Qual a principal novidade trazida pelo novo Diretório para a Catequese? O que motivou esta nova edição?
Em primeiro lugar, saúdo esta iniciativa de propor um novo Diretório para a Catequese, particularmente porque ele se situa no contexto do 25.º aniversário do Catecismo da Igreja Católica, assinalado em 2017. Um diretório é sempre um texto muito contextual, relacionado com a realidade que a Igreja vive, em cada tempo. Depois do diretório de 1971, tivemos o de 1997, e, agora, este, que vem responder a algumas questões do tempo atual.Neste documento, temos duas dimensões essenciais, de novidade e centralidade. Em primeiro lugar, é a relação que se estabelece entre catequese e evangelização, ou seja, a centralidade no ‘kerygma’ – primeiro anúncio, como essencial na tarefa catequética. Habitualmente, estamos habituados a pensar o ‘kerygma’ na fase inicial do processo de evangelização, mas o que vemos na Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’, do Papa Francisco – mas não só –, é que o ‘kerygma’ trespassa tudo aquilo que são as etapas do processo de evangelização. Não há crescimento na fé sem ouvir de novo, e em qualquer e todas as circunstâncias, o primeiro anúncio do Evangelho. Esta é a ideia central daquilo que é uma catequese evangelizadora, orientada e centrada na evangelização e não tão relacionada com a iniciação sacramental – uma tónica muito presente no diretório anterior. Adquire grande relevância a categoria do encontro com Jesus Cristo como condição essencial da missão. A outra dimensão tem a ver com o esforço de inculturação da catequese no mundo atual. Os diretórios são contextuais e, neste diretório, existem alguns aspetos que dizem respeito à questão da globalização da cultura – e o que isso traz de desafios naquilo que é a forma como as pessoas se relacionam e convivem. Existe também a questão da cultura digital, dos desafios que apresenta e de como pode estar ao serviço da evangelização.
Penso que este diretório é o primeiro de uma sociedade, de um mundo pós-cristão (no sentido clássico). A dimensão ‘kerygmática’ – que está presente neste documento – tem muito a ver não só com aquilo que se diz, mas com a forma como se entende aquilo que fazemos. Portanto, a catequese quer-se libertar daquilo que são as ‘amarras’ tradicionais da sua conceção e quer dar o salto para aquilo que é a sua tarefa: evangelizar e propor a fé no mundo secularizado, já não cristão. Este é um diretório que põe a Igreja em dinâmica de saída.
No concreto, no dia-a-dia dos catequistas, crianças e jovens, o que vai mudar?
Isso é uma pergunta difícil. Um diretório é sempre um texto que recolhe um caminho que a Igreja fez. Mais do que ser uma nascente, é a foz de um grande caminho. Aqui, nós temos três dimensões essenciais. Em primeiro lugar, os documentos da Igreja que decorrem dos últimos Sínodos (Nova Evangelização, Família, Jovens). Depois, a questão das novas linguagens e, dentro das linguagens, a cultura digital. Por fim, existe também a dimensão missionária da catequese, que a faz estar mais presente e ativa da proposta da fé cristã e no diálogo com o mundo. Creio que estas são as dimensões essenciais, mas também existem outras que dizem respeito, por exemplo, à identidade e formação do catequista, à centralidade da família e à catequese em contextos mais diversificados (os migrantes, o diálogo inter-religioso, as diferentes periferias humanas).
De que forma este Diretório para a Catequese potencia o uso dos novos meios de comunicação digitais?
O diretório refere a questão da relação entre a catequese e a cultura digital. No fundo, a palavra “meio” é uma palavra perigosa, porque o mundo digital não é apenas um “meio”, é um ambiente onde nós vivemos. Partindo da reflexão da Exortação Apostólica ‘Christus Vivit’, que resultou do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, o documento aponta para aquilo que são dimensões positivas deste continente digital: o diálogo, o intercâmbio de experiências, o acesso à informação... Já não se pode pensar a ação pastoral sem a presença da Igreja no mundo digital. Mas também aí, a nossa mentalidade tem que mudar, porque aquilo que se passa nas redes é a interatividade entre os intervenientes, em tempo real. Claro que podemos ter sites e coisas maravilhosas, com repositórios, mas esta interatividade é um desafio que a catequese deve seguir.
... e que muito tem seguido, durante este tempo de pandemia...
É claro que esta situação de pandemia veio evidenciar essa realidade e potenciar muito desta interação digital, na hora. A grande maioria das paróquias conseguiu fazer um processo de integração no mundo digital nas suas práticas quotidianas, conjugando os diferentes recursos com o encontro interativo. A maior parte jogou com essas duas dimensões. O mais importante – e o diretório aponta para isso – é que o digital proporcione experiências de fé, de encontro com Deus e com os outros.
Leia a entrevista completa na edição do dia 12 de julho do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.
Patriarcado de Lisboa
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