11 outubro, 2012

Concílio Vaticano II: "uma grande pintura feita pelo Espírito Santo"


Na audiência geral, Bento XVI indica quatro constituições conciliares como pontos cardeais da Igreja
 

Luca Marcolivio
VATICANO, quarta-feira, 10 de outubro de 2012 (ZENIT.org) - Uma audiência geral das mais importantes do pontificado de Bento XVI: na manhã de hoje, véspera da abertura do Ano da Fé e do 50º aniversário da abertura do concílio Vaticano II, o tema escolhido pelo Santo Padre para a catequese foi uma reflexão sobre os documentos conciliares.
O concílio Vaticano II nos aparece como "um grande afresco”, propôs o papa, “pintado na sua grande multiplicidade e variedade de elementos sob a orientação do Espírito Santo". Um trabalho de "extraordinária riqueza", do qual ainda é possível "redescobrir passagens particulares, fragmentos, matizes".
O Santo Padre mencionou em seguida o seu antecessor, o beato João Paulo II, que chamava o concílio Vaticano II de "grande graça para a Igreja do século XX", bem como "bússola segura para nos orientar nos caminhos do século que se abre"(Novo millennio ineunte, 57). Uma bússola que permite que "o navio da Igreja avance em mar aberto, tanto em meio a tempestades quanto a ondas calmas e tranquilas, para navegar com segurança e chegar a bom porto".
Bento XVI recordou, depois, a sua própria experiência no concílio, do qual participou acompanhando o então arcebispo de Colônia, cardeal Frings, que designara o jovem Joseph Ratzinger, à época professor de Teologia Fundamental na Universidade de Bonn, como seu consultor teólogo. Pouco mais adiante, Ratzinger tornou-se perito conciliar.
"Poucas vezes na história”, disse o papa, “foi possível, como então, quase tocar concretamente a universalidade da Igreja, em um momento da grande realização da sua missão de levar o Evangelho até os confins da terra em todos os tempos". Por causa do grande acúmulo de esperança que difundiu, o concílio foi um "evento de luz que irradia até hoje".
Quando o concílio foi convocado pelo beato papa João XXIII, em 1959, três anos antes da abertura dos trabalhos, não havia na Igreja "nenhum erro particular de fé a ser corrigido ou condenado, nem questões específicas de doutrina ou de disciplina a ser esclarecidas". Grande, portanto, foi a surpresa dos cardeais diante do anúncio do papa João XXIII.
No seu discurso de abertura do concílio, em 11 de outubro, João XXIII manifestou a necessidade de falar da fé "de uma forma renovada" e "mais incisiva", num mundo que estava mudando rapidamente, "mesmo mantendo intactos os seus conteúdos perenes, sem cessões nem arranjos".
Era preciso fazer uma "reflexão mais profunda sobre a fé" e sobre a sua relação com o pensamento moderno, "não para se adaptar a ele, mas para apresentar ao nosso mundo, que tende a se afastar de Deus, a necessidade do Evangelho em toda a sua grandeza e em toda a sua pureza".
De resto, como disse Paulo VI na sua homilia de encerramento do concílio, em 7 de dezembro de 1965, já naquela época "o esquecimento de Deus" se tornava "normal" e a pessoa humana tendia a "reivindicar a sua autonomia absoluta, liberando-se de toda lei transcendente".
Ao mesmo tempo, Paulo VI lembrava que o homem, "quando se esforça para fixar a mente e o coração em Deus na contemplação, realiza o ato mais elevado e mais pleno da sua alma, o ato que ainda hoje pode e deve ser o culminar dos inumeráveis campos da atividade humana, a partir do qual essas atividades conquistam a sua dignidade".
O concílio Vaticano II, portanto, salientou a centralidade de um Deus que "está presente, que se ocupa de nós e nos responde". Quando a fé falta, junto com ela "colapsa o que é essencial, porque o homem perde a sua dignidade profunda e aquilo que torna grande a sua humanidade, contra todo reducionismo", destacou Bento XVI.
Tarefa da Igreja, reafirma o concílio, é "transmitir a palavra do amor de Deus que salva, para que seja ouvido e recebido o apelo divino que traz em si mesmo a nossa felicidade eterna".
A este respeito, o Santo Padre mencionou quatro constituições conciliares a ser consideradas como uma espécie de "quatro pontos cardeais da bússola que pode nos orientar": a Sacrosanctum Concilium, que enfatiza a "centralidade do mistério da presença de Cristo"; a Lumen Gentium, que salienta como compromisso fundamental da Igreja "o de glorificar a Deus"; a Dei Verbum, em que "a Palavra viva de Deus convoca a Igreja e a vivifica ao longo de toda a sua jornada através da história”; e a Gaudium et Spes, sobre a forma como a Igreja "leva ao mundo a luz que recebeu de Deus, para que Ele seja glorificado".
O concílio Vaticano II é, em última análise, "um forte apelo a redescobrir todos os dias a beleza da nossa fé". O papa, para terminar, invocou a proteção da Virgem Maria para que "ela nos ajude a compreender e levar a cumprimento o que os padres conciliares guardavam no coração, inspirados pelo Espírito Santo: o desejo de que todos possam conhecer o evangelho e conhecer o Senhor Jesus como caminho, verdade e vida".
(Trad.ZENIT)

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