20 agosto, 2014

Cardeal Filoni: o Papa dá voz aos iraquianos, que querem ser defendidos


(RV) Para o Cardeal Fernando Filoni, enviado pessoal do Papa Francisco no Iraque, são as últimas horas de missão naquele País martirizado. Nesta quarta-feira, de facto, regressará a Roma enquanto que, na terça-feira, 19, o purpurado teve um encontro com o Presidente iraquiano, Fuad Masum, a quem entregou uma carta do Papa Francisco. O Cardeal Filoni falou deste encontro numa entrevista com Alessandro Gisotti da RV, que o contactou por telefone em Bagdad:

O encontro foi muito cordial. Eu era acompanhado pelo Patriarca caldeu, o Patriarca Sako, pelo Núncio Apostólico e por Dom Warduni. Entreguei a carta, à qual o Presidente responderá; contei a ele um pouco a experiência destes dias e sublinhei que a minha visita não era política, mas era uma visita humanitária por desejo do Santo Padre e é por esta razão que fui antes de tudo a Erbil, onde a situação no Curdistão é ainda muito séria e grave, e posteriormente a Bagdad onde, teria este encontro”.

Obviamente uma carta do Santo Padre para o Presidente iraquiano justamente neste contexto de um empenho abrangente do Papa Francisco pela paz.......

“Isto está no coração, na mente e na ação pastoral do Papa. Portanto o Santo Padre, diante de uma situação de tão grave emergência, não poupa possibilidades de interferir, justamente para sublinhar o quanto esteja no seu coração esta situação em favor destes pobres. A questão aqui no Iraque não é somente uma tragédia para o povo iraquiano, para os nossos cristãos ou para os yazidi, mas é algo que diz respeito a todos os homens que têm a peito a humanidade. Pequenas ou grandes minorias, crenças diversas e religiões diferentes, não existe para ninguém um modo de pensar diferente de que somos todos ligados nesta mesma dignidade humana, que deve ser salvaguardada, defendida e incrementada”.

O Papa Francisco, na viagem de regresso da Coreia, no avião, na conferência de imprensa com os jornalistas, disse também: “eu estou disposto, ou melhor, teria gostado ir ao Iraque ... Mas estou disposto a ir, se isto for possível”...

“Conhecendo o coração, a mente e também o motivo pelo qual me enviava, não tinha dúvidas que se naquele momento ele tivesse podido, certamente não teria deixado de fazê-lo também diretamente, mesmo compreendendo as tantas situações que podem emergir disto. Portanto, vejo a confirmação de que a minha intuição não estava errada”.

O Papa também disse: “deter o injusto agressor é lícito”. Como foram acolhidas estas palavras no Iraque?

Eu acredito que o Santo Padre não tenha feito outra coisa senão expressar aquele que foi o pedido de todos os cristãos, de todos os yazidis, de todas estas pessoas refugiadas, que têm o desejo de retomar a sua vida, a sua dignidade. Ora, diante de uma situação assim precária – e gostaria de dizer também assim dura -, eu acredito que aqui não se trate de guerra: nós não podemos nunca ser favoráveis às guerras, porém existem conflitos onde defender os mais pobres – pensemos que os nossos cristãos não tinham armas, os yazidis não tinham armas – foram expulsos das suas terras, violentados na sua dignidade, roubados das suas famílias ... Portanto, podemos permanecer indiferentes? Assim, trata-se de direitos que devem ser defendidos por todas as pessoas de boa vontade. Cada um o deve fazer segundo a sua capacidade. O Santo Padre o faz com toda a sua capacidade espiritual e moral. Cada um, depois, a nível civil, a nível social, a nível de responsabilidade, deve fazer a sua parte. Num contexto que não se faz uma guerra, mas que o direito dos povos seja salvaguardado. Se nós não interviermos, teremos um genocídio e talvez algumas semanas após teríamos um remorso na consciência, como ocorreu no passado em algumas situações dramáticas na África, para não dizer também precedentemente e que ainda hoje se repetem em algumas situações, ainda na África. Não pensemos que, por exemplo, a situação dramática das cerca de 450 crianças roubadas de suas casas seja um fato terminado! Estes são aspectos sobre os quais eu acredito que qualquer pessoa poderia pensar: “Aquela criança, aquela jovenzinha, poderia ser minha irmã, uma da minha família.... Poderia eu ficar indiferente? Não faria de tudo para libertá-la?”.

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