(RV) Domingo
4 de junho, solenidade de Pentecostes. O papa Francisco presidiu à
Missa numa Praça de S. Pedro repleta de fiéis e peregrinos provenientes
da Itália e das várias partes do mundo. Na sua homilia o Papa referiu-se
ao Espírito Santo, dom pascal por excelência e que não cessa de
realizar coisas novas. Sobre ele, disse, as Leituras de hoje mostram-nos
duas novidades: o Espírito que faz dos discípulos um povo novo (I
leitura) e o Espírito que cria nos discípulos um coração novo
(Evangelho).
Sobre o povo novo, Francisco ressaltou que no dia de Pentecostes o
Espírito primeiro pousa sobre cada um e, depois, põe a todos em
comunicação, a cada um dá um dom e reúne a todos na unidade. Por outras
palavras, o mesmo Espírito cria a diversidade e a unidade e, assim,
molda um povo novo, diversificado e unido: a Igreja universal.
“Em primeiro lugar, com fantasia e imprevisibilidade, cria a
diversidade; com efeito, em cada época, faz florescer carismas novos e
variados. Depois, o mesmo Espírito realiza a unidade: liga, reúne,
recompõe a harmonia (…). E desta forma temos a unidade verdadeira, a
unidade segundo Deus, que não é uniformidade, mas unidade na diferença”.
E Francisco falou de duas tentações que devemos evitar para
conseguirmos a unidade na diversidade. E a primeira é: procurar a
diversidade sem a unidade:
“Sucede quando se se quer distinguir, quando se formam coligações e
partidos, quando se obstina em posições excludentes, quando se fecha nos
próprios particularismos, porventura considerando-se os melhores ou
aqueles que têm sempre razão – são os chamados guardiões da verdade!.
Desta maneira escolhe-se a parte, não o todo, pertencer primeiro a isto
ou àquilo e só depois à Igreja; tornam-se «adeptos» em vez de irmãos e
irmãs no mesmo Espírito; cristãos «de direita ou de esquerda» antes de o
ser de Jesus; inflexíveis guardiães do passado ou vanguardistas do
futuro em vez de filhos humildes e agradecidos da Igreja. Assim, temos a
diversidade sem a unidade”.
A tentação oposta, prosseguiu o Papa, é procurar a unidade sem a
diversidade. E, deste modo, a unidade torna-se uniformidade, obrigação
de fazer tudo juntos e tudo igual, de pensar todos sempre do mesmo modo;
assim, a unidade acaba por ser homologação, e já não há liberdade.
Devemos, portanto, pedir ao Espírito Santo a graça de acolhermos a
sua unidade, um olhar que, independentemente das preferências pessoais,
abraça e ama a sua Igreja, a nossa Igreja; pedir a graça de nos
preocuparmos com a unidade entre todos, de anular as murmurações que
semeiam cizânia e as invejas que envenenam, porque ser homens e mulheres
de Igreja significa ser homens e mulheres de comunhão, e também pedir
um coração que sinta a Igreja como nossa Mãe e nossa casa: a casa
acolhedora e aberta, onde se partilha a alegria multiforme do Espírito
Santo – sublinhou Francisco.
Quanto à segunda novidade, o Espírito que cria um coração novo, o
Papa notou que Jesus Ressuscitado não condenou os seus, que O tinham
abandonado e renegado durante a Paixão, mas deu-lhes o Espírito do
perdão. O Espírito, portanto, é o primeiro dom do Ressuscitado, e ele
foi dado, antes de mais nada, para perdoar os pecados. E assim o perdão,
já do início da Igreja, é a cola que nos mantém unidos, o cimento que
une os tijolos da casa, o dom elevado à potência infinita, e que mantém
unido não obstante tudo, impedindo de soçobrar, e sem perdão, não se
edifica a Igreja, observou Francisco acrescentando:
“O Espírito do perdão, que tudo resolve na concórdia, impele-nos a
recusar outros caminhos: os caminhos apressados de quem julga, os
caminhos sem saída de quem fecha todas as portas, os caminhos de sentido
único de quem critica os outros. Ao contrário, o Espírito exorta-nos a
percorrer o caminho com duplo sentido do perdão recebido e dado, da
misericórdia divina que se faz amor ao próximo, da caridade como «único
critério segundo o qual tudo deve ser feito ou deixado de fazer,
alterado ou não”.
«Espírito de Deus, Senhor que estais no meu coração e no coração da
Igreja, Vós que fazeis avançar a Igreja, moldando-a na diversidade,
vinde! Continuai a descer sobre nós e ensinai-nos a unidade, renovai os
nossos corações e ensinai-nos a amar como Vós nos amais, a perdoar como
Vós nos perdoais – concluiu Francisco. (BS)
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