(RV) Concluiu-se
com uma Missa pela paz e reconciliação, na Catedral de Seul, a visita
que o Papa Francisco realizou à Coreia desde quinta-feira passada.
Eram 6 horas desta manhã em Roma (13 horas na Coreia) quando o avião da Linhas Aéreas Coreanas descolou do aeroporto de Seul, com o Papa Francisco, a comitiva e largas dezenas de jornalistas. A chegada ao aeroporto romano de Ciampino está prevista para as 17.45 desta tarde, após um voo de cerca de 12 horas.
Na homelia da Missa desta manhã, o Papa encorajou os fiéis coreanos a serem testemunhas do Evangelho na sociedade do país, nomeadamente pela atenção e empenho a favor dos mais desfavorecidos. e no exercício do perdão. Eis o texto integral das palavras pronunciadas pelo Papa:
Queridos irmãos e irmãs!
A minha estadia na Coreia está a chegar ao fim e não posso deixar de agradecer a Deus pelas muitas bênçãos que concedeu a este amado país e, de maneira particular, à Igreja na Coreia. De entre tais bênçãos, conservo de modo especial a experiência, que vivemos juntos nestes últimos dias, da presença de tantos jovens peregrinos originários de todas as partes da Ásia. O seu amor por Jesus e o seu entusiasmo pela propagação do seu Reino foram uma inspiração para todos.
A minha visita culmina agora nesta celebração da Santa Missa, em que imploramos de Deus a graça da paz e da reconciliação. Esta oração reveste-se de particular ressonância na Península Coreana. A Missa de hoje é, sobretudo e principalmente, uma oração pela reconciliação nesta família coreana. Jesus diz-nos, no Evangelho, como é poderosa a nossa oração, quando dois ou três se reúnem em seu nome para pedir qualquer coisa (cf. Mt 18, 19-20). Muito mais o será, quando um povo inteiro eleva a sua instante súplica ao céu!
A primeira leitura apresenta a promessa feita por Deus de restaurar na unidade e na prosperidade um povo disperso pela desgraça e a divisão. Para nós, como para o povo de Israel, é uma promessa cheia de esperança: indica um futuro que Deus está desde já a preparar para nós. Mas esta promessa está inseparavelmente ligada com um mandamento: o mandamento de retornar a Deus e obedecer de todo o coração à sua lei (cf. Dt 30, 2-3). O dom divino da reconciliação, da unidade e da paz está inseparavelmente ligado à graça da conversão: trata-se de uma transformação do coração, que pode mudar o curso da nossa vida e da nossa história, como indivíduos e como povo.
Nesta Missa, naturalmente escutamos essa promessa no contexto da experiência histórica do povo coreano, uma experiência de divisão e conflito que já dura há mais de 60 anos. Mas o premente convite de Deus à conversão chama também os seguidores de Cristo na Coreia a examinarem-se sobre a qualidade da sua contribuição para a construção duma sociedade justa e humana. Chama cada um de vós a reflectir sobre o testemunho que dá, como indivíduo e como comunidade, de compromisso evangélico com os desfavorecidos, os marginalizados, com aqueles que não têm emprego ou estão excluídos da prosperidade que muitos usufruem. Chama-vos, como cristãos e como coreanos, a repelir com firmeza uma mentalidade fundada sobre a suspeita, a confrontação e a competição, optando antes por favorecer uma cultura plasmada pelo ensinamento do Evangelho e pelos mais nobres valores tradicionais do povo coreano.
No Evangelho de hoje, Pedro pergunta ao Senhor: «Quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» O Senhor responde: «Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 21-22). Estas palavras tocam o coração da mensagem de reconciliação e de paz indicada por Jesus. Obedientes ao seu mandamento, pedimos diariamente ao nosso Pai do Céu que perdoe os nossos pecados, «assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Mas, se não estivéssemos prontos a fazer o mesmo, como poderíamos honestamente rezar pela paz e a reconciliação?
Jesus pede-nos para acreditar que o perdão é a porta que leva à reconciliação. Quando nos manda perdoar aos nossos irmãos sem qualquer reserva, pede-nos para fazer algo de totalmente radical, mas dá-nos também a graça de o cumprir. Aquilo que, visto duma perspectiva humana, parece ser impossível, impraticável e às vezes até repugnante, Jesus torna-o possível e frutuoso com a força infinita da sua cruz. A cruz de Cristo revela o poder que Deus tem de superar toda a divisão, curar toda a ferida e restaurar os vínculos originais de amor fraterno.
Assim, a mensagem que vos deixo no final da minha visita a Coreia é esta: tende confiança na força da cruz de Cristo; acolhei nos vossos corações a sua graça reconciliadora e partilhai-a com os outros. Peço-vos que deis um testemunho convincente da mensagem reconciliadora de Cristo nas vossas casas, nas vossas comunidade e em todas as esferas da vida nacional. Estou confiante que vós, num espírito de amizade e cooperação com os outros cristãos, com os seguidores de outras religiões e com todos os homens e mulheres de boa vontade que têm a peito o futuro da sociedade coreana, sereis fermento do Reino de Deus nesta terra. Então as nossas orações pela paz e a reconciliação subirão até Deus de corações mais puros e, pelo dom da sua graça, hão-de alcançar aquele bem precioso por que todos suspiramos.
Por isso, rezemos pelo aparecimento de novas oportunidades de diálogo, encontro e superação das diferenças, por uma incessante generosidade na prestação de assistência humanitária aos necessitados, e por um reconhecimento sempre mais vasto de que todos os coreanos são irmãos e irmãs, membros duma única família e dum único povo.
Antes de deixar a Coreia, quero agradecer à Senhora Presidente da República, às Autoridades civis e eclesiásticas e a todos aqueles que de alguma forma ajudaram a tornar possível esta visita. De modo especial, quero dirigir uma palavra de gratidão pessoal aos sacerdotes da Coreia, que diariamente se empenham no serviço do Evangelho e na edificação da fé, da esperança e da caridade do Povo de Deus. A vós, como embaixadores de Cristo e ministros do seu amor de reconciliação (cf. 2 Cor 5, 18-20), peço que continueis a construir laços de respeito, confiança e cooperação harmoniosa nas vossas paróquias, entre vós e com os vossos Bispos. O vosso exemplo de um amor sem reservas ao Senhor, a vossa fidelidade e dedicação ao ministério, bem como o vosso empenhamento caritativo com os necessitados contribuem enormemente para a obra de reconciliação e paz neste país.
Queridos irmãos e irmãs, Deus chama-nos a voltar para Ele e a escutar a sua voz, e promete estabelecer-nos sobre a terra numa paz e prosperidade maiores, como os nossos antepassados nunca conheceram. Possam os seguidores de Cristo na Coreia preparar a alvorada daquele dia novo em que esta terra do calmo amanhecer gozará das mais ricas bênçãos divinas de harmonia e de paz! Ámen
Eram 6 horas desta manhã em Roma (13 horas na Coreia) quando o avião da Linhas Aéreas Coreanas descolou do aeroporto de Seul, com o Papa Francisco, a comitiva e largas dezenas de jornalistas. A chegada ao aeroporto romano de Ciampino está prevista para as 17.45 desta tarde, após um voo de cerca de 12 horas.
Na homelia da Missa desta manhã, o Papa encorajou os fiéis coreanos a serem testemunhas do Evangelho na sociedade do país, nomeadamente pela atenção e empenho a favor dos mais desfavorecidos. e no exercício do perdão. Eis o texto integral das palavras pronunciadas pelo Papa:
Queridos irmãos e irmãs!
A minha estadia na Coreia está a chegar ao fim e não posso deixar de agradecer a Deus pelas muitas bênçãos que concedeu a este amado país e, de maneira particular, à Igreja na Coreia. De entre tais bênçãos, conservo de modo especial a experiência, que vivemos juntos nestes últimos dias, da presença de tantos jovens peregrinos originários de todas as partes da Ásia. O seu amor por Jesus e o seu entusiasmo pela propagação do seu Reino foram uma inspiração para todos.
A minha visita culmina agora nesta celebração da Santa Missa, em que imploramos de Deus a graça da paz e da reconciliação. Esta oração reveste-se de particular ressonância na Península Coreana. A Missa de hoje é, sobretudo e principalmente, uma oração pela reconciliação nesta família coreana. Jesus diz-nos, no Evangelho, como é poderosa a nossa oração, quando dois ou três se reúnem em seu nome para pedir qualquer coisa (cf. Mt 18, 19-20). Muito mais o será, quando um povo inteiro eleva a sua instante súplica ao céu!
A primeira leitura apresenta a promessa feita por Deus de restaurar na unidade e na prosperidade um povo disperso pela desgraça e a divisão. Para nós, como para o povo de Israel, é uma promessa cheia de esperança: indica um futuro que Deus está desde já a preparar para nós. Mas esta promessa está inseparavelmente ligada com um mandamento: o mandamento de retornar a Deus e obedecer de todo o coração à sua lei (cf. Dt 30, 2-3). O dom divino da reconciliação, da unidade e da paz está inseparavelmente ligado à graça da conversão: trata-se de uma transformação do coração, que pode mudar o curso da nossa vida e da nossa história, como indivíduos e como povo.
Nesta Missa, naturalmente escutamos essa promessa no contexto da experiência histórica do povo coreano, uma experiência de divisão e conflito que já dura há mais de 60 anos. Mas o premente convite de Deus à conversão chama também os seguidores de Cristo na Coreia a examinarem-se sobre a qualidade da sua contribuição para a construção duma sociedade justa e humana. Chama cada um de vós a reflectir sobre o testemunho que dá, como indivíduo e como comunidade, de compromisso evangélico com os desfavorecidos, os marginalizados, com aqueles que não têm emprego ou estão excluídos da prosperidade que muitos usufruem. Chama-vos, como cristãos e como coreanos, a repelir com firmeza uma mentalidade fundada sobre a suspeita, a confrontação e a competição, optando antes por favorecer uma cultura plasmada pelo ensinamento do Evangelho e pelos mais nobres valores tradicionais do povo coreano.
No Evangelho de hoje, Pedro pergunta ao Senhor: «Quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» O Senhor responde: «Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 21-22). Estas palavras tocam o coração da mensagem de reconciliação e de paz indicada por Jesus. Obedientes ao seu mandamento, pedimos diariamente ao nosso Pai do Céu que perdoe os nossos pecados, «assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Mas, se não estivéssemos prontos a fazer o mesmo, como poderíamos honestamente rezar pela paz e a reconciliação?
Jesus pede-nos para acreditar que o perdão é a porta que leva à reconciliação. Quando nos manda perdoar aos nossos irmãos sem qualquer reserva, pede-nos para fazer algo de totalmente radical, mas dá-nos também a graça de o cumprir. Aquilo que, visto duma perspectiva humana, parece ser impossível, impraticável e às vezes até repugnante, Jesus torna-o possível e frutuoso com a força infinita da sua cruz. A cruz de Cristo revela o poder que Deus tem de superar toda a divisão, curar toda a ferida e restaurar os vínculos originais de amor fraterno.
Assim, a mensagem que vos deixo no final da minha visita a Coreia é esta: tende confiança na força da cruz de Cristo; acolhei nos vossos corações a sua graça reconciliadora e partilhai-a com os outros. Peço-vos que deis um testemunho convincente da mensagem reconciliadora de Cristo nas vossas casas, nas vossas comunidade e em todas as esferas da vida nacional. Estou confiante que vós, num espírito de amizade e cooperação com os outros cristãos, com os seguidores de outras religiões e com todos os homens e mulheres de boa vontade que têm a peito o futuro da sociedade coreana, sereis fermento do Reino de Deus nesta terra. Então as nossas orações pela paz e a reconciliação subirão até Deus de corações mais puros e, pelo dom da sua graça, hão-de alcançar aquele bem precioso por que todos suspiramos.
Por isso, rezemos pelo aparecimento de novas oportunidades de diálogo, encontro e superação das diferenças, por uma incessante generosidade na prestação de assistência humanitária aos necessitados, e por um reconhecimento sempre mais vasto de que todos os coreanos são irmãos e irmãs, membros duma única família e dum único povo.
Antes de deixar a Coreia, quero agradecer à Senhora Presidente da República, às Autoridades civis e eclesiásticas e a todos aqueles que de alguma forma ajudaram a tornar possível esta visita. De modo especial, quero dirigir uma palavra de gratidão pessoal aos sacerdotes da Coreia, que diariamente se empenham no serviço do Evangelho e na edificação da fé, da esperança e da caridade do Povo de Deus. A vós, como embaixadores de Cristo e ministros do seu amor de reconciliação (cf. 2 Cor 5, 18-20), peço que continueis a construir laços de respeito, confiança e cooperação harmoniosa nas vossas paróquias, entre vós e com os vossos Bispos. O vosso exemplo de um amor sem reservas ao Senhor, a vossa fidelidade e dedicação ao ministério, bem como o vosso empenhamento caritativo com os necessitados contribuem enormemente para a obra de reconciliação e paz neste país.
Queridos irmãos e irmãs, Deus chama-nos a voltar para Ele e a escutar a sua voz, e promete estabelecer-nos sobre a terra numa paz e prosperidade maiores, como os nossos antepassados nunca conheceram. Possam os seguidores de Cristo na Coreia preparar a alvorada daquele dia novo em que esta terra do calmo amanhecer gozará das mais ricas bênçãos divinas de harmonia e de paz! Ámen
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