(RV) Foi publicada neste domingo, dia 4 de junho, Solenidade de Pentecostes, a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, este ano a ser celebrado no domingo 22 de outubro de 2017. Já a seguir o Texto integral:
Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões
"A missão no coração da fé cristã"
Queridos irmãos e irmãs!
O Dia Mundial das Missões concentra-nos, também este ano, na pessoa
de Jesus, «o primeiro e maior evangelizador» (Paulo VI, Exort.
ap. Evangelii Nuntiandi, 7), que incessantemente nos envia a anunciar o
Evangelho do amor de Deus Pai, com a força do Espírito Santo. Este Dia
convida-nos a reflectir novamente sobre a missão no coração da fé
cristã. De facto a Igreja é, por sua natureza, missionária; se assim não
for, deixa de ser a Igreja de Cristo, não passando duma associação
entre muitas outras, que rapidamente veria exaurir-se a sua finalidade e
desapareceria. Por isso, somos convidados a interrogar-nos sobre
algumas questões que tocam a própria identidade cristã e as nossas
responsabilidades de crentes, num mundo baralhado com tantas quimeras,
ferido por grandes frustrações e dilacerado por numerosas guerras
fratricidas, que injustamente atingem sobretudo os inocentes. Qual é
o fundamento da missão? Qual é o coração da missão? Quais são
as atitudes vitais da missão?
A missão e o poder transformador do Evangelho de Cristo, Caminho, Verdade e Vida
1. A missão da Igreja, destinada a todos os homens de boa
vontade, funda-se sobre o poder transformador do Evangelho. Este é uma
Boa Nova portadora duma alegria contagiante, porque contém e oferece uma
vida nova: a vida de Cristo ressuscitado, o qual, comunicando o seu
Espírito vivificador, torna-Se para nós Caminho, Verdade e Vida
(cf. Jo 14, 6). É Caminho que nos convida a segui-Lo com confiança e
coragem. E, seguindo Jesus como nosso Caminho, fazemos experiência da
sua Verdade e recebemos a sua Vida, que é plena comunhão com Deus Pai na
força do Espírito Santo, liberta-nos de toda a forma de egoísmo e
torna-se fonte de criatividade no amor.
2. Deus Pai quer esta transformação existencial dos seus
filhos e filhas; uma transformação que se expressa como culto em
espírito e verdade (cf. Jo 4, 23-24), ou seja, numa vida animada pelo
Espírito Santo à imitação do Filho Jesus para glória de Deus Pai. «A
glória de Deus é o homem vivo» (Ireneu, Adversus Haereses IV, 20, 7).
Assim, o anúncio do Evangelho torna-se palavra viva e eficaz que realiza
o que proclama (cf. Is 55, 10-11), isto é, Jesus Cristo, que
incessantemente Se faz carne em cada situação humana (cf. Jo 1, 14).
A missão e o kairós de Cristo
3. Por conseguinte, a missão da Igreja não é a propagação
duma ideologia religiosa, nem mesmo a proposta duma ética sublime. No
mundo, há muitos movimentos capazes de apresentar ideais elevados ou
expressões éticas notáveis. Diversamente, através da missão da Igreja, é
Jesus Cristo que continua a evangelizar e agir; e, por isso, aquela
representa o kairós, o tempo propício da salvação na história. Por meio
da proclamação do Evangelho, Jesus torna-Se sem cessar nosso
contemporâneo, consentindo à pessoa que O acolhe com fé e amor
experimentar a força transformadora do seu Espírito de Ressuscitado que
fecunda o ser humano e a criação, como faz a chuva com a terra. «A sua
ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que
penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por
todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual» (Exort.
ap. Evangelii gaudium, 276).
4. Lembremo-nos sempre de que, «ao início do ser cristão, não
há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta
forma, o rumo decisivo» (Bento XVI, Carta. enc. Deus caritas est, 1). O
Evangelho é uma Pessoa, que continuamente Se oferece e, a quem A acolhe
com fé humilde e operosa, continuamente convida a partilhar a sua vida
através duma participação efetiva no seu mistério pascal de morte e
ressurreição. Assim, por meio do Batismo, o Evangelho torna-se fonte de
vida nova, liberta do domínio do pecado, iluminada e transformada pelo
Espírito Santo; através da Confirmação, torna-se unção fortalecedora
que, graças ao mesmo Espírito, indica caminhos e estratégias novas de
testemunho e proximidade; e, mediante a Eucaristia, torna-se alimento do
homem novo, «remédio de imortalidade» (Inácio de Antioquia, Epistula ad
Ephesios, 20, 2).
5. O mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de
Jesus Cristo. Ele, através da Igreja, continua a sua missão de Bom
Samaritano, curando as feridas sanguinolentas da humanidade, e a sua
missão de Bom Pastor, buscando sem descanso quem se extraviou por
veredas enviesadas e sem saída. E, graças a Deus, não faltam
experiências significativas que testemunham a força transformadora do
Evangelho. Penso no gesto daquele estudante «dinka» que, à custa da
própria vida, protege um estudante da tribo «nuer» que ia ser
assassinado. Penso naquela Celebração Eucarística em Kitgum, no norte do
Uganda – então ensanguentado pelas atrocidades dum grupo de rebeldes –,
quando um missionário levou as pessoas a repetirem as palavras de Jesus
na cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mc 15, 34),
expressando o grito desesperado dos irmãos e irmãs do Senhor
crucificado. Aquela Celebração foi fonte de grande consolação e de muita
coragem para as pessoas. E podemos pensar em tantos testemunhos –
testemunhos sem conta – de como o Evangelho ajuda a superar os
fechamentos, os conflitos, o racismo, o tribalismo, promovendo por todo o
lado a reconciliação, a fraternidade e a partilha entre todos.
A missão inspira uma espiritualidade de êxodo, peregrinação e exílio contínuos
6. A missão da Igreja é animada por uma espiritualidade
de êxodo contínuo. Trata-se de «sair da própria comodidade e ter a
coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do
Evangelho» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 20). A missão da
Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos
vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede
de verdade e justiça. A missão da Igreja inspira uma experiência
de exílio contínuo, para fazer sentir ao homem sedento de infinito a sua
condição de exilado a caminho da pátria definitiva, pendente entre o
«já» e o «ainda não» do Reino dos Céus.
7. A missão adverte a Igreja de que não é fim em si mesma,
mas instrumento e mediação do Reino. Uma Igreja autorreferencial, que se
compraza dos sucessos terrenos, não é a Igreja de Cristo, seu corpo
crucificado e glorioso. Por isso mesmo, é preferível «uma Igreja
acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma
Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias
seguranças» (Ibid., 49).
Os jovens, esperança da missão
8. Os jovens são a esperança da missão. A pessoa de Jesus e a
Boa Nova proclamada por Ele continuam a fascinar muitos jovens. Estes
buscam percursos onde possam concretizar a coragem e os ímpetos do
coração ao serviço da humanidade. «São muitos os jovens que se
solidarizam contra os males do mundo, aderindo a várias formas de
militância e voluntariado. (...) Como é bom que os jovens sejam
“caminheiros da fé”, felizes por levarem Jesus Cristo a cada esquina, a
cada praça, a cada canto da terra!» (Ibid., 106). A próxima Assembleia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em 2018 sobre o
tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», revela-se uma
ocasião providencial para envolver os jovens na responsabilidade
missionária comum, que precisa da sua rica imaginação e criatividade.
O serviço das Obras Missionárias Pontifícias
9. As Obras Missionárias Pontifícias são um instrumento
precioso para suscitar em cada comunidade cristã o desejo de sair das
próprias fronteiras e das próprias seguranças, fazendo-se ao largo a fim
de anunciar o Evangelho a todos. Através duma espiritualidade
missionária profunda vivida dia-a-dia e dum esforço constante de
formação e animação missionária, envolvem-se adolescentes, jovens,
adultos, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas, bispos para que,
em cada um, cresça um coração missionário. Promovido pela Obra da
Propagação da Fé, o Dia Mundial das Missões é a ocasião propícia para o
coração missionário das comunidades cristãs participar, com a oração,
com o testemunho da vida e com a comunhão dos bens, na resposta às
graves e vastas necessidades da evangelização.
Fazer missão com Maria, Mãe da evangelização
10. Queridos irmãos e irmãs, façamos missão inspirando-nos em
Maria, Mãe da evangelização. Movida pelo Espírito, Ela acolheu o Verbo
da vida na profundidade da sua fé humilde. Que a Virgem nos ajude a
dizer o nosso «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no
nosso tempo; nos obtenha um novo ardor de ressuscitados para levar, a
todos, o Evangelho da vida que vence a morte; interceda por nós, a fim
de podermos ter uma santa ousadia de procurar novos caminhos para que
chegue a todos o dom da salvação.
Vaticano, 4 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2017
.
[Franciscus]
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