10 janeiro, 2020

Papa Francisco: quem ama a Deus e não ama o irmão é mentiroso

 

Amar e como amar: o Papa Francisco dedicou a este tema a homilia da missa celebrada esta sexta-feira na Casa de Santa Marta, inspirado pela Primeira Carta do Apóstolo João.

Adriana Masotti – Cidade do Vaticano

A primeira leitura de hoje, extraída da Primeira Carta de João, fala do amor e a este tema o Papa dedicou a sua homilia ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta (10/01). O apóstolo, afirmou, entendeu o que é o amor, o experimentou, e entrando no coração de Jesus, entendeu como se manifestou. A sua carta diz-nos, portanto, como se ama e como fomos amados. 

Deus amou-nos primeiro
 
O Pontífice definiu como “claras” duas de suas afirmações. A primeira é o fundamento do amor: “Nós amamos Deus porque Ele nos amou primeiro”. O início do amor vem Dele. “Eu começo a amar, ou posso começar a amar, porque sei que Ele me amou primeiro”, afirmou o Papa, que prosseguiu: “Se Ele não nos tivesse amado, certamente nós não poderíamos amar”.


Se uma criança recém-nascida, de poucos dias, pudesse falar, certamente explicaria esta realidade: “Sinto-me amada pelos meus pais”. E aquilo que os pais fazem com o filho, Deus fez connosco: amou-nos primeiro. E isto faz nascer e crescer a nossa capacidade de amar. Esta é uma definição clara do amor: nós podemos amar a Deus porque Ele nos amou primeiro. 

Quem ama a Deus e o odeia o irmão é mentiroso
 
A segunda afirmação “sem meias palavras” do apóstolo é esta: “Se alguém diz que ama a Deus, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso”. João não diz que é um mal-educado ou que errou, mas que é um mentiroso, notou o Papa, e também nós devemos aprender isto:


Eu amo a Deus, rezo, entro em êxtase e tudo… e depois descarto os outros, odeio os outros ou não os amo, simplesmente, ou sou indiferente aos outros… Não diz erraste”, mas “és mentiroso”. E esta palavra na Bíblia é clara, porque ser mentiroso é precisamente o modo de ser do diabo: é o Grande Mentiroso, diz-nos o Novo Testamento, é o pai da mentira. Esta é a definição de Satanás que a Bíblia nos dá. E se dizes amar a Deus e odeias o teu irmão, estás do outro lado: és um mentiroso. Nisto não há concessões. 

Muitos podem encontrar justificações para não amar, alguém pode dizer: "Eu não odeio, Padre, mas existem tantas pessoas que me fazem mal ou que não posso aceitar porque são mal-educadas ou rudes". E o Papa comenta sublinhando a concretude do amor indicado por João quando escreve: “Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” e afirma: "Se não és capaz de amar as pessoas, dos mais próximos aos mais distantes com quem convives, não podes diz-nosr que amas a Deus: És um mentiroso." 

O amor é concreto e quotidiano
 
Mas não há somente o sentimento, o ódio, pode existir o desejo de não "se envolver" nas coisas dos outros. Mas isto não está certo, porque o amor "expressa-se praticando o bem":

Se uma pessoa diz: "Eu, para estar bem limpo, só bebo água destilada": morrers! Porque isto não serve para a vida. O verdadeiro amor não é água destilada: é água todos os dias, com os problemas, com os afetos, com os amores e com os ódios, mas é isto. Amar a concretude, o amor concreto: não é um amor de laboratório. Isto ensina-nos o apóstolo, com estas definições assim tão claras. Mas existe uma maneira de não amar a Deus e de não amar o próximo um pouco escondida, que é indiferença. "Não, eu não quero isso: eu quero água destilada. Eu não me envolvo com o problema dos outros." Deves, para ajudar, para rezar.

O Papa Francisco cita então uma expressão de São Alberto Hurtado, que dizia: "É bom não fazer o mal; mas é mal não fazer o bem”. O verdadeiro amor "deve levar a praticar o bem (...), a sujar as mãos nas obras de amor". Não é fácil, mas por esse caminho de fé existe a possibilidade de vencer o mundo, a mentalidade do mundo que "nos impede de amar." 

Através do caminho da fé vencemos o mundo
 
Este é o caminho – afirma ainda o Papa -  “aqui não entram os indiferentes, aqueles que lavam as mãos dos problemas, aqueles que não se querem envolver nos problemas para ajudar, para fazer o bem; não entram os falsos místicos, aqueles com o coração destilado como a água, que dizem amar a Deus, mas não amam o próximo", e conclui: "Que o Senhor nos ensine estas verdades: a segurança de termos sido amados primeiro por Ele e a coragem de amar os irmãos". 

VN

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