(RV) A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou nesta quinta-feira, dia 31 de julho o programa da Viagem Apostólica que o Papa Francisco fará à Albânia no próximo dia 21 de setembro A esse propósito, o nosso colega do Programa Albanês, Marjan Paloka, entrevistou o arcebispo de Tirana, D. Rrok Mirdita, a quem perguntou com que sentimento a Igreja na Albânia aguarda este encontro com o Papa Francisco. Ouçamos as suas declarações:
"Com sentimentos de gratidão. A nossa Igreja é bem radicada no território e permaneceu profundamente unida ao povo, ao longo de todo o curso da história e, sendo uma Igreja pequena, sempre olhou para Roma com afeto, vivendo assim a sua vocação à catolicidade. Foi através da comunhão com o Sucessor de Pedro e a fidelidade a ele que o nosso povo viveu a pertença à Igreja universal, inclusive nos momentos em que o Sucessor de Pedro e a Igreja universal eram considerados inimigos na pátria. Penso na longa perseguição religiosa sob o regime comunista, mas também em outros momentos do passado. Agora é o Sucessor de Pedro que olha para nós e vem encontrar-nos, para confirmar-nos na fé e para fazer homenagem ao martírio e ao sofrimento dos católicos, mas não só. A Igreja na Albânia espera-o com alegria e afeto, mas também as outras religiões e não-fiéis têm grande estima e apreço por ele."
Na Albânia, a perseguição ateia reforçou a comunhão entre as religiões. Recordamos que as quatro comunidades religiosas principais: muçulmanos sunitas, ortodoxos, católicos e muçulmanos bektashi convivem de modo pacífico. A este propósito D. Mirdita considera que a Albânia oferece um modelo exemplar de convivência pacífica entre as religiões:
"Após a queda do comunismo havia quem defendesse a hipótese de que com a liberdade de religião surgiriam tensões inter-religiosas, mas não houve nada disso. A Albânia oferece um modelo exemplar de convivência pacífica. Não digo que se tenha chegado a essa harmonia sem sacrifício, mas os sacrifícios feitos ao longo da história deram frutos de paz, dos quais hoje desfrutam todos os cidadãos no país. Os albaneses aprenderam, ao longo dos séculos, que se pode ser plenamente fiéis à própria religião no pleno respeito da religião dos outros. Não se pode agradar a Deus violando os direitos dos irmãos, mas pode-se honrar a Deus, também em público, sem com isso invadir o espaço dos outros. Portanto, o Papa Francisco encontrará na Albânia um modelo exemplar de convivência pacífica entre as religiões."
Passaram-se 21 anos desde a visita do Papa João Paulo II: como a Igreja e a sociedade albanesa mudaram, desde então?
"A visita de S. João Paulo II foi como uma carícia no corpo atormentado da igreja martirizada. Foi um dia de luz para toda a nação. Ele reconstituiu a hierarquia eclesiástica e consagrou os primeiros quatro bispos. Através daquela invocação ao Espírito Santo para a consagração dos bispos, um dos quais era eu, todo o corpo eclesial foi reanimado. Durante estas duas décadas a Igreja mudou muito. Temos um clero autóctone, religiosos e religiosas albaneses que auxiliam muitos missionários que trabalharam com generosidade, mas que aos poucos passam o bastão às novas gerações albanesas. Temos leigos engajados na Igreja e na sociedade. Prestamos, como Igreja, muitos serviços no campo social, mas corremos também o risco de nos tornarmos numa Igreja estática, sedentária. Agora, a visita do Papa Francisco traz nova frescura, mexe com as nossas comodidades e faz-nos reviver a permanente novidade do Evangelho. Também a sociedade mudou muito, mas alguns desafios permanecem os mesmos, como a corrupção, pobreza, desemprego, criminalidade organizada e a justiça."
A visita a Tirana será a primeira viagem apostólica do Papa Francisco no continente europeu. Nesse caso, pode-se dizer que o Papa começa de uma periferia da Europa?
"Se se entende por centro o bem-estar material, sim, a Albânia é uma periferia da Europa, mas o nosso país é rico de outros valores. Temos a população mais jovem do continente – apesar dos fluxos migratórios, temos uma família ainda forte, na qual os anciãos são respeitados, ouvidos e são bem tratados. Temos a preciosa convivência pacífica entre as religiões e, apesar do trauma da ditadura e do grande sofrimento do passado recente, não caímos na cilada de uma nova luta entre classes e mantivemos a paz social. Então pode-se dizer que o Papa Francisco entra no continente europeu através do encontro com um povo que não é abastado, que sofreu muito, mas que também tem muito a dar à Europa." (RL/RS)
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