(RV) A experiência da consolação esteve no centro
da homilia do Santo Padre. O Papa frisou que a Primeira Leitura do dia
fala oito vezes de consolação. Para o Pontífice foi uma ocasião para
reflectir sobre qual é a consolação à qual São Paulo se refere. A sua
primeira característica é a de não ser “autónoma”.
“A experiência da consolação, que é uma experiência espiritual,
precisa sempre da alteridade para ser plena: ninguém pode consolar-se a
si mesmo. Ninguém. E quem procura fazê-lo termina olhando-se no espelho.
Olha-se no espelho, procura maquiar-se, se aparecer. Consola-se com
essas coisas fechadas que não o deixam crescer e o ar que respira é o ar
narcisista da auto-refencialidade. Esta é uma consolação maquiada
porque é fechada, falta-lhe a alteridade.”
“No Evangelho se encontra muita gente assim”, sublinhou o Papa na
homilia. Por exemplo, os doutores da Lei, “cheios da própria
suficiência”, o homem rico que vivia sempre em festas, pensando em se
consolar, mas sobretudo o que expressa melhor este comportamento é a
oração do fariseu diante do altar. Ele diz: “Eu te agradeço porque não
sou como os outros”. “Ele se olhava no espelho”, disse Francisco,
“olhava a própria alma maquiada por ideologias e agradecia ao Senhor”.
Jesus mostra esta possibilidade de ser gente que com este modo de viver
“nunca alcançará a plenitude”, mas a vanglória.
Para ser verdadeira, a consolação precisa de uma alteridade.
Primeiramente, se recebe, pois “é Deus quem consola, que dá este dom”.
Depois, a verdadeira consolação amadurece também outra alteridade, ou
seja, a de consolar os outros. “A consolação é uma passagem do dom
recebido ao serviço doado”, explicou o Papa:
“A consolação verdadeira tem dupla alteridade: é dom e serviço.
Assim, se eu deixo a consolação do Senhor entrar como dom é porque eu
preciso ser consolado. Para ser consolado é necessário reconhecer-se
necessitado. Somente assim, o Senhor vem, nos consola e nos dá a missão
de consolar os outros. Não é fácil ter o coração aberto para receber o
dom e fazer o serviço, duas alteridades que tornam possível a
consolação.”
“É necessário um coração aberto e para isso é preciso um coração
feliz. O Evangelho de hoje das Bem-aventuranças diz quem são os felizes,
quem são os beatos”:
“Os pobres, o coração se abre com uma atitude de pobreza, de pobreza
de espírito. Os que sabem chorar, os mansos, a mansidão do coração; os
que têm fome de justiça, que lutam pela justiça; os que são
misericordiosos, que têm misericórdia pelos outros; os puros de coração;
os agentes de paz e os que são perseguidos pela justiça, por amor à
justiça. Assim o coração se abre e o Senhor vem com o dom da consolação e
a missão de consolar os outros”.
Ao invés, são fechados os que se sentem “ricos de espírito”, isto é,
“suficientes”, “os que não sentem necessidade de chorar porque se sentem
justos”, os violentos que não sabem o que é a mansidão, os injustos que
cometem injustiça, os que não têm misericórdia, que jamais precisam
perdoar porque não sentem a necessidade de serem perdoados, “os sujos de
coração”, os “agentes de guerras” e não de paz e os que jamais são
criticados ou perseguidos porque não se preocupam com as injustiças
contra as outras pessoas. “Essas pessoas – diz o Papa – têm um coração
fechado”: não são felizes porque não pode entrar o dom da consolação
para, depois, dá-lo aos demais.
Francisco convidou a nos questionar como está o nosso coração, se
aberto e capaz de pedir o dom da consolação para depois dá-lo aos outros
como um dom do Senhor. Durante o dia, pensar e agradecer ao Senhor que
"sempre tenta nos consolar". "Ele somente nos pede que a porta do nosso
coração esteja aberta pelo menos um pouquinho", concluiu o Papa: "Assim,
Ele depois encontra o modo para entrar”. (BS/MJ/BF)
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