Rodrigo estava feliz! Tinha conseguido, com grandes
poupanças, marcar a viagem e o hotel para fazer a surpresa à Isabel, sua
mulher.
Ela merecia tudo! Casados há mais de 35 anos, nunca tinham
conseguido passar uns dias juntos, numa viagem ao estrangeiro, algo que ela
tanto desejava.
Finalmente, com grandes esforços e algumas ajudas dos dois
filhos, já casados, tinha sido possível comprar a viagem e pagar o hotel, para
poderem passar uns dias no tempo do Natal, em Roma, a cidade dos sonhos da
Isabel.
Era perfeito, pois como o dia 24 de Dezembro calhava numa
segunda-feira, sairiam na sexta-feira anterior e estariam até quarta 26 em
Roma, o que daria muito tempo para conhecer a cidade e, para além disso, (para
eles católicos convictos e praticantes), tinha um sabor muito especial o facto
de passarem o Natal em Roma.
Já tinha sabido da hora da Missa do Galo na Basílica
Vaticana, com o Santo Padre, e portanto, tudo estava a concretizar-se para
surpreender a Isabel com um belíssimo presente de Natal.
Tinha combinado com o filho e a filha, que este ano pela
primeira vez desde que eram família, a noite de 24 não seria passada lá em
casa, o que lhes iria custar muito, pois era uma tradição que os filhos mesmo
depois de casados tinham feito questão de manter. A noite de 24 era sempre em
casa do Rodrigo e Isabel, seus pais, e o dia 25 era sempre para as famílias dos
seus sogros.
E era hoje quarta-feira, 19 de Dezembro, que iria desvendar
o presente de Natal à Isabel. Não podia ser de outro modo para lhe dar tempo
para tudo preparar para a viagem.
À hora de jantar, com um sorriso feliz na cara, Rodrigo
disse a Isabel: Vou-te dar o presente de Natal hoje, e já vais perceber porquê!
Ela fitou-o com um ar totalmente surpreendido e pegou no
envelope que ele lhe dava, todo decorado com motivos de Natal.
Abriu, leu, percebeu a viagem que lhe estava a ser dada como
presente, levantou-se e abraçou longamente Rodrigo, a quem uma lágrima furtiva
escorreu pelo rosto.
Deu-lhe um beijo e disse: Tu és doido! Isto custa um
dinheirão, com certeza!
Ele respondeu que não se preocupasse com esse assunto,
porque as poupanças já vinham de há muito tempo para a concretização deste
presente.
Isabel retorquiu de imediato: E os “miúdos”? Sim, lembra-te
que a noite de Natal é sempre cá em casa!
Tivessem que idade tivessem, com filhos ou não, (que por
acaso já tinham), os filhos seriam sempre os “miúdos”.
Rodrigo respondeu-lhe: Tudo tratado com eles! Decidiram que
para não perderem a tradição da família, vão passar ambos a noite de Natal em
casa do Pedro, (o mais velho), e só no dia 25 vão como sempre para casa dos
seus sogros.
Num instante chegou sexta-feira, e num “piscar de olhos”
viram-se sábado a passear por Roma, visitando monumentos, percorrendo as ruas
carregadas de história e era visível a felicidade de Isabel por estar
finalmente na cidade dos seus sonhos.
Jantaram num belo restaurante como dois namorados e dormiram
como crianças felizes.
No Domingo, durante o pequeno-almoço, parecia a Rodrigo que
algo tinha mudado em Isabel. Não parecia tão feliz, tão alegre, tão
entusiasmada.
Deixou passar algum tempo, mas à hora de almoço era visível
que algo não estava bem com ela e por isso perguntou-lhe: O que se passa
Isabel? Há alguma coisa que não esteja a correr bem? Estás doente?
Ela respondeu que não, que estava tudo bem, mas Rodrigo
conhecia-a bem e sabia que algo a incomodava, de tal maneira que ela não
conseguia gozar a viagem, a estadia na sua amada Roma.
Após muita insistência, Isabel abriu-se e disse: Não consigo
imaginar-me a passar a noite de Natal sem os nossos filhos e netos! Tenho
tentado afastar de mim essa ideia, mas não consigo! Não te preocupes, que isto
passa.
Rodrigo nada respondeu. Deu-lhe apenas um beijo amoroso e
passado pouco tempo, no final do almoço, disse ter de ir à recepção do hotel
confirmar o passeio da tarde e os sítios a visitar.
Regressou pouco depois com um sorriso de garoto na cara e
disse a Isabel: Está tudo tratado!
Ela perguntou: Então onde vamos esta tarde?
Rodrigo respondeu: Vamos fazer as malas, porque o avião para
Lisboa é amanhã muito cedo!
Ela protestou, ralhou, disse milhentas coisas, mas por
dentro o seu coração exultava de alegria. Ele fez questão de lhe dizer que
também a ele lhe custava muito não passar a noite de Natal como sempre, mas
tinha assim decidido apenas para lhe agradar.
Às 13 horas de segunda-feira já estavam a telefonar para o
Pedro e a Luísa, (seus filhos), a dizer: A noite de Natal é cá em casa! Tragam
o que tinham preparado e nós juntamos algumas coisas que já fomos comprar.
Agora foram os filhos a ficar surpreendidos, mas para além
dos protestos que de imediato expressaram, estavam no fundo felicíssimos por
poderem passar aquela noite de 24 de Dezembro com os seus pais.
Chegou a noite, encheu-se a casa, veio a Missa do Galo e
passado pouco tempo todos estavam à volta da mesa para a ceia.
Mas antes, e como sempre, Rodrigo fez a oração, reunidos à
volta do presépio como todos os anos fazia naquela Santa Noite.
Obrigado, Jesus,
porque nos destes tanto e continuas a dar. Obrigado por nos teres trazido de
volta a nossa casa para podermos estar com os filhos, nora, genro e netos
reunidos em família. Obrigado, Jesus, porque o Natal assim é mais Natal. Dá-nos
mais um Natal, e depois mais e mais um, conforme a Tua vontade. Abençoa, Jesus,
a nossa família e todas as famílias, e abençoa todos os homens e mulheres de
boa vontade. Amen.
A meio da ceia, com a alegria jorrando a rodos, ouviu-se por
cima do barulho de todas as vozes a voz do Manel, o neto mais novo de 4 anos
apenas:
É tão bom o Natal em família!
Marinha Grande, Natal de 2013
Joaquim
Mexia AlvesQue é a verdade?
Com este Conto de Natal deste ano de 2013, quero desejar a todas amigas e amigos que por aqui passam, e suas famílias, um Santo Natal, no amor e na paz de Jesus.
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