Moscovo, Roménia, Chipre, Geórgia. O mundo ortodoxo reage duramente à decisão de transformar a Basílica de Santa Sofia em Istambul numa mesquita. “É uma grave perda para a ortodoxia mundial”, diz com veemencia o metropolita russo Hilarion. “Penso que a decisão tomada certamente influenciará as relações deste país com o mundo cristão. Mais vezes, inclusive nos últimos dias, ouvimos as vozes dos líderes cristãos que convidaram as autoridades turcas a não seguir adiante”. Mas elas não o fizeram
Vatican News
O mundo ortodoxo reage duramente à decisão de transformar a Basílica
de Santa Sofia em Istambul, na Turquia, numa mesquita. O anúncio de
sexta-feira (10/07) foi feito pelo presidente turco Recep Tayyip Erdoğan
após a decisão do Conselho de Estado turco de anular o status de museu
da basílica.
No decreto, assinado por Erdoğan e publicado no seu perfil no Tuíter,
lê-se: “Foi decidido que Santa Sofia será colocada sob a administração
da Diyanet” (autoridade estatal para assuntos religiosos, que administra
as mesquitas na Turquia), “e será reaberta à oração” islâmica a partir
de sexta-feira, 24 de julho.
O Conselho de Estado turco anulou o decreto de 24 de novembro de 1934
do então presidente Mustafá Kemal Ataturk, que transformava Santa Sofia
num museu. A decisão foi tomada por unanimidade, aceitando o recurso
apresentado em 2016 por um pequeno grupo islâmico local, a Associação
para a proteção de monumentos históricos e do meio ambiente.
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Mundo ortodoxo reage duramente à decisão turca
As reações do mundo ortodoxo foram imediatas e muito duras. O
primeiro a manifestar-se foi o Patriarcado de Moscovo. “Esperávamos que
as autoridades turcas reconsiderassem esta decisão, mas com grande pesar
e grande tristeza tomamos conhecimento de que ela foi tomada”, diz o
metropolita Hilarion, presidente do Departamento das Relações
Exteriores do Patriarcado de Moscovp, comentando a notícia numa
entrevista concedida à “Rússia 24”.
A transformação de Santa Sofia em mesquita “é uma grave perda para a
ortodoxia mundial”, porque para os cristãos ortodoxos do mundo inteiro a
igreja de Santa Sofia assume o mesmo valor que a basílica “de São Pedro
em Roma” tem para os católicos. “Este templo foi construído no Séc. VI e
é dedicado a Cristo Salvador e para nós continua a ser um templo
dedicado ao Salvador”.
Igrejas unidas em defesa do patriarcado de Constantinopla
Também o patriarca de Moscovo e de toda a Rússia, Kirill, tonha-se manifestado. Numa declaração publicada em 6 de julho, expressou
preocupação com o destino de “uma das maiores obras-primas da cultura
cristã”. Istambul é a sede do Patriarcado ecuménico de Constantinopla.
No comunicado, o patriarca russo lembra que mesmo recentemente houve
períodos “por vezes bastante difíceis na história das relações entre
a Rússia e Constantinopla”. Mas depois acrescenta: “No entanto, com
amargura e indignação, o povo russo respondeu no passado e agora
responde a qualquer tentativa de degradar ou espezinhar a herança
espiritual milenar da Igreja de Constantinopla”.
As Igrejas Ortodoxas unem-se em defesa do Patriarcado ecuménico de
Constantinopla. De facto, Bartolomeu I tinha tomado uma posição muito
clara e sem precedentes contra o projeto de transformar Santa Sofia numa
mesquita e numa declaração do 1º de julho lançou um apelo:
“A conversão de Santa Sofia numa mesquita decepcionaria milhões de
cristãos no mundo”, disse ele, esconjurando a deriva de, no Séc. XXI,
transformar Santa Sofia em “uma causa de confronto e conflito”.
A situação é delicada
De Chipre, de acordo com o site de informações ortodoxas “Orthodox Times”, o arcebispo Chysostomos
diz que não quer contactar com o patriarca ecuménico porque “os turcos estão
a monitorizar os nossos telefones”. Chysostomos diz que está preocupado
porque “o patriarca ecuménico vive na Turquia e sabemos muito bem que
cada pequena respiração que ele faz irrita os turcos”.
O Patriarcado Georgiano também se manifesta. Num momento em
que “a humanidade deve enfrentar muitos desafios globais, é muito
importante manter e fortalecer as boas relações entre cristãos e
muçulmanos”, lê-se num comunicado.
Solidariedade com todos aqueles que defendem Santa Sofia
Por sua vez, o Patriarca Daniel, líder da Igreja ortodoxa da
Roménia, enviou uma carta ao patriarca ecuménico Bartolomeu, para
expressar apoio e reafirmar “a sua solidariedade com todos aqueles que
defendem este símbolo da Igreja universal”.
As posições tomadas pelos governos grego e cipriota em relação à
decisão da Turquia foram também muito duras. O ministro das Relações
Exteriores de Chipre, Nikos Christodoulidis, ressalta num tuíte
“a crescente e flagrante violação da Turquia das suas obrigações
internacionais” com a modificação da designação de Santa Sofia, “um
património mundial e um símbolo universal da fé ortodoxa”.
Por outro lado, o Ministro grego das Relações Exteriores, Nikos Dendias,
anunciou no Tuíter: "Informei os meus colegas sobre a decisão provocadora
da Turquia - contra o património cultural mundial e a UNESCO - de anular
o decreto de Kemal Ataturk de 1934 para a proteção de Santa Sofia”.
(Agência Sir)
VN
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