23 setembro, 2014

Padre Lombardi: a Albânia tocou profundamente o coração do Papa

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(RV)
Uma visita que permitiu ao Papa Francisco descobrir de perto a história e a alma da Albânia, ao lado de um povo que não se esquece das suas feridas mas que tomou há muito tempo o caminho da reconciliação. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, e director geral da Rádio Vaticano, padre Federico Lombardi, condensa em alguns pontos a quarta viagem apostólica, partindo do abraço comovido do Papa aos sobreviventes da perseguição comunista, durante a celebração das vésperas. O que significou aquele encontro?

Não me surpreendeu, de facto, este momento de profunda emoção, porque o tema do martírio, do testemunho da em situações extremamente difíceis, é um tema que o Papa sente muito, e todos nós sentimos com ele. o experimentámos também na Coreia, recentemente, apesar de ter sido um martírio na maioria dos casos, de tempos um pouco mais distantes. Na Albânia, pelo contrário, são tempos muito próximos e tivemos encontro com testemunhas que, se não foram mártires eles mesmos, no sentido de perderem as próprias vidas, na verdade, viveram o mesmo tipo de experiência daqueles que foram mortos na perseguição. Ora, neste dia a presença do grande martírio foi muito grande, muito forte. Viu-se naquela belíssima apresentação que os albaneses fizeram, com as grandes fotografias dos 40 mártires cuja Causa de beatificação está em curso, que estavam penduradas ao longo do Boulevard percorrido várias vezes durante o dia e que estava precisamente diante da sede da Missa e em frente do Palácio Presidencial. E este foi um impacto muito grande. Além disso, me dei conta de que, também para os albaneses foi um impacto muito forte, porque eles sabem bem que tiveram esta história, mas os rostos concretos destas 40 pessoas das quais está em curso a Causa de beatificação, muitos não os conheciam ou não os tinham assim tão presentes. Revê-los assim em frente na sua realidade concreta fez uma grandíssima impressão também aos próprios albaneses. Deu-lhes um sentimento de presença daquilo que foi vivido nas décadas passadas do século passado. E o Papa viveu-o em primeira pessoa, muito. E portanto, quando se encontrou diante destas duas pessoas, duas testemunhas que com grande simplicidade contaram o que tinham vivido, a emoção foi grandíssima: a sua e a nossa.
Lembro-me que também durante a comunhão, na parte da manhã, houve um belíssimo canto cantado em albanês, e portanto muitos não entendiam o que estava a dizer, mas eram as palavras da Carta aos Romanos de São Paulo, que dizia: "Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou a angústia, ou a perseguição? Nada nos vai nunca separar do amor de Cristo”. Este canto belíssimo, com todas as figuras dos mártires em frente, deu-me um momento de emoção fortíssima, pessoal, de certa maneira semelhante àquilo que de maneira muito mais importante o Papa viveu no período da tarde, ao encontrar e abraçar estas duas testemunhas . Foi natural, na sensibilidade do Papa, ter falado em seguida de improviso, dizendo da plenitude do coração aquilo que ele estava a viver naquele momento. E, certamente, para nós - que conhecemos um pouco o que foi a história recente da Albânia não se pode ir à Albânia sem sentir esta intensidade desta presença. O Papa também teve palavras muito bonitas quando disse que ia espiritualmente àquele muro do Cemitério de Scutari, onde foram fuzilados vários dos mártires.
Pessoalmente, também fiquei agradecido e impressionado que o presidente tenha querido recordar a voz da Rádio Vaticano, como a voz que vinha de Roma, trazendo as mensagens de conforto do Papa aos albaneses perseguidos. E não é por nada, também no passado aqui, o primeiro-ministro da Albânia nos trouxe o prémio, que é a Ordem de Madre Teresa, o mais alto prémio do país, precisamente pelo serviço prestado naquele tempo pela Rádio Vaticano.
Eis, pois, que o martírio e a perseguição são, na história da Igreja e na vida da Igreja, momentos de referência absolutamente fundamentais, são aqueles em que verdadeiramente o amor de Cristo e o amor por amor Cristo e o amor de Cristo por nós se manifesta de forma mais intensa. Não admira pois, que tenham sido os momentos mais intensos também na experiência do Papa durante uma viagem como esta, seria na verdade surpreendente o contrário.
- Um outro momento intenso foi o encontro do Papa com as crianças hospedadas na Casa Betânia, uma estrutura que acolhe crianças com vários tipos de desconforto. E aqui, o Papa, ao abraçá-los e falando aos presentes, usou um pensamento que se repete, ou seja, que "a bondade não é uma fraqueza" ... O que o impressionou mais deste momento?

Em cada viagem do Papa, há um momento dedicado explicitamente ao tema da caridade e do empenho da Igreja no mundo da caridade, da assistência, dos gestos concretos de atenção para quem é pequeno, para quem é pobre, para os doentes e para quantos estão em dificuldade. E, portanto, a visita ao Centro Betânia foi uma parte essencial deste itinerário.
Gostaria de destacar ainda uma pequena referência que o Papa fez quase de forma marginal, mas que não era casual neste discurso e é a referência ao perdão: ou seja, o amor que se manifesta na caridade operativa é também um amor capaz de perdoar, e na sociedade albanesa - que tem muitos valores e muitas virtudes que foram abundantemente recordados – existe, porém, também uma tradição, por vezes, de vinganças locais, de dificuldades de reconciliação. Mesmo os nossos missionários, em muitos anos, sobretudo em regiões montanhosas ou difíceis do País, trabalharam muito para a reconciliação: reconciliação entre as famílias, superando rancores tradicionais que inquinam por vezes as relações entre as pessoas. E esta referência do Papa para superar qualquer sentimento de recriminação ligada ao passado, a uma capacidade de perdão e de reconciliação plena, é uma bela mensagem: valia para os albaneses, e vale - realmente - um pouco para todos.
Durante o dia, o Papa Francisco teve a oportunidade de exprimir-lhe algo sobre os seus sentimentos em relação àquilo que estava a viver?

Todos o viram; todos puderam ver um detalhe que eu gostaria de salientar: que o Papa se movimentou ao longo do dia no jeep descoberto, através da cidade de Tirana, e portanto também os rumores que foram feitos antes, de preocupações, ameaças, riscos, etc., na realidade manifestaram-se absolutamente infundados. O Papa movimentou-se como se movimenta habitualmente, sem qualquer obstáculo e sem
qualquer distância.

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