(RV) O
livro-entrevista de Andrea Tornielli com o Papa Francisco foi
apresentado neste dia 12 de janeiro no Instituto Patrístico
Augustinianum de Roma. Presentes o Cardeal Parolin, o ator Roberto
Benigni e o preso Zhang Agostino Jianquing. A moderadar a apresentação o
padre Federico Lombardi e, claro, presente também o autor da
conversação com o Santo Padre o vaticanista Andrea Tornielli. Desta
apresentação dão-nos conta dos pormenores os nossos colegas do programa
brasileiro da Rádio Vaticano Jackson Erpen e Raimundo Lima:
“Um livro para aprofundar o mistério da Misericórdia de Deus e
entender o que esta representa na vida e no Pontificado do Papa
Francisco. É o significado mais profundo do livro “O nome de Deus é
Misericórdia” nascido da entrevista, ou melhor, como precisou Pe.
Lombardi, da conversação do Pontífice com o vaticanista Tornielli.
Publicado no Ano Santo, o volume – editado em 86 países – representa,
segundo o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, um valioso subsídio
para o Jubileu da Misericórdia:
"Este livro-conversação é preciosíssimo justamente no
contexto deste Ano jubilar. Com esse livro-conversação temos a sua
experiência da misericórdia, em sua vida sacerdotal, em seu ministério,
em sua espiritualidade.”
“Quem está em busca de revelações – disse o Cardeal Parolin em sua
fala – talvez fique desiludido”. Efetivamente, o volume quer “tomar o
leitor pela mão para entrar no mistério da Misericórdia, que é a
carteira de identidade do cristão”, ressaltou o purpurado.
“O volume, que é de fácil leitura, tem uma característica que é
peculiar de seu autor principal, ou seja, o Papa. De fato, é um livro
que abre portas, que quer mantê-las abertas e pretende indicar
possibilidades; que deseja fazer resplendecer, ou ao menos mostrar, o
dom gratuito da infinita misericórdia de Deus, “sem o qual o mundo não
existiria” – como disse uma vez uma anciã ao então Dom Bergoglio, pouco
após tornar-se bispo auxiliar de Buenos Aires.”
O livro, acrescentou o cardeal, não dá respostas definitivas, nem
entra na casuística, mas “alarga o olhar ao encontro com o amor infinito
de Deus” que supera as lógicas humanas.
E recordou que Francisco não somente nos recorda que vivemos num
mundo que perdeu o sentido do pecado, mas que cada vez mais precisa de
misericórdia.
Em seguida, o Cardeal Parolin evidenciou a importância da
misericórdia não somente na conversão pessoal, mas também nas relações
entre os Estados e os povos. O Papa Francisco tem convicção disso, disse
o purpurado, como o tinha São João Paulo II, em particular, após os
atentados de 11 de setembro:
“A mensagem do Papa, a mensagem cristã da misericórdia e do
perdão, as muitas portas santas que são escancaradas, o chamado a
deixar-se abraçar pelo amor de Deus é algo que não diz respeito somente à
conversão de cada um de nós, à salvação da alma de cada pessoa; é algo
que nos diz respeito também como povo, como sociedade, como país e pode
ajudar-nos a construir relações novas e mais fraternas porque quem
experimentou em si a abundância da graça no abraço de misericórdia, quem
foi e continua sendo perdoado, pode restituir ao menos um pouco daquilo
que gratuitamente recebeu.”
É um livro comovente porque mostra que o abraço de Jesus nos levanta
se nos abandonamos ao amor de Deus, disse ainda o Cardeal Secretário de
Estado.
A participação sucessiva suscitou comoção: o testemunho de Zhang
Agostino Jianquing, jovem encarcerado de origem chinesa, detido em Pádua
– nordeste da Itália –, que contou como após anos de violência
encontrou a fé propriamente no cárcere, através de um voluntário que o
levou ao encontro com o Senhor:
“Após o Batismo entendi toda a misericórdia da qual fui
objeto, mesmo quando não me dava conta disso. E este livro do Papa
Francisco ajudou-me a compreender melhor aquilo que aconteceu comigo.
Eis o motivo do nome ‘Zhang Agostino: Agostino porque pensando em Santo
Agostinho, em sua história, comoveu-me particularmente sua mãe, Santa
Mônica, por todas as lágrimas que derramou por seu filho, esperando
reencontrar o filho perdido. É de certo modo como a minha situação:
pensando em minha mãe e no rio de lágrimas que derramou por mim,
esperando que eu pudesse reencontrar o sentido da minha vida.”
Em seguida, com palavras comoventes, Zhang Agostinho agradeceu ao
Papa, a quem pôde encontrar propriamente com a publicação do livro, por
sua constante atenção e cuidado para com os encarcerados:
“Caro Papa Francisco, obrigado pelo afeto e a ternura que
jamais deixa de nos testemunhar. Obrigado por seu incansável testemunho.
Obrigado pelas páginas deste livro das quais emerge o coração de um
pastor misericordioso. E nós o recordamos sempre em nossas orações.”
Da comoção suscitada pelo detento passou-se à alegria contagiante: a
última participação, muito aguardada, foi a do ator e diretor
cinematográfico Roberto Benigni, que arrancou o efusivo aplauso dos
presentes. O ator iniciou ressaltando os sentimentos que teve com a
leitura do livro:
“É um livro – digamos – que nos acaricia, que nos abraça, que
nos ‘misericordia’, que é um termo inventado pelo Papa. Misericórdia –
atenção! – não é uma virtude assim, que está sentada na poltrona... é
uma virtude ativa, que se move: olhem para o Papa, jamais está parado!
Move não somente o coração, mas também os braços, as pernas, os
calcanhares, os joelhos, move o corpo e a alma, jamais está parado! Vai
ao encontro dos míseros, da pobreza, não fica parado um segundo...”
Benigni prosseguiu sua reflexão sobre a Misericórdia evidenciando que
esta, junto ao perdão, é a mensagem mais forte que está emergindo do
Pontificado de Francisco.
“E a misericórdia para Francisco – atenção! – não é uma visão
adocicada, condescendente ou, pior ainda, ‘bondosista’ da vida: não! É
uma virtude severa, é um verdadeiro desafio, mas não somente
religioso-teológico: é um desafio social, político! Aquilo que Francisco
está fazendo é impressionante. E o que Francisco faz para vencer esse
desafio, digamos, incrível? O que é que lhe dá forças? É propriamente a
medicina da misericórdia. Vejam só, ele vai buscá-la entre os
derrotados, entre os últimos dos últimos. Aonde foi publicamente quando
começou seu Pontificado? Foi a Lampedusa, propriamente aonde chegam os
últimos dos últimos. E onde abriu a Porta Santa do Jubileu? Na República
Centro-Africana, em Bangui, no lugar mais pobre dos pobres dos pobres
do mundo: justamente no lugar mais pobre Francisco vai ao encontro da
proximidade, da dor do mundo, do sofrimento, porque ali, no meio da dor
nasce a misericórdia.”
Num mundo que pede a condenação, ressaltou Benigni, Francisco quer,
ao invés, a misericórdia. E não vê contraposição com a justiça:
“E então, diz, porém, se se perdoa tudo, para que serve a
justiça? Mas a misericórdia – nos diz o Papa Francisco – é a justiça
maior. A justiça é o mínimo da misericórdia. A misericórdia não elimina a
justiça: não a suprime, não a corrompe. Vai além. Um mundo somente com a
justiça seria um mundo frio, não? E se sente que o homem não precisa
somente de justiça: precisa também de algo diferente. No livro se sente
que Francisco nos faz perceber exatamente isso, porque a misericórdia é
propriamente a fonte de seu Pontificado...”
Por fim, o autor do livro com o Papa, o vaticanista do diário “La
Stampa” Andrea Tornielli agradeceu aos que – a começar pelo editor –
acreditaram neste projeto editorial e quis unir a figura de Bergoglio à
de São João XXIII, que sabia olhar com misericórdia para os pecadores,
abraçando todos, inclusive os encarcerados, como faz hoje o Papa
Francisco.”
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