as possibilidades de assistência
recíproca e de ação comum entre os países membros.
Atendo-se a este fim, o Pontífice articulou seu discurso em três aspectos que considera importantes para o momento atual: identificar as potencialidades, coordenar e promover.
Discorrendo sobre o primeiro aspecto, Francisco destacou que os países da América Latina são ricos de história, cultura e recursos naturais;
ademais, têm um povo “bom” e solidário com os outros povos, como “foi
comprovado por ocasião das recentes calamidades naturais, como se
ajudaram reciprocamente, dando exemplo a toda a comunidade
internacional”.
O Santo Padre observou que todos esses valores sociais estão presentes, mas devem ser apreciados e reforçados:
Apesar desses bens do continente, a atual crise económica e
social atingiu a população e produziu o aumento da pobreza, do
desemprego, da desigualdade social, bem como a exploração e o abuso da
nossa casa comum. Diante dessa situação é preciso uma análise que leve
em consideração a realidade das pessoas concretas, a realidade do nosso
povo.”
Destacando o segundo aspecto, o Papa frisou que é preciso coordenar
os esforços para dar respostas concretas e para fazer frente às
instâncias e às necessidades dos filhos e das filhas dos nossos países.
“Coordenar não significa deixar que os outros façam e no final
aprovar, ao invés, comporta muito tempo e muito esforço; é um trabalho
que não aparece e é pouco apreciado, mas necessário”, observou ainda,
atendo-se em seguida ao fenómeno da emigração na América Latina:
“Diante de um mundo globalizado e sempre mais complexo, a
América Latina deve unir os esforços para fazer frente ao fenómeno da
emigração; e grande parte de suas causas já deveriam ter sido
enfrentadas há muito tempo, mas nunca é tarde demais.”
Após recordar que a emigração sempre existiu, frisou que esta nos
últimos anos teve um incremento jamais visto antes. “Nosso povo,
impelido pela necessidade, vai em busca de ‘novos oásis’, onde possa
encontrar maiores estabilidades e um trabalho que assegure maior
dignidade à vida”.
Mas nessa busca, acrescentou o Pontífice, muitas pessoas sofrem a
violação de seus direitos”; muitas crianças e jovens são vítimas do
tráfico de seres humanos e são exploradas, “ou caem nas redes da
criminalidade e da violência organizada.
“A emigração é um drama de divisão: dividem-se as famílias,
os filhos se separam dos pais, distanciam-se da terra de origem, e os
próprios governos e os países se dividem diante dessa realidade. É
preciso uma política conjunta de cooperação para enfrentar esse
fenmeno. Não se trata de buscar culpados e de esquivar-se de
responsabilidades, mas todos somos chamados a trabalhar de maneira
coordenada e conjunta.”
Por fim, atendo-se ao terceiro aspecto, Francisco observou que entre
as muitas ações que se poderiam realizar, considera emergir por
importância “a promoção de uma cultura do diálogo.
Em seguida, o Santo Padre reconheceu que alguns países da América
Latina estão passando por momentos difíceis em nível político, social e
econ\mico:
“Os cidadãos que dispõem de menos recursos são os primeiros a
perceber a corrupção que existe nos vários estratos sociais e a má
distribuição das riquezas. Sei que muitos países trabalham e lutam para
realizar uma sociedade mais justa, promovendo uma cultura da legalidade”, reconheceu Francisco.
O Papa prosseguiu destacando que “a promoção do diálogo político é essencial,
tanto entre os vários membros desta Associação, quanto com os países de
outros continentes, de modo especial com os da Europa, por laços que os
unem”.
O diálogo é indispensável, concluiu Francisco, “mas não o ‘diálogo entre surdos’! Requer uma atitude receptiva que acolha sugestões e partilhe aspirações”.
A Organização Internacional Ítalo-Latino-Americana é um organismo
criado em Roma em 1966, cujos países membros são Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador,
Guatemala, Haiti, Honduras, Itália, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai,
Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
(RL)
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