(RV) Será no próximo sábado, dia 26 que o Papa Francisco visitará a cidade de Caserta situada na região da Campania, no sul de Itália. Aí o Santo Padre encontrará pelas 16h locais os sacerdotes da Diocese, presidindo pelas 18h à Missa na Praça diante do Palácio Real de Caserta por ocasião da Festa de Sant'Ana, padroeira da cidade. A sua visita está a ser aguardada com grande expectativa pelas pessoas daquela região. Segundo escreviam os cristãos de Caserta ao Papa João Paulo II em 1992, a sua terra era uma terra de ninguém, na qual a pessoa se perde, onde são muito graves a degradação ambiental e o atraso social e cultural.
Para conhecer a realidade atual desta região dormitório de Nápoles a nossa colega da redação italiana da Rádio Vaticano Francesca Sabatinelli entrevistou o padre Domenico Dragone, Reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Marcianise, uma das cidades desta zona da Campania, nos arredores de Caserta:
“De um ponto de vista pratico é aquela que era, mas na localidade tantas coisas têm sido feitas e não aparecem. Por exemplo, em cada paróquia existem os centros de escuta aos quais se dirigem os fieis que não têm possibilidades económicas e que encontram, por exemplo, um médico para tratar um filho: o centro de escuta oferece estes médicos com boa vontade. Aos centros de escuta vão pessoas que têm problemas de habitabilidade das suas casas e a paróquia manda lá alguém. É esta cadeia de solidariedade tão local que não emerge. Portanto, há tanto bem e também tanto mal.”
O meio ambiente, nesta zona de Itália, é profundamente poluído e muito degradado devido às infiltrações criminosas na gestão de lixos e detritos que permitiu que durante anos fossem enterrados lixos tóxicos naquela zona mesmo vindos de outras regiões. Bastava que pagassem. Esta é a “terra de Gomorra”, o conhecido livro e filme que documenta a vida dos camorristas e mafiosos de Caserta. Mas, esta é também a “terra dos tumores”. Por tudo isto, os jovens fogem destas cidades, segundo nos diz o Padre Domenico:
“... fogem de cidades como Caserta, Capua, Marcianise, Maddaloni, porque têm um ar tão envenenado. Por isso, há gente que se desenrasca como pode, fogem para a montanha onde podem respirar um pouco de ar puro. Este ar é o mesmo que é respirado pelos administradores, pelos políticos que têm filhos, netos e descendentes. Mas ainda não perceberam que se o ambiente continuar a degradar-se, também eles sofrerão os males e até foi um sacerdote, padre Patriciello que disse a um destes camorristas: ‘Mas então, és assim tolo de teres trazido o veneno para tua casa! Morres tu e também os teus filhos. Aqui estão a morrer tantas crianças, tantos homens e mulheres, devido ao cancro neste ar assim tão degradado”
“Eu sou pároco em Marcianise, aqui nos últimos dias houve uma infinidade de detenções e de sequestros de milhões de bens retirados aos malfeitores e àqueles que lhes são próximos. Vai-se à procura da riqueza fácil do desonesto e não àquilo que é necessário para honestamente usar no dia-a-dia. Há uma mentalidade errada que mesmo quando vais a um pároco para pedir um atestado de batismo é preciso uma recomendação! Isso é o que mais incomoda.”
O padre Domenico Dagrone acha que a visita do Papa Francisco não resolverá todos os problemas, mas poderá ajudar muito a transformar lentamente a realidade:
“O Papa em Caserta dirá, provavelmente, coisas que já foram ditas, mas ditas por ele nestas circunstâncias podem entrar em algum coração e transformá-lo. Os milagres fazem-se lentamente. Quando o Papa João XXIII iniciou o Concílio Vaticano II disse: “Não é a chuva torrencial que fertiliza os campos; é a chuva fininha e lenta.” Por isso, não será a mensagem do Papa na Praça Carlos III a transformar Caserta, mas aquela mensagem nós a ouviremos e meditaremos e serão depois os párocos e as realidades cristãs, católicas a explicá-la fazendo-a tornar-se em chuva simples e continua. A transformação não acontece com um relâmpago mas sim lentamente. É preciso caminhar e trabalhar sempre sobre as mesmas realidades, sobre os mesmos passos e mensagens.” (RS)
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