Quando o fariseu terminou a sua oração, meteu a mão no bolso e
com aparato tirou uma moeda de ouro que deixou cair com barulho, na caixa das
esmolas.
Voltou-se para sair do templo e reparou que o publicano de
cabeça baixa mexia num saco de pano, de onde tirou uma pequena moeda, que com
delicadeza depositou na caixa das esmolas.
O Fariseu saiu então do templo e ficou a aguardar o
publicano.
Quando este saiu, humilde e contrito, o Fariseu perguntou-lhe
com um ar importante:
- Quanto deste, ali no templo?
O publicano com a cabeça baixa, respondeu:
- Dei tudo quanto aqui tinha. Tudo o que tenho me veio do Senhor
e Ele nunca me falta com o indispensável à minha vida.
Levantando a cabeça, fitou o Fariseu com uns olhos límpidos e
calmos, com um sorriso alegre e tranquilo, e dizendo-lhe:
- A paz do Senhor esteja contigo! afastou-se, caminhando.
Reparou o fariseu na paz e tranquilidade que emanava daquele
homem, no amor com que lhe tinha falado e sobretudo na leveza do andar,
parecendo que quase não tocava o chão.
No entanto não se deixou comover e pensando para si próprio,
disse em voz alta:
- Coitado, pobre homem inculto. Não sabe que eu como sou,
praticando a lei rigorosamente, tenho sempre a paz do Senhor comigo.
Começou então a andar no caminho para sua casa, cabeça erguida,
nunca dando atenção àqueles que na rua pediam, que o cumprimentavam, que lhe
sorriam.
Mas o episódio passado não o deixava sossegado. Que possuía
aquele pobre homem, (que ele considerava tão mal), que ele próprio não tinha!
Nunca na sua vida, pensou, tinha conseguido ter tal olhar, tal
sorriso ou apresentar aquela paz, aquela tranquilidade, aquele amor.
Parou e sentou-se à beira do caminho com a cabeça entre as mãos,
pensando em tudo o que tinha visto e sentido.
De repente, tocaram-lhe no ombro e ao levantar os olhos, deparou
com o publicano que com uma voz doce lhe perguntava:
- Sente-se mal, precisa de ajuda, posso fazer alguma coisa por
si?
Mal refeito da surpresa, (e por tanto amor vindo de quem tinha
tratado tão mal), deu por si a agradecer e a dizer que não, não precisava de
nada, pois entretanto, tinha tido resposta à sua inquietação.
Levantou-se e começou a caminhar em direcção ao templo.
A um pobre homem quase sem roupa, deixou a sua túnica, a outro
que tinha fome, deixou as moedas que levava, a um que estava descalço, deixou
as suas sandálias, a uma mãe com filhos famintos, como não tinha mais nada com
ele, deixou os seus anéis e colares.
À porta do templo, parou e não entrou. Ajoelhou-se, baixou a
cabeça e disse:
- Perdoa-me, meu Deus, que nada sou. Não sou nem digno de entrar
no Teu templo, como o publicano, porque sou muito maior pecador. Acredito na
Tua misericórdia e sei que me perdoas, por isso Te peço que me ajudes a mudar
de vida, pois também eu reconheço agora, que tudo o que tenho, me vem de Ti e a
Ti pertence e que mo deste não só para mim, mas também para ajudar os que
precisam. A Ti, Senhor, confio a minha vida, pois sei que com nada me
faltarás.
Levantou-se e sentiu imediatamente que o seu olhar era
diferente, mais limpo, percebeu que tinha um sorriso alegre na cara e deixou-se
envolver por uma paz e tranquilidade, que nunca tinha sentido.
Louvando a Deus, regressou a casa, espalhando alegria e paz pelo
caminho e ao chegar, deu a Boa Nova a todos os seus.
No Céu a alegria era imensa e o Bom Pai, nosso Deus, acompanhado
do sorriso alegre do Espírito Santo, disse a Jesus Salvador:
- Foi boa ideia, Meu Filho, teres-te feito passar por publicano.
Já salvaste mais um homem.
Nota:
Escrito em 7 de
Março de 2000Joaquim Mexia Alves
Blog: ”Que
é a Verdade?"
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