(RV) Os cristãos no Médio Oriente, a poucas semanas da visita do Papa Francisco à Terra Santa é o tema de hoje da nossa rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo”. Partindo das entrevistas concedidas à Rádio Vaticano pelo Cardeal Jean-Louis Tauran, Presidente do Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso, na sua passagem na semana passada pela Argélia, lançaremos algumas pistas de reflexão sobre a vida dos cristãos nos países de maioria muçulmana.
O Papa Francisco visitará nos próximos dias 24, 25 e 26 de maio a Terra Santa por ocasião do 50º aniversário do encontro entre Paulo VI e o Patriarca Atenágoras de Constantinopla. Este encontro em Jerusalém, em janeiro de 1964 foi significativo pela anulação das excomunhões do Grande Cisma do Oriente de 1054. Foi um passo importante para a restauração das boas relações e de um apreciável grau de comunhão entre a Igreja de Roma e o Patriarcado de Constantinopla. Naquela ocasião, o Papa Montini e o Patriarca Atenágoras assinaram uma importante declaração conjunta de comum empenho ecuménico em direção à plena comunhão.
A visita do Papa Francisco será, assim, um momento importante de renovação e avanço para o ecumenismo do futuro. Ao mesmo tempo, será uma grande oportunidade para o diálogo inter-religioso de que os países do Médio Oriente tanto necessitam.
Para abordarmos este assunto vamos começar pela Argélia, país onde se celebraram na semana passada os 100 anos da Basílica de Santo Agostinho em Annaba. Nessa celebração esteve o Cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso que foi portador de uma mensagem do Papa Francisco na qual o Santo Padre encoraja o diálogo entre cristãos e muçulmanos e agradece às autoridades argelinas por terem contribuído nos recentes restauros da Basílica. Em momentos diferentes da sua viagem o Cardeal Tauran prestou declarações às jornalistas Tiziana Campisi e Helene Destombes. Ouçamos um resumo das suas declarações começando precisamente pelo seu balanço sobre esta celebração e o acolhimento que lhe fizeram:
“Fui acolhido com grande generosidade e delicadeza, tive contactos com o Ministro dos negócios estrangeiros, o Ministro para os assuntos religiosos, o Presidente do Senado. Estive em duas conferências públicas, uma das quais para os futuros “Imãs”. E depois as grandes cerimónias: uma na Igreja de Nossa Senhora de África na Argélia e outra na Basílica de Santo Agostinho de Annaba, onde foi a grande cerimónia do centenário da elevação desta a Basílica Menor. Pude ver o diálogo inter-religioso a acontecer: famílias mistas e tantas obras, nas quais cristãos e muçulmanos encontram-se. Muito comovente foi a presença nas Missas das autoridades religiosas muçulmanas, com grande respeito. E, portanto, penso que tenha sido uma ocasião para demonstrar a todos que a realidade cristã na Argélia não é uma coisa passageira, mas a Igreja e a comunidade católica têm aqui raízes profundas, a seguir ao Islão, evidentemente. E que, sendo assim, não há nada a temer dos cristãos: ao contrário, são uma riqueza para esta nação.”
O Cardeal Tauran explicou também que a Argélia está num processo de descoberta da Igreja Católica na sua história:
“É um sinal, penso, de grande maturidade, porque é um povo que assume a sua história. Ali, obviamente, os cristãos existiam antes do Islão e conhecer, esta página da sua história e sobretudo reconhecer que Santo Agostinho é um argelino... e que argelino!”
“Antes de mais, Santo Agostinho une as duas pontas do Mediterrâneo; é um pensador, um génio: há poucas pessoas com a dimensão daquele homem! A coisa que sempre impressionou é pensar que escreveu das mais belas páginas de teologia ao mesmo tempo que a cidade de Ippona estava cercada: ele preocupava-se com os refugiados, era um pastor que seguia a vida quotidiana dos seus fiéis. Direi que o grande contributo de Santo Agostinho é este: não há oposição entre fé e razão.”
O purpurado, presidente do Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso, referiu-se ainda à Basílica de Santo Agostinho como um sinal cristão importante num país maioritariamente muçulmano:
“Eu penso que recorda a todos que somos feitos para ver Deus: e isto é um sinal muito potente, sobretudo num país muçulmano onde a oração desenvolve um papel importante. Os muçulmanos rezam muitas vezes ao dia em público e em privado e é bom que também os cristãos, com a majestosidade desta igreja, recordem que também nós louvamos o Senhor, o único Deus e que somos fieis aos nossos deveres.”
Entretanto, a vida dos cristãos no Médio Oriente é cada vez mais difícil. Eles são coptas no Egipto, maronitas no Líbano e caldeus no Iraque, mas são cada vez menos os que ficam. As primaveras árabes fizeram intensificar surtos migratórios de abandono dos cristãos das suas terras de origem. São, quase diariamente, alvo de agressões e de marginalização. No final de 2013 a nossa colega do programa italiano da Rádio Vaticano Giada Aquilino, ouviu a jornalista Marcela Emiliani, especialista em assuntos do Médio Oriente, a propósito de um documentário que esta jornalista realizou e que foi transmitido em Itália pelo canal Rai Storia sobre as antigas comunidades cristãs naquela região. Recordemos as suas declarações:
“Pensemos que a catedral copta no Cairo, a Catedral de S. Marcos, as igrejas mais importantes de Bagdad, o Mosteiro de Santa Catarina no Sinai foram todos atacados este ano não duas ou três mas cinco vezes. O Mosteiro de Santa Catarina, atacado em Agosto, foi obrigado a fechar. Mas de tudo isto não se fala. E não se percebe porque não se fala. Isto é uma coisa que atinge profundamente as raízes da cultura universal.”
Estas comunidades são profundamente determinadas e têm atitudes de grande tenacidade em defesa da sua própria identidade num clima que Marcela Emiliani considera ser de guerra de trincheira:
“O cristianismo no Médio Oriente está em trincheira: este alarme deve ser lançado porque estas comunidades para não serem exterminadas e salvarem-se emigram. Por exemplo, metade da comunidade caldeia iraquiana emigrou para a Europa e Estados Unidos.”
O itinerário do Papa Francisco na sua visita à Terra Santa será o seguinte: partirá de Roma às 8.15h de sábado, 24 de maio, para Amã, capital da Jordânia. Para além do encontro com as autoridades jordanas, o Santo Padre celebrará a Eucaristia num Estádio de Amã e terá um encontro com refugiados e pessoas deficientes numa igreja latina.
No domingo, dia 25, de manhã, partirá de helicóptero de Amã para Belém, Território Palestiniano. Às 11 horas o Papa celebra missa na Praça da Manjedoura, em Belém. De tarde, após uma visita privada à gruta da Natividade, o Papa parte de helicóptero para Tel Aviv, em Israel, de onde se transferirá, de novo de helicóptero, a Jerusalém, onde às 18.15h, terá um encontro privado com o Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla, que se concluirá com a assinatura de uma declaração conjunta.
Seguir-se-á, às 19 horas, na basílica do Santo Sepulcro, um Encontro Ecuménico, por ocasião dos 50 anos do histórico encontro entre Paulo VI e o Patriarca Atenágoras.
No último dia, segunda-feira, dia 26, o Papa Francisco terá diversos encontros com as autoridades de Israel e deslocar-se-á ao Muro das Lamentações e ao Memorial de Yad Vashen. De tarde, terá um encontro com padres e religiosos, celebrando depois uma missa com os Ordinários da Terra Santa, no Cenáculo de Jerusalém.Às 19 horas, despede-se oficialmente da Terra Santa partindo do aeroporto de Tel Aviv em direção a Roma.
Siga a viagem do Papa Francisco à Terra Santa aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa. Nos dias 24, 25 e 26 de maio faremos a atualização da informação em permanência no nosso site . basta clicar em português. (RS).
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