13 julho, 2020

Santa Sofia. Igrejas ortodoxas: "Uma grande perda para os cristãos de todo o mundo"


Complexo monumemtal de Santa Sofia, em Istambul, volta a ser mesquita

Moscovo, Roménia, Chipre, Geórgia. O mundo ortodoxo reage duramente à decisão de transformar a Basílica de Santa Sofia em Istambul numa mesquita. “É uma grave perda para a ortodoxia mundial”, diz com veemencia o metropolita russo Hilarion. “Penso que a decisão tomada certamente influenciará as relações deste país com o mundo cristão. Mais vezes, inclusive nos últimos dias, ouvimos as vozes dos líderes cristãos que convidaram as autoridades turcas a não seguir adiante”. Mas elas não o fizeram 

Vatican News

O mundo ortodoxo reage duramente à decisão de transformar a Basílica de Santa Sofia em Istambul, na Turquia, numa mesquita. O anúncio de sexta-feira (10/07) foi feito pelo presidente turco Recep Tayyip Erdoğan após a decisão do Conselho de Estado turco de anular o status de museu da basílica.

No decreto, assinado por Erdoğan e publicado no seu perfil no Tuíter, lê-se: “Foi decidido que Santa Sofia será colocada sob a administração da Diyanet” (autoridade estatal para assuntos religiosos, que administra as mesquitas na Turquia), “e será reaberta à oração” islâmica a partir de sexta-feira, 24 de julho.

O Conselho de Estado turco anulou o decreto de 24 de novembro de 1934 do então presidente Mustafá Kemal Ataturk, que transformava Santa Sofia num museu. A decisão foi tomada por unanimidade, aceitando o recurso apresentado em 2016 por um pequeno grupo islâmico local, a Associação para a proteção de monumentos históricos e do meio ambiente. 
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Mundo ortodoxo reage duramente à decisão turca

As reações do mundo ortodoxo foram imediatas e muito duras. O primeiro a manifestar-se foi o Patriarcado de Moscovo. “Esperávamos que as autoridades turcas reconsiderassem esta decisão, mas com grande pesar e grande tristeza tomamos conhecimento de que ela foi tomada”, diz o metropolita Hilarion, presidente do Departamento das Relações Exteriores do Patriarcado de Moscovp, comentando a notícia numa entrevista concedida à “Rússia 24”.

A transformação de Santa Sofia em mesquita “é uma grave perda para a ortodoxia mundial”, porque para os cristãos ortodoxos do mundo inteiro a igreja de Santa Sofia assume o mesmo valor que a basílica “de São Pedro em Roma” tem para os católicos. “Este templo foi construído no Séc. VI e é dedicado a Cristo Salvador e para nós continua a ser um templo dedicado ao Salvador”.
“Penso – continua o número dois da Igreja ortodoxa russa – que a decisão tomada certamente influenciará as relações deste país com o mundo cristão. Mais vezes, inclusive nos últimos dias, ouvimos as vozes dos líderes cristãos que convidaram as autoridades turcas a não seguir adiante.”

Igrejas unidas em defesa do patriarcado de Constantinopla

Também o patriarca de Moscovo e de toda a Rússia, Kirill, tonha-se manifestado. Numa declaração publicada em 6 de julho, expressou preocupação com o destino de “uma das maiores obras-primas da cultura cristã”. Istambul é a sede do Patriarcado ecuménico de Constantinopla.

No comunicado, o patriarca russo lembra que mesmo recentemente houve períodos “por vezes bastante difíceis na história das relações entre a Rússia e Constantinopla”. Mas depois acrescenta: “No entanto, com amargura e indignação, o povo russo respondeu no passado e agora responde a qualquer tentativa de degradar ou espezinhar a herança espiritual milenar da Igreja de Constantinopla”.

As Igrejas Ortodoxas unem-se em defesa do Patriarcado ecuménico de Constantinopla. De facto, Bartolomeu I tinha tomado uma posição muito clara e sem precedentes contra o projeto de transformar Santa Sofia numa mesquita e numa declaração do 1º de julho lançou um apelo:

“A conversão de Santa Sofia numa mesquita decepcionaria milhões de cristãos no mundo”, disse ele, esconjurando a deriva de, no Séc. XXI, transformar Santa Sofia em “uma causa de confronto e conflito”. 

A situação é delicada

De Chipre, de acordo com o site de informações ortodoxas “Orthodox Times”, o arcebispo Chysostomos diz que não quer contactar com o patriarca ecuménico porque “os turcos estão a  monitorizar os nossos telefones”. Chysostomos diz que está preocupado porque “o patriarca ecuménico vive na Turquia e sabemos muito bem que cada pequena respiração que ele faz irrita os turcos”.
“Devemos proteger o Patriarca Ecuménico e não colocá-lo em apuros. A situação é delicada.”
O Patriarcado Georgiano também se manifesta. Num momento em que “a humanidade deve enfrentar muitos desafios globais, é muito importante manter e fortalecer as boas relações entre cristãos e muçulmanos”, lê-se num comunicado. 

Solidariedade com todos aqueles que defendem Santa Sofia

Por sua vez, o Patriarca Daniel, líder da Igreja ortodoxa da Roménia, enviou uma carta ao patriarca ecuménico Bartolomeu, para expressar apoio e reafirmar “a sua solidariedade com todos aqueles que defendem este símbolo da Igreja universal”.

As posições tomadas pelos governos grego e cipriota em relação à decisão da Turquia foram também muito duras. O ministro das Relações Exteriores de Chipre, Nikos Christodoulidis, ressalta num tuíte “a crescente e flagrante violação da Turquia das suas obrigações internacionais” com a modificação da designação de Santa Sofia, “um património mundial e um símbolo universal da fé ortodoxa”.

Por outro lado, o Ministro grego das Relações Exteriores, Nikos Dendias, anunciou no Tuíter: "Informei os meus colegas sobre a decisão provocadora da Turquia - contra o património cultural mundial e a UNESCO - de anular o decreto de Kemal Ataturk de 1934 para a proteção de Santa Sofia”.

(Agência Sir)

VN

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