23 dezembro, 2013

CONTO DE NATAL 2013




Rodrigo estava feliz! Tinha conseguido, com grandes poupanças, marcar a viagem e o hotel para fazer a surpresa à Isabel, sua mulher.

Ela merecia tudo! Casados há mais de 35 anos, nunca tinham conseguido passar uns dias juntos, numa viagem ao estrangeiro, algo que ela tanto desejava.
Finalmente, com grandes esforços e algumas ajudas dos dois filhos, já casados, tinha sido possível comprar a viagem e pagar o hotel, para poderem passar uns dias no tempo do Natal, em Roma, a cidade dos sonhos da Isabel.
Era perfeito, pois como o dia 24 de Dezembro calhava numa segunda-feira, sairiam na sexta-feira anterior e estariam até quarta 26 em Roma, o que daria muito tempo para conhecer a cidade e, para além disso, (para eles católicos convictos e praticantes), tinha um sabor muito especial o facto de passarem o Natal em Roma.
Já tinha sabido da hora da Missa do Galo na Basílica Vaticana, com o Santo Padre, e portanto, tudo estava a concretizar-se para surpreender a Isabel com um belíssimo presente de Natal.

Tinha combinado com o filho e a filha, que este ano pela primeira vez desde que eram família, a noite de 24 não seria passada lá em casa, o que lhes iria custar muito, pois era uma tradição que os filhos mesmo depois de casados tinham feito questão de manter. A noite de 24 era sempre em casa do Rodrigo e Isabel, seus pais, e o dia 25 era sempre para as famílias dos seus sogros.
E era hoje quarta-feira, 19 de Dezembro, que iria desvendar o presente de Natal à Isabel. Não podia ser de outro modo para lhe dar tempo para tudo preparar para a viagem.

À hora de jantar, com um sorriso feliz na cara, Rodrigo disse a Isabel: Vou-te dar o presente de Natal hoje, e já vais perceber porquê!
Ela fitou-o com um ar totalmente surpreendido e pegou no envelope que ele lhe dava, todo decorado com motivos de Natal.
Abriu, leu, percebeu a viagem que lhe estava a ser dada como presente, levantou-se e abraçou longamente Rodrigo, a quem uma lágrima furtiva escorreu pelo rosto.
Deu-lhe um beijo e disse: Tu és doido! Isto custa um dinheirão, com certeza!
Ele respondeu que não se preocupasse com esse assunto, porque as poupanças já vinham de há muito tempo para a concretização deste presente.
Isabel retorquiu de imediato: E os “miúdos”? Sim, lembra-te que a noite de Natal é sempre cá em casa!
Tivessem que idade tivessem, com filhos ou não, (que por acaso já tinham), os filhos seriam sempre os “miúdos”.
Rodrigo respondeu-lhe: Tudo tratado com eles! Decidiram que para não perderem a tradição da família, vão passar ambos a noite de Natal em casa do Pedro, (o mais velho), e só no dia 25 vão como sempre para casa dos seus sogros.

Num instante chegou sexta-feira, e num “piscar de olhos” viram-se sábado a passear por Roma, visitando monumentos, percorrendo as ruas carregadas de história e era visível a felicidade de Isabel por estar finalmente na cidade dos seus sonhos.
Jantaram num belo restaurante como dois namorados e dormiram como crianças felizes.

No Domingo, durante o pequeno-almoço, parecia a Rodrigo que algo tinha mudado em Isabel. Não parecia tão feliz, tão alegre, tão entusiasmada.
Deixou passar algum tempo, mas à hora de almoço era visível que algo não estava bem com ela e por isso perguntou-lhe: O que se passa Isabel? Há alguma coisa que não esteja a correr bem? Estás doente?
Ela respondeu que não, que estava tudo bem, mas Rodrigo conhecia-a bem e sabia que algo a incomodava, de tal maneira que ela não conseguia gozar a viagem, a estadia na sua amada Roma.

Após muita insistência, Isabel abriu-se e disse: Não consigo imaginar-me a passar a noite de Natal sem os nossos filhos e netos! Tenho tentado afastar de mim essa ideia, mas não consigo! Não te preocupes, que isto passa.
Rodrigo nada respondeu. Deu-lhe apenas um beijo amoroso e passado pouco tempo, no final do almoço, disse ter de ir à recepção do hotel confirmar o passeio da tarde e os sítios a visitar.
Regressou pouco depois com um sorriso de garoto na cara e disse a Isabel: Está tudo tratado!
Ela perguntou: Então onde vamos esta tarde?
Rodrigo respondeu: Vamos fazer as malas, porque o avião para Lisboa é amanhã muito cedo!
Ela protestou, ralhou, disse milhentas coisas, mas por dentro o seu coração exultava de alegria. Ele fez questão de lhe dizer que também a ele lhe custava muito não passar a noite de Natal como sempre, mas tinha assim decidido apenas para lhe agradar.

Às 13 horas de segunda-feira já estavam a telefonar para o Pedro e a Luísa, (seus filhos), a dizer: A noite de Natal é cá em casa! Tragam o que tinham preparado e nós juntamos algumas coisas que já fomos comprar.
Agora foram os filhos a ficar surpreendidos, mas para além dos protestos que de imediato expressaram, estavam no fundo felicíssimos por poderem passar aquela noite de 24 de Dezembro com os seus pais.
Chegou a noite, encheu-se a casa, veio a Missa do Galo e passado pouco tempo todos estavam à volta da mesa para a ceia.
Mas antes, e como sempre, Rodrigo fez a oração, reunidos à volta do presépio como todos os anos fazia naquela Santa Noite.

Obrigado, Jesus, porque nos destes tanto e continuas a dar. Obrigado por nos teres trazido de volta a nossa casa para podermos estar com os filhos, nora, genro e netos reunidos em família. Obrigado, Jesus, porque o Natal assim é mais Natal. Dá-nos mais um Natal, e depois mais e mais um, conforme a Tua vontade. Abençoa, Jesus, a nossa família e todas as famílias, e abençoa todos os homens e mulheres de boa vontade. Amen.

A meio da ceia, com a alegria jorrando a rodos, ouviu-se por cima do barulho de todas as vozes a voz do Manel, o neto mais novo de 4 anos apenas:
É tão bom o Natal em família!

Marinha Grande, Natal de 2013
Joaquim Mexia Alves
Que é a verdade?

Com este Conto de Natal deste ano de 2013, quero desejar a todas amigas e amigos que por aqui passam, e suas famílias, um Santo Natal, no amor e na paz de Jesus.
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