(RV) Na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, o
Papa sublinha que a Eucaristia é a memória viva e reconfortante, não
abstracta e fria do amor de Deus por nós, que nos restaura sempre que
vamos a Ele. Mas a Eucaristia é também o sacramento de unidade da qual
nos faz artífices
A Eucaristia é o "humilde alimento" com o qual o Senhor imprime no
nosso coração a certeza de sermos amados, é memorial vivo e não
abstracto do Seu amor, e é o sacramento que regista no nosso "DNA
espiritual", a aspiração pela unidade. Esta em síntese a reflexão do
Papa na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. Francisco pronunciou a
sua homilia na tarde deste domingo (18/06) do átrio da Basílica de São
João de Latrão perante milhares de fiéis. No fim da Missa teve lugar a
tradicional Procissão Eucarística que, percorrendo a via Merulana,
chegou à Basílica de Santa Maria Maggiore, onde o Papa deu a bênção com o
Santíssimo Sacramento.
Na sua homilia, durante a Santa Missa, o Papa Francisco recordou que a
Eucaristia é o sacramento da memória que nos recorda, de forma real e
tangível, a história de amor de Deus para nós.
Recordação das façanhas do Senhor
Recorda-te: diz, hoje, a Palavra divina a cada um de nós, salientou o
Papa. “A partir da recordação das façanhas do Senhor, ganhou força o
caminho do povo no deserto; é na recordação daquilo que o Senhor fez por
nós que se fundamenta a nossa história pessoal de salvação. Recordar é
essencial para a fé, como a água para uma planta”.
A memória é importante, - continuou Francisco - porque nos permite
permanecer no amor, permite re-cordar, isto é, trazer no coração, não
esquecer quem nos ama e a quem somos chamados a amar. Mas esta faculdade
excepcional, que o Senhor nos deu, encontra-se hoje bastante
debilitada.
Depressa viramos página, ávidos de novidades
No frenesim em que estamos imersos, - destacou o Santo Padre - muitas
pessoas e tantos acontecimentos parecem passar-nos por cima, sem nos
darmos conta. Depressa viramos página, ávidos de novidades, mas pobres
de recordações. Deste modo, mandando em fumo as recordações e vivendo
cingidos ao instante presente, corre-se o risco de ficar à superfície,
vendo o fluir das coisas que acontecem sem descer em profundidade, sem
aquela espessura que nos recorda quem somos e para onde vamos. Então a
vida exterior acaba fragmentada, e a interior inerte.
O Senhor vem ao nosso encontro
A solenidade de hoje – disse Francisco na sua homilia - recorda-nos
que, na fragmentação da vida, o Senhor vem ao nosso encontro nos panos
duma amorosa fragilidade, que é a Eucaristia. No Pão de vida, o Senhor
vem visitar-nos fazendo-Se humilde alimento que amorosamente cura a
nossa memória adoentada de frenesim. Porque a Eucaristia é o memorial do
amor de Deus. Nela, “se comemora a sua paixão”, o amor de Deus por nós,
que é a nossa força, o sustentáculo do nosso caminhar.
É por isso – disse o Papa - que nos faz tão bem o memorial
eucarístico: não é uma memória abstracta, fria e conceptualista, mas a
memória viva e consoladora do amor de Deus.
Eucaristia, memória agradecida
A Eucaristia forma em nós uma memória agradecida, porque nos
reconhecemos como filhos amados e alimentados pelo Pai. A Eucaristia
encoraja-nos: mesmo no caminho mais acidentado, não estamos sozinhos, o
Senhor não Se esquece de nós e, sempre que vamos até Ele, alenta-nos com
amor.
A Eucaristia recorda-nos também que não somos indivíduos, mas um
corpo. Tal como o povo no deserto recolhia o maná caído do céu e o
partilhava em família, assim também Jesus, Pão do céu, nos convoca para o
recebermos juntos e o partilharmos entre nós. A Eucaristia não é um
sacramento “para mim”, é o sacramento de muitos que formam um só corpo.
“DNA espiritual”
Francisco salientou que quem a recebe não pode deixar de ser artífice
de unidade, porque nasce nele, no seu “DNA espiritual”, a construção da
unidade. Que este Pão de unidade - finalizou Francisco - nos cure da
ambição de prevalecer sobre os outros, da ganância de entesourar para
nós mesmos, de fomentar discórdias e disseminar críticas; que desperte a
alegria de nos amarmos sem rivalidades, nem invejas, nem murmurações
maldizentes. (BS/SP)
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