15 outubro, 2013

A vida humana não tem preço




Se há coisas que a minha vida sacerdotal me tem feito entender é que poucos são aqueles que percebem as nossas palavras e os nossos gestos de acordo com aquilo que eles querem dizer; habitualmente, damos às palavras e às atitudes dos outros o significado que queremos que elas tenham ou que pensamos que elas têm.

O Santo Padre deu, em finais de agosto, uma entrevista em que dizia a dado momento: “Não podemos continuar a insistir apenas em questões referentes ao aborto, ao matrimónio homossexual ou ao uso de anticoncetivos”. A grande maioria dos meios de comunicação achou que esta afirmação era “uma grande abertura da Igreja” - leia-se: o abandono da defesa da cultura da vida.

Não consigo perceber essa interpretação, mesmo pela frase referida: o Papa diz apenas que a pregação da Igreja não se deve apenas centrar nisso, mas não diz que deve abandonar esses temas! Claro que muitos foram ainda aqueles que se “esqueceram” de ler aquilo que o Papa disse logo a seguir: “Eu falei muito sobre estas questões e fui criticado por isso. Mas se se fala destas coisas, há que o fazer num contexto. E já conhecemos a opinião da Igreja e eu sou filho da Igreja; mas não é necessário estar a falar destas coisas sem cessar”. E, assim, a grande maioria “não leu” também aquilo que o Santo Padre tinha dito antes: “O confessor corre sempre o perigo de ser demasiado rigorista ou demasiado laxista. Nenhum dos dois é misericordioso, porque de verdade nenhum deles toma a cargo a pessoa. O rigorista lava as mãos e remete-a para o que está mandado. O laxista lava as mãos dizendo simplesmente ‘isso não é pecado’, ou coisa semelhante. É necessário acompanhar as pessoas; as feridas necessitam de cura”.

Do mesmo modo, quase “ninguém leu” o discurso que o Papa Francisco pronunciou há dias, ao receber uma associação de médicos católicos: “Uma difusa mentalidade do útil, a ‘cultura do deitar fora’ que hoje escraviza os corações e as inteligências de muitos, tem um custo altíssimo: quer eliminar seres humanos, sobretudo se física ou socialmente mais fracos. A nossa resposta a esta mentalidade é um ‘sim’ decidido e sem hesitações à vida. As coisas têm preço e podem ser vendidas, mas as pessoas têm uma dignidade, valem mais que as coisas, e não têm preço”.

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