(RV) “Ofereçamos
esta Missa pelos nossos 21 irmãos coptas, degolados pelo único motivo
de serem cristãos”: assim, o Papa iniciou a missa desta terça-feira
(17/02), celebrada na capela da Casa Santa Marta.“Rezemos
por eles, para que o Senhor os acolha como mártires, por suas famílias,
pelo meu irmão Tawadros, que tanto sofre”, disse Francisco, que citou o
Salmo 31: “Javé, eu me abrigo em ti. Sê para mim um forte rochedo, uma
casa fortificada que me salve; guia-me por teu nome”.
O Papa desenvolveu a sua homilia a
partir do trecho do Gênesis, que mostra a ira de Deus pela maldade do
homem e que preanuncia o dilúvio universal. O homem, constatou o Papa
Francisco com pesar, “parece ser mais poderoso do que Deus”, “é capaz de
destruir as coisas boas que Ele fez”.
Nos primeiros capítulos da Bíblia,
prosseguiu, há muitos exemplos – de Sodoma e Gomorra à Torre de Babel –
em que o homem mostra a sua maldade. Um mal, disse, que se aninha no
íntimo do coração:
“‘Mas padre, não seja tão negativo!’,
alguém dirá. Mas esta é a verdade. Somos capazes de destruir inclusive a
fraternidade: Caim e Abel nas primeiras páginas da Bíblia. Destrói a
fraternidade. É o início das guerras. Os ciúmes, as invejas, tanta
avidez de poder, de ter mais poder. Sim, isso parece negativo, mas é
realista. Peguem um jornal, um qualquer – de esquerda, de centro, de
direita...qualquer um. E vejam que mais de 90% das notícias são de
destruição. Mais de 90%. E isso o vemos todos os dias”.
“Mas o que acontece no coração do
homem?”, perguntou-se Francisco. Jesus, disse ele, nos recorda que “do
coração do homem saem todas as maldades”. Há sempre uma “vontade de
autonomia”: “eu faço o que quero e se eu quiser isso, o faço! E se para
isso tiver que fazer uma guerra, eu faço!”:
“Mas por que somos assim? Porque
temos essas possibilidade de destruição, este é o problema. Depois, nas
guerras, no tráfico de armas... ‘Mas somos empresários!’. Sim, do quê?
De morte? E há países que vendem as armas a este, que está em guerra com
aquele, e vendem também àquele, para que assim a guerra continue.
Capacidade de destruição. E isso não vem do próximo: de nós! ‘Todo
desígnio do seu coração era continuamente mau’. Nós temos esta semente
dentro, esta possibilidade. Mas temos também o Espírito Santo que nos
salva, eh! Mas devemos escolher, nas pequenas coisas”.
O Papa então advertiu para as
bisbilhotices, de quem fala mal do próximo: “também na paróquia, nas
associações”, quando há “ciúme” e “invejas” e talvez se conta tudo para o
pároco. “Isso – advertiu – é malvadade, é a capacidade de destruição
que todos nós temos”. E sobre isso, “a Igreja, às portas da Quaresma,
nos faz refletir”.
O Papa citou em seguida o Evangelho do dia, em que Jesus repreende os
discípulos que brigam entre si porque se esqueceram de pegar o pão. O
Senhor diz a eles que estejam “atentos” ao fermento dos fariseus, ao
fermento de Herodes. E cita o exemplo de duas pessoas: Herodes, que é
mau e assassino, e os fariseus hipócritas. Jesus os exorta a pensar na
salvação, àquilo que Deus fez por todos nós. Mas eles, retomou o Papa,
“não entendiam, porque o coração estava endurecido por esta paixão, por
esta maldade de discutir entre si e ver quem era o culpado por aquela
falta de pão”.
Devemos levar "a sério" a mensagem do
Senhor, disse ainda o Papa, "não se trata de coisas estranhas, este não
é o discurso de um “marciano", "o homem é capaz de fazer tanto bem". E
citou o exemplo de Madre Teresa, "uma mulher do nosso tempo". Todos nós,
disse, "somos capazes de fazer o bem, mas todos nós somos também
capazes de destruir; destruir no grande e no pequeno, na mesma família;
destruir os filhos", não deixá-los crescer “com liberdade, não
ajudando-os a crescer bem; cancelando os filhos”. Temos essa capacidade e
para isso, reiterou, "é necessária a meditação contínua, a oração, a
comparação entre nós, para não cair nesse mal que destrói tudo":
"E nós temos a força, Jesus nos
recorda. E hoje nos diz: 'Recorda-te. Recorda-te de Mim, que eu derramei
o meu sangue por ti; recorda-te de Mim que eu te salvei, eu salvei a
todos vós; Recorda-te de Mim, que Eu tenho a força para te acompanhar no
caminho da vida, não pelo caminho do mal, mas pelo caminho do bem, do
fazer o bem aos outros; não pelo caminho da destruição, mas pelo caminho
da construção: construir uma família, construir uma cidade, construir
uma cultura, construir uma pátria, mais e mais".
"Peçamos ao Senhor, hoje, esta graça
antes de começar a Quaresma - concluiu o Papa: sempre escolher bem o
caminho com a sua ajuda e não deixar-se enganar pelas seduções que nos
levam para o caminho errado". (SP/BF)
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