14 setembro, 2014

"Caminhar juntos com a força do amor de Cristo": Papa Francisco aos 20 casais cujo matrimónio celebrou hoje na basílica de São Pedro



(RV) A poucas semanas do Sínodo que vai ter lugar no Vaticano sobre a família, o Papa Francisco presidiu esta manhã, na basílica de São Pedro, a uma Eucaristia com celebração do matrimónio de 20 casais italianos.
Ocorrendo neste dia 14 de setembro a festa da Exaltação da Santa Cruz, as Leituras evocavam o marcha do povo de Israel, no deserto, a caminho da terra prometida. Uma caminhada longa, cansativa, que provoca a reacção do povo, que se queixa de Deus.
Mordidos por serpentes venenosas, os israelitas invocam de Deus a cura. E é-lhes dado como “sinal” uma serpente de bronze elevada sobre um estandarte: quem a contemplava cheio de fé , era curado. Um símbolo que se cumprirá plenamente em Jesus, “elevado” na Cruz e “exaltado” depois pelo Pai à glória.
Na homilia, o Papa partiu naturalmente das Leituras proclamadas, a começar pelo primeira que evocava o povo na sua marcha pelo deserto…
Era formado sobretudo por famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar... Este povo lembra a Igreja em caminho no deserto do mundo actual; lembra o Povo de Deus que é composto, na sua maioria, por famílias.
Isto faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia...

É incalculável a força, a carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo, as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das dificuldades...
A narração bíblica da primeira Leitura referia que a certa altura, o povo israelita «não suportou o caminho»: estavam cansados, faltava a água e comiam apenas o «maná”… Então lamentam-se e protestam contra Deus e contra Moisés

Isto faz-nos pensar nos casais que «não suportam o caminho» da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimónio, deixam de ir buscar água à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada, «nauseante».
Referindo o episódio das serpentes venenosas e a serpente de bronze que o Senhor mandou fazer para que quem a olhasse com fé pudesse receber “a sua força que cura”, o Papa sublinhou o sentido deste símbolo: Cristo elevado na Cruz… Quem se entrega a Jesus crucificado recebe a misericórdia de Deus, que cura do veneno mortal do pecado.
Tudo isto se aplica justamente aos casais … O remédio que Deus oferece ao povo vale de modo particular para os casais que «não suportam o caminho» e acabam mordidos pelas tentações do desânimo, da infidelidade, do retrocesso, do abandono…

O amor de Jesus, que abençoou e consagrou a união dos esposos, é capaz de manter o seu amor e de o renovar quando humanamente se perde, rompe, esgota. O amor de Cristo pode restituir aos esposos a alegria de caminharem juntos.

O matrimónio – observou o Papa quase a concluir – é isto mesmo: o caminho conjunto de um homem e de uma mulher… na reciprocidade das diferenças… Não é um caminho suave, sem conflitos, não… mas isto é a vida! O matrimónio é símbolo da vida, da vida real, não é uma «ficção»! É sacramento do amor de Cristo e da Igreja, um amor que tem na Cruz a sua confirmação e garantia.
O Papa concluiu a sua homilia desejando a todos esses 20 casais uma bela caminhada matrimonial. “Que o amor cresça. Desejo-vos felicidades. Haverá cruzes, mas o Senhor está sempre ali para nos ajudar a prosseguir o caminho. Que Deus vos abençoe!"

Eis o texto integral da homilia do Papa:
 
A primeira Leitura fala-nos do caminho do povo no deserto. Pensemos naquele povo em marcha, guiado por Moisés! Era formado sobretudo por famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar... Este povo lembra a Igreja em caminho no deserto do mundo actual; lembra o Povo de Deus que é composto, na sua maioria, por famílias.

Isto faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia... É incalculável a força, a carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo, as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das dificuldades... As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas e, ao mesmo tempo, são os «tijolos» para a construção da sociedade.

Voltemos à narração bíblica... A certa altura, o povo israelita «não suportou o caminho» (Nm 21, 4): estão cansados, falta a água e comem apenas o «maná», um alimento prodigioso, dado por Deus, mas que, naquele momento de crise, lhes parece demasiado pouco. Então lamentam-se e protestam contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto?» (Nm 21, 5). Sentem a tentação de voltar para trás, de abandonar o caminho.

Isto faz-nos pensar nos casais que «não suportam o caminho» da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimónio, deixam de ir buscar água à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada, «nauseante».

Naquele momento de extravio – diz a Bíblia – chegam as serpentes venenosas que mordem as pessoas; e muitas morrem. Este facto provoca o arrependimento do povo, que pede perdão a Moisés, suplicando-lhe que reze ao Senhor para afastar as serpentes. Moisés pede ao Senhor, que lhe dá o remédio: uma serpente de bronze, pendurada num poste. Quem olhar para ela, fica curado do veneno mortal das serpentes.

Que significa este símbolo? Deus não elimina as serpentes, mas oferece um «antídoto»: através daquela serpente de bronze, feita por Moisés, Deus transmite a sua força que cura, ou seja, a sua misericórdia, mais forte que o veneno do tentador.
Como ouvimos no Evangelho, Jesus identificou-Se com este símbolo: na verdade, por amor, o Pai «entregou» Jesus, o seu Filho Unigénito, aos homens para que tenham a vida (cf. Jo 3, 13-17). E este amor imenso do Pai impele o Filho a fazer-Se homem, a fazer-Se servo, a morrer por nós e a morrer numa cruz; por isso, o Pai ressuscitou-O e deu-Lhe o domínio sobre todo o universo. Assim se exprime o hino da Carta de São Paulo aos Filipenses (2, 6-11). Quem se entrega a Jesus crucificado recebe a misericórdia de Deus, que cura do veneno mortal do pecado.

O remédio que Deus oferece ao povo vale também e de modo particular para os casais que «não suportam o caminho» e acabam mordidos pelas tentações do desânimo, da infidelidade, do retrocesso, do abandono... Também a eles Deus Pai entrega o seu Filho Jesus, não para os condenar, mas para os salvar: se se entregarem a Jesus, Ele cura-os com o amor misericordioso que jorra da sua Cruz, com a força duma graça que regenera e põe de novo a caminhar pela estrada da vida conjugal e familiar.

O amor de Jesus, que abençoou e consagrou a união dos esposos, é capaz de manter o seu amor e de o renovar quando humanamente se perde, rompe, esgota. O amor de Cristo pode restituir aos esposos a alegria de caminharem juntos. Pois o matrimónio é isto mesmo: o caminho conjunto de um homem e de uma mulher, no qual o homem tem o dever de ajudar a esposa a ser mais mulher, e a mulher tem o dever de ajudar o marido a ser mais homem. É a reciprocidade das diferenças. Não é um caminho suave, sem conflitos, não! Não seria humano. É uma viagem laboriosa, por vezes difícil, chegando mesmo a ser conflituosa, mas isto é a vida! O matrimónio é símbolo da vida, da vida real, não é uma «ficção»! É sacramento do amor de Cristo e da Igreja, um amor que tem na Cruz a sua confirmação e garantia.

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