(RV) Quarta-feira,
14 de junho: audiência com Papa Francisco na Praça de S. Pedro.
Partindo da parábola do filho pródigo (cap. 15 de S. Lucas), Francisco
prosseguiu o ciclo das suas catequeses sobre a esperança cristã. Nenhum
de nós pode viver sem amor e uma das piores escravidões em que podemos
cair é acreditar que o amor deve ser merecido, disse o Papa, reiterando
que uma boa parte da angústia do homem de hoje vem da convicção de que,
se não formos fortes, atraentes e bonitos, então ninguém vai cuidar de
nós:
“Muitas pessoas hoje procuram uma visibilidade só para preencher um
vazio interior: como se fôssemos pessoas que eternamente precisam de
confirmação. Mas, podeis imaginar um mundo onde todos mendigam motivos
para despertar a atenção dos outros, e ninguém está disposto de amar
gratuitamente a uma outra pessoa? Parece um mundo humano, mas na
realidade é um inferno”.
Muitos narcisismos do homem nascem de um sentimento de solidão, de
orfandade – prosseguiu o Papa – e por trás de muitos comportamentos
aparentemente inexplicáveis encontra-se uma pergunta: possível que eu
não mereço ser chamados pelo nome? Por isso por detrás de muitas formas
de ódio social e vandalismo muitas vezes está um coração que não foi
reconhecido, disse ainda Francisco, sublinhando que não existem crianças
más, nem adolescentes completamente maus, mas existem pessoas
infelizes, privadas daquela experiência do amor dado e recebido.
E Deus tem para connosco um amor antecipado e incondicional,
ressaltou o Papa, Ele não nos ama porque existe em nós algum motivo que
desperta amor, mas porque Ele mesmo é amor, e o amor tende por sua
natureza a difundir-se, a dar-se. Deus não condiciona nem mesmo a sua
benevolência à nossa conversão:
"Deus mostra o seu amor para connosco pelo facto que, quando éramos
ainda pecadores, Cristo morreu por nós". Quando éramos ainda pecadores.
Estávamos "longe", como o filho pródigo da parábola: "Quando ele ainda
estava longe, o seu pai o viu e teve compaixão ...". Por amor de nós
Deus fez um êxodo de si mesmo, para nos visitar nesta terra onde era
insensato transitar. Deus nos amou mesmo quando estávamos no erro”.
Só um pai e uma mãe podem amar desta maneira, observou o Papa, porque
uma mãe continua a amar o seu filho, mesmo quando este filho está na
prisão, uma mãe não pede o cancelamento da justiça humana, porque cada
erro requer uma redenção, mas uma mãe nunca pára de sofrer pelo próprio
filho, ela o ama, mesmo quando é pecador:
“Deus faz o mesmo connosco: somos os Seus filhos amados! Não existe
nenhuma maldição na nossa vida, mas apenas uma palavra benévola de
Deus, que tirou a nossa existência do nada … Nele, em Cristo Jesus, nós
fomos amados, desejados. Existe Alguém que imprimiu em nós uma beleza
primordial, que nenhum pecado, nenhuma escolha errada poderá apagar
completamente”.
Por isso para mudar o coração de uma pessoa infeliz, é preciso antes
de tudo abraçá-la, concluiu Francisco, fazê-la sentir que é desejada,
que é importante, e ela deixará de ser triste, pois o amor chama o amor,
de maneira mais forte do que o ódio que chama a morte. Jesus não morreu
e ressuscitou para si, mas para nós, para os nossos pecados sejam
perdoados, ou seja, para a nossa libertação. E daqui brota o dom da
esperança, a esperança de Deus Pai que nos ama a todos, bons e maus –
rematou Francisco.
O Papa Francisco, como habitualmente, também se dirigiu aos fiéis de
língua portuguesa tendo saudado em particular aos provenientes do
Brasil, convidando a todos a permanecer fiéis ao amor de Deus que
encontramos em Cristo Jesus:
"Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa,
especialmente a quantos vieram do Brasil, convidando todos a permanecer
fiéis ao amor de Deus que encontramos em Cristo Jesus. Ele desafia-nos a
sair do nosso mundo limitado e estreito para o Reino de Deus e a
verdadeira liberdade. O Espírito Santo vos ilumine para poderdes levar a
Bênção de Deus a todos os homens. A Virgem Mãe vele sobre o vosso
caminho e vos proteja".
Nas saudações ao grupo de língua italiana o Papa dirigiu-se aos novos
sacerdotes da diocese de Brescia exortando-os a serem pastores segundo o
coração de Deus, bem como à Associação "Caridade sem fronteiras" da
Diocese de San Marino-Montefeltro, por ocasião dos 20 anos de
actividade.
Francisco saudou igualmente a união italiana dos cegos de Rossano
Calabro. E um pensamento especial o Papa dirigiu aos familiares dos
militares mortos em missões de paz, mostrando-lhes proximidade com
afecto, conforto e encorajamento.
Por último, uma cordial saudação aos jovens, os doentes e os
recém-casados. E recordando S. António de Pádua (pregador e padroeiro
dos pobres e sofredores) cuja memória litúrgica se celebrou ontem,
Francisco convidou os jovens a imitarem a linearidade da sua vida
cristã; aos doentes a nunca se cansarem de pedir a Deus Pai por sua
intercessão o que eles precisam e aos recém-casados, sob o seu exemplo, a
buscarem com ardor o conhecimento da palavra de Deus.
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