Depois
dos vários textos sobre as “situações especiais” dos casais divorciados e
“recasados”, cabe uma palavra de confiança, uma palavra de fé.
Não
vamos analisar novamente os textos aqui publicados, mas vamos tentar “mostrar”
caminho que os casais que vivem essas situações podem fazer, vivendo a Igreja,
em Igreja, sendo Igreja.
Sabemos
pela experiência, (e também por experiência própria), que uma, (ou talvez a
maior), das dificuldades que se lhes apresentam, é o facto de não poderem
comungar o Corpo e Sangue do Senhor, na hóstia consagrada.
É
realmente um “peso” grande que vivem estes casais, e que compreensivelmente os
incomoda e por vezes até revolta de algum modo.
Obviamente,
falamos, dos casais nessas situações que querem viver a fé em Igreja e em
comunhão de Igreja.
Poderíamos
escrever sobre as diversas condições que a cada um se apresentam, (pois sabemos
bem que cada caso é um caso), mas vamos apenas reflectir sobre a generalidade
desta situação, que impede doutrinalmente a comunhão eucaristica aos casais
nestas situações.
Não
vamos também escrever sobre as razões de tal impedimento, até porque as mesmas
já foram de alguma forma explicadas nos textos anteriormente publicados.
Ora
se aos casais referidos é vedada a comunhão eucarística, não é de modo nenhum
vedada a participação/celebração na Eucaristia, nem a sua participação
construtiva e activa em Igreja e na Igreja.
Estes
casais, ao participarem/celebrarem a Eucaristia, podem e devem, na altura da
comunhão eucarística, fazer a sua comunhão espiritual.
E
esta comunhão espiritual, bem vivida e participada, tem um valor intenso e os seus
frutos são também visíveis na vida daqueles que a praticam.
A
comunhão espiritual pressupõe, ou melhor deve conter, três elementos que lhe
são essenciais:
1
– O desejo de se alimentar de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem,
que assim se quis dar ao homem como alimento divino.
Ao
desejar a comunhão como alimento divino, aqueles que vivem esta forma de
comunhão vivem um intenso acto de desejo de Deus, de Jesus Cristo.
E
«quem procura, encontra»!
Não
podemos nós adorar a Deus, mesmo sem estarmos frente ao sacrário ou numa
igreja?
Não
é fruto do nosso profundo desejo de Deus essa adoração?
E
não acreditamos nós que Ele não deixa de nos ouvir, que Ele não deixa de nos
acompanhar, que Ele não deixa de se unir a nós, se esse é o nosso profundo
desejo em «espírito e verdade»?
2
– É uma vivência da fé, porque aqueles que vivem esta forma de comunhão
acreditam profundamente que Jesus Cristo está presente na hóstia consagrada e
como tal, crêem no Mistério maior da nossa fé.
Não
O podem ver, mas Ele é-lhes mostrado com os “olhos” da fé, e portanto, torna-se
presente naquele acto de profundo desejo de Deus, quase podendo afirmar que
ainda somos mais atraídos por Ele e para Ele.
Não
acreditamos nós que Jesus Cristo se faz realmente presente na consagração das
espécies, na Eucaristia?
E
no entanto não O tocamos, não O vemos, mas se n’Ele acreditamos, também com Ele
vivemos e d’Ele nos alimentamos, ainda que seja espiritualmente.
3
– É assim também, porque O desejamos, porque n’Ele acreditamos, um acto de
amor.
Um
acto de amor não só ao nosso Deus, mas também um acto de amor aos nossos
irmãos, porque neste desejo de Deus provocado pelo amor, vem sempre um desejo
de amar os outros como Ele nos ama.
Reparemos
que mesmo a anteceder a comunhão, todos dizemos a frase do centurião: «Senhor,
eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e eu serei
salvo.»
O
centurião acreditou, mesmo sem a presença física de Jesus junto do seu servo!
E
diz-nos o Evangelho que Jesus Cristo ficou admirado com a fé daquele homem!
E
diz-nos ainda que o servo ficou curado!
Os
frutos da comunhão espiritual são por demais evidentes e ainda mais se nos
lembrarmos que não há verdadeira comunhão eucarística se não houver ao mesmo
tempo comunhão espiritual.
Mas
há ainda um fruto da comunhão espiritual que gostaríamos de deixar para
reflexão, e que é a obediência, o acto de obedecer à Doutrina que a Igreja nos
ensina.
Obediência
é hoje uma palavra mal vista, quase como um sinónimo de fraqueza, quando afinal
a obediência é um extraordinário acto de humildade, de maturidade e de entrega.
E
ainda mais, porque esta obediência em Igreja e na Igreja, é um profundo acto de
amor a Deus e à Igreja que Ele mesmo quis instituir para nos guiar.
E
o caminho da obediência torna-nos dóceis à vontade de Deus e à Doutrina da
Igreja, e, sendo dóceis por amor, encontramos nessa docilidade obediente a
alegria de nos sabermos filhos de Deus, membros da Igreja, testemunhas de
Cristo, mesmo apesar das “situações especiais” que possamos viver.
E
nesse testemunho de obediente alegria, ajudamos os outros que estejam na mesma
situação a perceberem que o caminho que a Igreja nos propõe, é o caminho de
Deus, rico de amor e misericórdia, que se faz presente naqueles e para aqueles
que O procuram de todo o coração.
Sou
testemunha na minha vida daquilo que aqui escrevi.
Marinha
Grande, 16 de Outubro de 2013
Joaquim
Mexia Alves
Nota:
Na
sequência de vários documentos da Igreja, (sobre as situações especiais
vividas por casais), publicadas no "Grãos de Areia", boletim da
paróquia da Marinha Grande, foi publicado este meu texto no número do
boletim saído este fim de semana.
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