Na
Missa deste Domingo, (que incluiu a celebração do Sacramento da Confirmação na
minha paróquia), chamaram-me a atenção duas pequenas palavras do Evangelho que
conta o episódio do chamamento de Zaqueu, atenção essa reforçada durante a
homília do nosso Bispo D. António Marto.
Costumo
servir-me, no dia-a-dia, da Bíblia, dita dos Capuchinhos, que nesta passagem
sobre Zaqueu, (Lc 19, 1-10), tem o seguinte versículo 3: «Procurava ver Jesus,
e não podia…»
Ora
as pequenas palavras que me chamaram a atenção na leitura do Evangelho e depois
quando o nosso Bispo O citou novamente, foram: «quem era»
Recorri
à “Bíblia de Jerusalém”, bem como à “Bíblia Anotada pela Faculdade de Teologia
da Universidade de Navarra”, e lá estava o mesmo versículo, mas com a seguinte redacção:
«Procurava ver quem era Jesus…»
E
estas duas pequenas palavras fazem uma diferença extraordinária na percepção da
conversão de Zaqueu.
Com
efeito, Zaqueu não queria “apenas” ver Jesus!
O
desejo, a vontade de Zaqueu ia mais longe, ou seja, ele não queria “apenas”
ver, queria saber quem era Jesus, queria saber o que fazia daquele Homem um
homem diferente dos outros, um homem que transformava as pessoas em que tocava,
quer pela Sua Palavra, quer pelas suas acções, quer pelo seu toque pessoal.
Ora
«quem procura, encontra», (Mt 7, 8), e assim Zaqueu ao procurar “ver quem era
Jesus” é tocado, não só pela figura de Jesus, mas sobretudo por quem Jesus
era/é, e esse encontro pessoal com Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem,
não o poderia deixar indiferente, e por isso mesmo a sua vida mudou, as suas
prioridades mudaram, o seu modo de proceder mudou, deixou de ser apenas ele,
para passar a ser ele e os outros como irmãos, e, claro, a conversão aconteceu.
Também
hoje em dia há muitos que querem «ver Jesus», mas não querem «ver quem era/é
Jesus»!
Querem
ver uma figura “mediática”, um homem histórico, um homem diferente, um homem
que marcou a humanidade, um homem “revolucionário”, um homem que “terá” feito
uns milagres, mas não querem «ver quem era/é Jesus», verdadeiro Deus e
verdadeiro Homem.
É
que, se apenas queremos ver uma pessoa, vemo-la, e pronto, está vista, vamos
adiante, assim "a modos" como ver uma “estrela” mediática do cinema ou do desporto.
Uma
vez vista, fica “completo” o conhecimento, porque apenas saciámos os olhos, e
por isso mesmo rapidamente esquecemos esse acontecimento.
Agora
se queremos ver uma pessoa, porque ela nos chama a atenção para o que diz e o
que faz, porque há outros que a acham interessante, com ideias interessantes,
etc., então não a queremos só ver, mas também a queremos ouvir, também queremos
saber o que pensa e como pensa, também queremos saber o que faz, como faz e
porque faz, ou seja, queremos saber “quem é” essa pessoa, e muito provavelmente
partilhar das suas ideias e imitá-la naquilo que ela tem de bom.
Então,
se procuramos apenas «ver» Jesus Cristo, ficamos pelo Jesus histórico, pelo
homem diferente, pelo homem que fazia coisas magníficas, etc., mas não vamos
mais longe no conhecimento, e assim esse pouco conhecimento rapidamente se
perde, e não tem qualquer efeito nas nossas vidas.
Mas
se queremos, se desejamos, «ver quem era/é» Jesus Cristo, então já estamos
predispostos a escutá-Lo, a entende-Lo, a segui-Lo, a imitá-Lo.
Então,
como a Zaqueu, Ele toca-nos, transforma-nos, conduz-nos, não porque se
introduziu como alguém que força a entrada, mas porque nós desejámos, porque
nós quisemos, «ver quem era/é» Jesus Cristo.
Apenas
duas palavras fazem uma diferença tão grande, sobretudo se essas palavras são Palavra
de Deus, e por isso mesmo vão para além do seu entendimento meramente literal.
Joaquim Mexia Alves
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