12 junho, 2012

MISSÃO DOS PAIS E PADRINHOS (2)



Diz-nos o Magistério da Igreja que a família é uma “igreja doméstica”, ou seja, em palavras muito simples, uma união de amor que deve ter Deus no seu centro.

A família é o primeiro contacto que as crianças e os jovens têm com o mundo, e aquilo que lhes é dado a conhecer nessas idades fica para sempre, como nós pais, que já fomos crianças, muito bem sabemos e podemos testemunhar.

As primeiras palavras, os primeiros passos, as primeiras alegrias e tristezas, são sempre vividas em família, bem como os primeiros conselhos para a vida, e depois ao longo da adolescência, para o crescer e amadurecer como futuros homens e mulheres.

Assim, e se nós pais procuramos a Igreja para os nossos filhos receberem a Catequese, para melhor conhecerem Deus e melhor O poderem amar, compete-nos sem dúvida, que desde a mais tenra idade, desde a idade em que começamos a ensinar a vida aos nossos filhos, lhes ensinemos que é em Deus e com Deus que devemos sempre viver e completar a vida que Ele mesmo nos deu.

Mesmo aqueles pais, que por qualquer razão vivem afastados da fé e da Igreja, ao escolherem para os seus filhos a frequência da catequese, devem dar, pelo menos, o testemunho de respeito pela fé e pela Igreja que os aconselharam a viver, disponibilizando-se sempre para os acompanhar, no sentido de os fazer perceber a importância que tem a vivência da fé para a sua vida, pois que, se escolheram para os filhos esse caminho, (embora possa não ser o seu), é porque acreditam de alguma forma que é o caminho certo.

Não tem sentido, desculpem-me a franqueza, colocar os filhos na catequese, e depois dizer mal da Fé e da Igreja à frente deles, ou ter práticas contrárias à fé que eles, filhos, se empenham em conhecer e viver.
Como não tem sentido colocar os filhos na catequese e depois arranjar todo o tipo de desculpas para eles faltarem à missa, por exemplo.

É curioso, e mais uma vez desculpem-me a franqueza, que como catequista, sou muitas vezes confrontado com toda a espécie de desculpas para os jovens faltarem à catequese, porque todas as outras actividades em que estão envolvidos são consideradas mais importantes do que a catequese em que se quiseram comprometer.
Se os jovens faltarem a essas actividades e por força disso não passarem um qualquer escalão atribuído nessas actividades, é facilmente compreendido, mas se faltarem à catequese e obviamente não passarem de ano, isso já não é entendido nem facilmente aceite.

Ora isto e muito mais coisas, tem a ver com a missão dos pais em tudo, mas sobretudo na educação religiosa dos seus filhos, que é o que aqui estamos a tratar.

Recentemente, numa conversa que tive com várias pessoas, entre elas os Padres Armindo e Pedro, da nossa paróquia, falou-se nas orações tradicionais que os nossos pais nos ensinavam desde a mais tenra idade, e de como essas orações marcaram sem dúvida as nossas vidas, sobretudo as nossas vidas espirituais.

Permitam-me que dê o meu testemunho pessoal de como isto que acabei de dizer é verdade.
Educado pelos meus pais na religião cristã e católica, foram-me, desde a mais pequena idade, ensinadas as orações da Igreja, Pai Nosso, Avé Maria, etc., bem como algumas devoções, que mais à frente referirei.
Lembro-me bem dos natais familiares, em que o meu pai rezava connosco, e depois da meia-noite beijávamos a imagem do Menino Jesus que estava no Presépio.
Em todas as ocasiões de grande festa da Igreja, Natal, Páscoa; etc., o momento mais importante era a oração que o meu pai e a minha mãe faziam connosco em família.

Uma devoção, que particularmente me ficou “agarrada”, é a devoção das “três Avé Marias” diárias, que sustenta que quem a praticar terá sempre a assistência de Nossa Senhora nas horas difíceis, sobretudo na hora da morte.
Falo nela, porque tendo-me afastado da fé e da Igreja a partir dos 19, 20 anos, acho que nunca deixei de a rezar, nem mesmo quando estive na guerra na Guiné.
Poderia não rezar com fé, poderia rezar apenas por hábito, por rotina, mas essas três Avé Marias percorreram a minha vida e são também sem dúvida, para além de muitos outros factores, razão do meu retorno à fé e à Igreja.
Lembro-me bem de, quando por volta já dos meus 42 anos me comecei a reaproximar da fé e da Igreja, todos esses ensinamentos e orações que os meus pais e catequistas me tinham ensinado, regressaram imediatamente à minha memória e com facilidade os comecei a reflectir e rezar.
E o meu retorno à fé e à Igreja retirou-me de uma vida que então vivia e me levaria sem dúvida, muito rapidamente à perdição, não só espiritual, mas sem a mínima dúvida, física e moral.

Melhor exemplo que este sobre a missão dos pais e a sua importância na vida dos filhos, não sou capaz de dar.

Coloca-se-nos muitas vezes o problema se devemos obrigar os nossos filhos a participarem na Missa, na Catequese, enfim, na vivência da fé, e, curiosamente, nós pais que tantas vezes os obrigamos a fazer tantas coisas, neste aspecto da religião, somos então muito mais “liberais”.
Mas a verdade, é que se nós não os obrigarmos a ir à escola, eles por sua vontade, também não irão.
E afinal nós somos capazes de lhes explicar porque têm de frequentar a escola, afirmando-lhes que é o seu futuro, etc.,etc.
Somos capazes às vezes até de voltar a estudar em casa algumas matérias, só para os ajudarmos nos seus estudos, mas tantas vezes não somos capazes de os ajudar a encontrar Deus nas nossas palavras, nos nossos gestos e no nosso testemunho.

Dizia um célebre General Israelita que o sucesso do exército israelita em guerra se devia a que os seus oficiais, quando comandavam as tropas em combate, não ordenavam, “em frente”, mas sim, “sigam-me”!
O testemunho daqueles que estão à frente, neste caso os pais, é sempre a maior parte da razão para os filhos seguirem os seus conselhos.

A nós pais compete-nos semear a semente, compete-nos regá-la e alimentá-la enquanto é nova, na esperança sempre de que Deus fará o resto e que quando a árvore for adulta dará sem dúvida bom fruto. Mas se por acaso, e durante algum tempo não der fruto nenhum, ou até mau fruto, a seiva inicial que foi dada àquela árvore pelos seus pais, pode sempre vencer a outra seiva “estragada”, e fazer com que árvore volte dar bom fruto.

Um dia, nós que acreditamos, (e todos os outros também), estaremos perante Deus, que nos perguntará o que fizemos da vida que nos deu, o que fizemos da graça que Ele nos deu em sermos pais.
Perguntar-nos-á se amámos os outros, sobretudo aqueles que Ele nos deu como família, e amar os nossos filhos é, sem dúvida, mostrar-lhes o caminho do amor, o caminho da salvação, o caminho que nos garante que mesmo que não haja mais nada e que estejamos sós, Deus está sempre connosco.

Mostrar-lhes, enfim, o caminho de Deus e para Deus.
Joaquim Mexia Alves

Sem comentários:

Enviar um comentário