Alguém há
dias partilhava comigo as suas “inquietações”, que eu mesmo, de algum modo,
também estava a viver: será que o Papa Francisco, com os seus gestos e atitudes
não estará a colocar um pouco em causa a “dignidade” de ser o Sucessor de
Pedro? Não poderá isso provocar “danos” na/à Igreja?
E outros
pensamentos desta natureza iam despertando em mim, a par com uma profunda
admiração e adesão ao que o Papa Francisco vai fazendo.
(Comoveu-me
até às lágrimas vê-lo à porta da igreja, saudando, abraçando e beijando o povo
que ia saindo da celebração.)
Fui
reflectindo então da seguinte maneira.
Sou de um
tempo em que o amor era profundo, mas apesar de tudo, vivido com uma certa
“distância”.
Hoje penso,
amando o meu pai e a minha mãe como amava e amo, como teria gostado de os
abraçar, de expressar "livremente" os meus sentimentos, de lhes dizer
encostado ao peito: pai, mãe amo-vos tanto!
Não que
alguma vez tivesse sido proibido de o fazer, mas não era costume naqueles
tempos, embora soubéssemos, sem margem para dúvidas, do amor profundo dos
nossos pais por nós.
Era um tempo
em que Deus estava longe, ou melhor, o modo como era “ensinado” fazia-O longe
nós, e mesmo as celebrações da Igreja, eram distantes e na maior parte das
vezes incompreensíveis para o comum fiel.
Pensei então
no Papa Francisco, e "julguei" os seus gestos à luz do que acabo de
escrever.
Sinto-me
assim humildemente com um Pai na Fé, que se aproxima de mim, que me diz ao
coração: preciso de ti, preciso das tuas orações, preciso que me ajudes, porque
só assim te posso ajudar também.
E volto ao
Mestre, ao Senhor de todas as coisas, Jesus Cristo, e "vejo-o"
humildemente comendo com os pecadores, recebendo beijos de prostitutas,
fazendo-se pobre como os mais pobres, para que todos esses, todos estes de agora
d'Ele se aproximem e sintam que aquele Homem e Deus, veio para eles, e em tudo,
(excepto no pecado), se fez e quer fazer igual a eles.
Porque ficou
Jesus entre nós e porque é que ainda hoje ou sobretudo hoje é tão atacado e
rejeitado?
Tenho para mim
que não foi "apenas" por ser Deus, mas também porque se fez humilde,
igual aos outros, sofrendo até mais do que os outros, e aproximando-se de nós,
quis tocar os nossos corações.
Por isso, e
por muito mais, foi rejeitado e ainda o é, num mundo em que os homens se julgam
vencedores por suas próprias mãos.
Pode o
Vigário de Cristo na terra ser diferente do Mestre?
Hoje julgo
que não!
Cristo
sentou-se à mesa com os discípulos e foi na maior simplicidade, no meio deles,
com um cálice normal e um pão normal que instituiu a Eucaristia.
Precisou de
aparatos e grandes cerimoniais?
Julgo mais
uma vez que não, e mesmo as primeiras Eucaristias, nas primeiras comunidades
cristãs eram, com certeza, à volta da mesa, na maior dignidade, mas também na
maior simplicidade.
E não foi
tudo isso, (sobretudo com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo), que
pela graça de Deus conquistou os homens há dois mil anos e ainda hoje continua
a conquistar?
Anunciamos
um Cristo humilde, simples como os mais simples, mas queremos
"magnificência e pompa" na Igreja!
A dignidade
não vem da "magnificência e pompa", mas da coerência de vida, do amor
a Deus acima de todas as coisas e aos outros como a nós mesmos.
Tudo isto é
novo para mim, mas sinto no meu coração, sinto nas minhas entranhas, que mais
uma vez o Espírito Santo "venceu" os homens e deu à Igreja de Cristo,
o homem providencial para os tempos que se avizinham.
O mundo
“empobrece”, e a Igreja pela voz e gestos do Papa, “empobrece” com ele.
Tantos que
pedem que a Igreja se adapte aos tempos modernos!
Aí está Ela
a adaptar-se aos tempos modernos!
Não mudando
o que é imutável, a Doutrina de Cristo, a Tradição da Igreja, (pois este Papa
será, pelos gestos que vai tendo, bem mais “rigoroso” do que os seus
antecessores com aqueles que de dentro minam a Igreja), mas mudando o que se
pode mudar, ou seja, aproximando a Igreja do homem comum, falando uma linguagem
directa, simplesmente compreensível, e tendo gestos de homem comum, que se
"agiganta" pela sua humildade.
Se o
Espírito Santo o escolheu e chamou, o Espírito Santo o conduzirá.
Por isso
descanso e dou graças a Deus pela Igreja, pelo Papa Francisco, pelo Povo de
Deus.
Tudo e
sempre para a honra, a glória e o louvor de Deus!
Marinha
Grande, 20 de Março de 2013
Joaquim
Mexia Alves
Nota:
Com este
texto não quero significar que tudo é permitido, por exemplo, adulterando
a celebração dos Sacramentos, muito especialmente a Eucaristia.
Mas também
não acredito que o Papa Francisco alguma vez o permitisse, ou nisso
colaborasse.
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