
(RV) O
Papa Francisco encontrou na manhã desta quinta-feira, 21, o Cardeal
Fernando Filoni, que regressou do Iraque nesta quarta-feira. O purpurado
permaneceu uma semana no país para levar a solidariedade concreta do
Papa aos refugiados iraquianos, expulsos de suas casas pela violência
jihadista. Eis o que o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos
Povos falou aos microfones da Rádio Vaticano sobre o encontro:
“Foi
muito bonito, pois o Papa quis acolher-me logo após o meu regresso - o
que demonstra a sua sensibilidade – para saber diretamente de mim aquilo
que vi e aquilo que senti após ter visitado os nossos cristãos, os
yazidi, nesta semana em que estive no Iraque. Portanto, ele estava muito
atento. O Papa preferiu a escuta; deixou-me falar longamente e
obviamente sentiu toda a situação da qual lhe falei: as expectativas dos
nossos cristãos, as preocupações e aquelas que são um pouco a linha da
Igreja. Acolheu com prazer as linhas que foram adoptadas por parte da
Igreja local. Posso dizer que o encontro foi bonito; o Santo Padre
estava muito atento e participativo em tudo aquilo que lhe falei”.
O
senhor Cardeal esteve entre estas minorias, entre os cristãos e também
entre os yazidi. O problema hoje está em como ajudar estes refugiados,
como deter a agressão....
“No entanto, acredito
que todos já estejam conscientes da urgência imediata em abrigar estas
famílias desabrigadas. Acredito que todos já puderam ver a situação em
que vivem: onde quer que exista um gramado, um quarto, um local colocado
à disposição deles, está ocupado; tudo isto tendo naturalmente presente
que é o período mais quente de todo o ano – com 47-48º C – a
importância dos abrigos, a necessidade de ter água, a necessidade de
lavar-se, de estar um pouco à sombra. São coisas de se ter absolutamente
em modo imediato para favorecer estas pessoas, sobretudo as crianças,
os anciãos, os doentes. Favorecer estas pessoas, oferecer um abrigo.
Depois, todos se perguntam por quanto tempo vai durar esta situação, o
que se espera no futuro. E sobre isto, obviamente, temos as esperanças,
mas depois devemos ver as coisas dentro da realidade. Certo, os nossos
cristãos, muitos dos quais desejariam regressar, aspiram que haja um
cinturão de segurança ao redor dos povoados, pedem que seja
internacional, para garantir a retomada de uma vida normal”.
Agora
a crise iraquiana parece ter dado uma reviravolta depois do bárbaro
assassinato do jornalista americano, que provocou horror em todo o
mundo. Como vê esta situação?
“Permaneço um
pouco com os pés no chão, pois enquanto os povoados estiverem ocupados,
as pessoas não têm confiança, não começam a regressar, a reocupar as
próprias casas, as próprias coisas e atividades, e podemos somente fazer
suposições. Assim, se existe um início, esperemos que se concretize;
esperemos que esta certeza retorne e que este cinturão de segurança seja
garantido a eles. Somente então a questão estará efectivamente num bom
ponto”.
A sua missão foi uma missão delicada, difícil, também cansativa. Um balanço desta viagem...
“Diria
que a minha missão foi, sobretudo, e antes de tudo – para não dizer
exclusivamente – do tipo humanitário. Portanto, sob este ponto de vista,
não existiram questões políticas ou de outro tipo que entraram no
âmbito da minha missão. Estou contente em ter podido realizar esta
missão humanitária, pois para mim foi um retorno a esta terra que
conheço e que amo há tanto tempo, rever ainda tantas pessoas que estão
comprometidas em atividades de ajuda e depois dar também uma palavra de
esperança, de confiança, de encorajamento. Eles tinham necessidade de
serem ouvidos. Portanto, escutá-los, foi muito útil para conhecer as
suas aspirações; mas foi útil também porque para eles foi como um
desabafo: “Quem escuta as nossas preocupações? Quem as ouve? Portanto,
poder divulgá-las, fazê-las conhecer, é também um modo de dizer a estes
nossos irmãos e irmãs: “Não é que vós não sois escutados, vós estais
sempre no centro das nossas atenções”. Para mim, portanto, foi um
momento muito bonito também espiritualmente, pois estar ao lado do
sofrimento de tantos irmãos e irmãs ajuda a não ver estes problemas de
longe, como se fossem coisas que não nos dissessem
respeito. E portanto, ser participantes. Devo dizer que nisto fui
retribuído com muito afecto, com tanta generosidade, com o sorriso de
tantas crianças, com a gentileza de tantos homens e mulheres que vinham
para receber um carinho, que vinham beijar a mão, o anel, receber uma
bênção, pedir uma oração... isto foi realmente muito bonito e
emocionante”.
Se fala de 120 – 130 mil refugiados. Nós falamos de números, o senhor Cardeal viu faces...
“As
imagens mais vivas, certamente, são aquelas relativas às pessoas que
perderam tudo, mas diria ainda mais: quem perdeu tudo, mas teve a vida
salva e portanto não teve danos em relação a parentes e amigos é já –
como se pode dizer – uma sorte. Mas quando se encontram homens,
mulheres, crianças, idosos, sobretudo junto à crianças, e algumas
mulheres que tiveram vítimas – falo de modo particular da comunidade dos
yazidi, onde homens foram mortos e mulheres raptadas, violentadas,
vendidas – isto naturalmente é angustiante. As suas faces eram de
pessoas que tinham um olhar perdido no vazio, perdido em um futuro que
não tem como ser compreensível. Pensemos, por exemplo, que uma mulher no
Médio Oriente sempre tem a necessidade da presença de um homem – de um
pai, de um irmão, de um esposo – que seja quase como que a garantia da
sua vida segundo a cultura. Ora, quem não tem mais um pessoa – um homem –
que possa cuidar dela, qual será o futuro? Não é como no Ocidente,
onde uma mulher pode construir a sua vida com as próprias capacidades e
com as próprias forças. Assim isto se torna muito, muito penoso; o olhar
destas mulheres sentadas, agachadas, privadas de expressão, era muito
impressionante”.
A este ponto, quais são as suas esperanças concretas?
“As
minhas esperanças concretas partilho-as com as esperanças destas
pessoas. Se nós conseguirmos dar a eles uma segurança pare regressar,
esta esperança é também a minha”.