14 agosto, 2014

Papa Francisco aos Bispos da Coreia: sede guardiães da memória e da esperança


(RV) O Papa Francisco encontra-se em Seul, por ocasião da sua terceira Viagem Apostólica, que o levou à Coreia do Sul. O segundo encontro do Papa, em terras coreanas, foi com as autoridades e diplomatas do país. De fato, ao deixar o Palácio Presidencial de Seul dirigiu-se à sede da Conferência Episcopal Coreana, onde se reuniu com todos os 35 Bispos das 16 dioceses existentes no país.

No discurso que pronunciou aos seus irmãos no episcopado, o Papa Francisco saudou e agradeceu a presença de todos e disse ser “uma bênção para ele estar ali e poder conhecer pessoalmente a vida dinâmica da Igreja na Coreia. Aos pastores presentes, o Papa recordou-lhes a sua missão de cuidar do rebanho do Senhor como guardiães das maravilhas que Ele realiza no seu povo. Cuidar do rebanho ou do povo de Deus é uma das tarefas específicas, confiadas a cada Bispo.

A seguir, o Santo Padre passou a refletir, como irmão no episcopado, sobre dois aspectos principais do cuidado do povo de Deus naquele país: ser “guardiães da memória” e “guardiães da esperança”. A beatificação de Paul Yun Ji-chung e dos seus companheiros, que o Papa vai presidir no próximo sábado em Seul, será uma ocasião para agradecer ao Senhor que, a partir das sementes lançadas pelos mártires, proporcionou uma colheita abundante de graça naquela terra. E o Papa explicou:

“Vós sois os descendentes dos mártires, herdeiros do seu heróico testemunho de fé em Cristo. Além disso, sois herdeiros de uma tradição extraordinária, que teve início e cresceu amplamente graças à fidelidade, a perseverança e o trabalho de gerações de leigos. É muito significativo o fato de que a história da Igreja na Coreia tenha começado com um encontro direto com a Palavra de Deus. A beleza intrínseca e a integridade da mensagem cristã, ou seja, o Evangelho e o seu apelo à conversão, à renovação interior e a uma vida de caridade, impressionaram a Yi Byeok e aos ilustres anciãos das primeiras gerações”.

Hoje, afirmou o Papa, a fecundidade do Evangelho na terra coreana e a grande herança transmitida pelos seus antepassados na fé podem-se reconhecer no florescimento de paróquias ativas e movimentos eclesiais, nos sólidos programas de catequese, na solicitude pastoral pelos jovens e nas escolas católicas, nos seminários e nas universidades. A Igreja na Coreia é estimada pelo seu papel na vida espiritual e cultural da nação e pelo seu vigoroso impulso missionário: de terra de missão, a Coreia tornou-se hoje terra de missionários; e a Igreja católica continua a se beneficiar de tantos sacerdotes e religiosos enviados pelo mundo. E, ao explicar o primeiro ponto da sua reflexão, o Papa disse:

Ser ‘guardiães da memória’ significa mais do que recordar e aprender com acontecimentos do passado; significa extrair os recursos espirituais para enfrentar, com clarividência e determinação, as esperanças, as promessas e os desafios do futuro. A vida e a missão da Igreja na Coreia não se medem, em última análise, em termos exteriores, quantitativos e institucionais; mas devem ser julgados à luz do Evangelho e do seu apelo à conversão da pessoa para Jesus Cristo. Ser guardiões da memória significa dar-se conta de que o crescimento vem de Deus e, ao mesmo tempo, é fruto de um trabalho paciente e perseverante, tanto no passado como no presente”.
A memória dos mártires e das gerações passadas de cristãos, afirmou ainda o Papa, deve ser realista, não idealizada nem ‘triunfalista’. Olhar para o passado, sem ouvir o chamamento de Deus à conversão, não nos ajuda a prosseguir na caminhada; pelo contrário, pode até acabar por impedir ou deter o nosso progresso espiritual.

Além de ser “guardiães da memória”, explicou o Santo Padre, vós sois chamados também a ser “guardiães da esperança”: a esperança oferecida pelo Evangelho da graça e da misericórdia de Deus em Jesus Cristo, a esperança que inspirou os mártires. É esta esperança que somos chamados a proclamar a um mundo que, apesar da sua prosperidade material, busca algo mais, algo maior, algo mais autêntico e que dá plenitude.

Vós e os irmãos sacerdotes ofereceis esta esperança com o vosso ministério de santificação, que não apenas conduz os fiéis às fontes da graça na liturgia e nos sacramentos, mas constantemente vos impele a agir em resposta a Deus. Por isso, o Papa exortou os pastores e o clero coreanos a manterem esta esperança e a chama da santidade, da caridade fraterna e do zelo missionário na comunhão eclesial. Por isso, o Pontífice convidou os Bispos a permanecerem sempre ao lado dos sacerdotes, encorajando-os no seu trabalho diário, na sua busca da santidade e na proclamação do Evangelho de salvação. O Papa transmitiu-lhes a sua saudação cordial e a sua gratidão pelo generoso serviço em favor do povo de Deus.

O Bispo de Roma prosseguiu dizendo que “se abraçarmos o desafio de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que sai constantemente para o mundo e, em particular, para as periferias da sociedade contemporânea, teremos necessidade de cultivar aquele ‘prazer espiritual’ que nos torna capazes de acolher e identificar-nos com cada membro do Corpo de Cristo.

Neste sentido, recordou o Papa, é preciso mostrar particular solicitude, nas nossas comunidades, pelas crianças e os idosos. A este respeito, quero pedir-vos que cuideis, de modo especial, da educação dos jovens, apoiando, na vossa indispensável missão, não apenas as universidades, mas também as escolas católicas, onde as mentes e os corações jovens são formados no amor de Deus e da sua Igreja, no bem, no verdadeiro e no belo, para serem bons cristãos e honestos cidadãos. E o Pontífice acrescentou:

“Ser guardiães da esperança implica também assegurar o testemunho profético da Igreja na Coreia, a fim de que continue a exprimir-se na sua solicitude pelos pobres e nos seus programas de solidariedade, especialmente em favor dos refugiados e migrantes e dos que vivem à margem da sociedade. Esta solicitude deveria manifestar-se, não apenas através de iniciativas concretas de caridade, muito necessárias, mas também do trabalho constante de promoção a nível social, ocupacional e educativo. Podemos correr o risco de reduzir o nosso compromisso com os necessitados simplesmente a uma dimensão assistencial, ignorando a necessidade de cada um de crescer como pessoa e exprimir com dignidade a sua própria personalidade, criatividade e cultura”.
A solidariedade para com os pobres deve ser considerada como um elemento essencial da vida cristã; através da pregação e da catequese, fundadas no rico património da Doutrina social da Igreja, esta solidariedade deve permear os corações e as mentes dos fiéis e refletir em todos os aspectos da vida eclesial. O ideal apostólico de uma Igreja pobre e para os pobres encontrou uma expressão eloquente nas primeiras comunidades cristãs desta nação.

Por isso, o Pontífice espera que este ideal continue a moldar o caminho da Igreja coreana na sua peregrinação para o futuro. Ele exprimiu a sua convicção de que, se o rosto do amor sobressair na Igreja, os jovens se sentirão sempre mais atraídos para o coração de Jesus, repleto de amor divino.

O Papa Francisco concluiu o seu longo discurso aos Bispos coreanos encorajando-os, com estas reflexões sobre a sua missão e como ‘guardiães da memória e da esperança’, a fomentar a unidade, a santidade e o zelo dos fiéis na Coreia. A memória e a esperança, concluiu, nos inspiram e nos guiam para o futuro. Possam as súplicas de Maria, Mãe da Igreja, levar ao seu pleno florescimento, nesta terra, as sementes lançadas pelos mártires, irrigadas por gerações de fiéis católicos e transmitidas a todos como uma promessa para o futuro do país e do mundo.

Ao término do encontro com os Bispos da Coreia, o Bispo de Roma retornou à Nunciatura Apostólica de Seul, concluindo assim o seu primeiro dia de atividades na Coreia do Sul.

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