01 janeiro, 2012

PRIMEIRAS VÉSPERAS DA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS E RECITAÇÃO DO "TE DEUM"

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Basílica Vaticana

Sábado, 31 de Dezembro de 2011



Senhores Cardeais,
venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado,
ilustres Autoridades,
queridos irmãos e irmãs!


Estamos reunidos na Basílica Vaticana para celebrar as primeiras Vésperas da solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, e para agradecer ao Senhor, no final do ano, cantando juntos o Te Deum. Agradeço a todos vós que quisestes unir-vos a mim nesta circunstância tão cheia de sentimentos e significado. Saúdo, em primeiro lugar, os senhores Cardeais, os venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, os religiosos e religiosas, as pessoas consagradas e os fiéis leigos que representam a inteira comunidade eclesial de Roma. De modo especial, saúdo as Autoridades presentes, começando pelo Prefeito de Roma, a quem agradeço o cálice que doou, segundo uma bela tradição que se renova cada ano. Desejo de coração que, com o esforço de todos, a fisionomia da nossa cidade possa estar sempre mais em conformidade com os valores de fé, cultura e civilização que pertencem à sua vocação e história milenária.

Outro ano chega à sua conclusão enquanto que, com a inquietação, os desejos e as expectativas de sempre, esperamos um novo. Se pensarmos na experiência da vida, ficamos admirados de como ela é, no fundo, breve e fugaz. Por isso, muitas vezes nos questionamos: qual é o sentido que podemos dar aos nossos dias? Mais concretamente, qual é o sentido que podemos dar aos dias de fadiga e de dor? Esta é uma pergunta que atravessa a história, antes, atravessa o coração de cada geração e de cada ser humano. Mas existe uma resposta para esta pergunta: está escrita no rosto de um Menino que nasceu há dois mil anos, em Belém, e que hoje é o Vivente, ressuscitado para sempre da morte. No tecido da humanidade, rasgado por tantas injustiças, maldades e violências, surge de modo surpreendente a novidade, alegre e libertadora, de Cristo Salvador, que no mistério da sua Encarnação e do seu nascimento nos permite contemplar a bondade e a ternura de Deus. Deus eterno entrou na nossa história e permanece presente de modo único na pessoa de Jesus, o seu Filho feito homem, nosso Salvador, que veio à terra para renovar radicalmente a humanidade e libertá-la do pecado e da morte, para elevar o homem à dignidade de filho de Deus. O Natal não se refere somente ao cumprimento histórico dessa verdade que nos toca diretamente, mas que no-la dá novamente, de modo misterioso e real.

É muito sugestivo, neste fim de ano, escutar novamente o anúncio jubiloso que o apóstolo Paulo dirigia aos cristãos da Galácia: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, para que recebêssemos a adoção filial» (Gal 4,4-5). Essas palavras tocam o cerne da história de todos e a iluminam, antes, a salvam, porque desde o dia do em que nasceu o Senhor, chegou para nós a plenitude do tempo. Portanto, já não há mais lugar para a angústia diante do tempo que passa e não volta para trás; agora é o momento de confiar infinitamente em Deus, por quem sabemos ser amados, para quem vivemos e a quem a nossa vida se orienta, na espera do seu retorno definitivo. Desde que o Salvador desceu do Céu, o homem já não é mais escravo de um tempo que passa sem um porquê, ou que esteja marcado pela fadiga, pela tristeza, pela dor. O homem é filho de um Deus que entrou no tempo para resgatar o tempo da falta de sentido ou da negatividade, e que resgatou toda a humanidade, dando-lhe, como nova perspectiva de vida, o amor que é eterno.

A Igreja vive e professa esta verdade e quer proclamá-la novamente hoje, com renovado vigor espiritual. Nesta celebração, temos motivos especiais para louvar o Senhor pelo seu mistério de salvação, presente no mundo por meio do ministério eclesial. Temos muitos motivos de agradecimento ao Senhor por tudo o que a nossa comunidade eclesial, no coração da Igreja universal, realiza a serviço do Evangelho nesta Cidade. A tal propósito, unido ao Cardeal Vigário, Agostino Vallini, aos Bispos Auxiliares, aos Párocos e todo o presbitério diocesano, quero dar graças ao Senhor, nomeadamente, pelo promissor caminho comunitário dirigido a adequar a pastoral ordinária às exigências do nosso tempo, por meio do projeto «Pertença eclesial e corresponsabilidade pastoral». Este tem o objetivo de colocar a evangelização em primeiro lugar; para fazer mais responsável e frutífera a participação dos fiéis nos Sacramentos, de tal forma que cada um possa falar de Deus ao homem contemporâneo e anunciar o Evangelho com eficácia aos que nunca o conheceram ou o esqueceram.

A questio fidei é também o desafio pastoral prioritário para a Diocese de Roma. Os discípulos de Cristo estão chamados a fazer renascer em si mesmos e nos demais a saudade de Deus e a alegria de viver n'Ele e de testemunhá-Lo, a partir da pergunta, sempre muito pessoal: Por que creio? É necessário conceder o primado à verdade, confirmar a aliança entre a fé e a razão, como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da Verdade (cf. João Paulo II, Enc. Fides et ratio, Prólogo); tornar fecundo o diálogo entre o cristianismo e a cultura moderna; levar à redescoberta da beleza e da atualidade da fé, não como um ato em si mesmo, isolado, que diz respeito a algum momento da vida, mas como uma orientação constante, mesmo nas escolhas mais simples, que leva à unidade profunda da pessoa, tornando-a justa, ativa, benéfica, boa. Trata-se de reavivar uma fé que instaure um novo humanismo capaz de gerar cultura e empenho social.

Neste quadro geral, na Assembleia diocesana do passado mês de junho, a Diocese de Roma iniciou um caminho de aprofundamento sobre a iniciação cristã e sobre a alegria de gerar novos cristãos para a fé. De fato, anunciar a fé no Verbo feito carne é o cerne da missão da Igreja, e toda a comunidade eclesial deve redescobrir esta tarefa, com um renovado ardor missionário. As novas gerações que mais sentem a desorientação, acentuada também pela crise atual, não só econômica, mas também de valores, têm necessidade, sobretudo, de reconhecer em Cristo Jesus «a chave, o centro e o fim de toda a história humana» (Conc. Vat. II. Gaudium et spes, 10).

Os pais são os primeiros educadores na fé dos seus filhos desde a mais terna idade; por isso, é necessário apoiar as famílias na sua missão educativa, por meio de iniciativas adequadas. Ao mesmo tempo, é desejável que o caminho batismal, primeira etapa do itinerário formativo da iniciação cristã, além de favorecer uma consciente e digna preparação para a celebração do Sacramento, dê a devida atenção aos anos imediatamente sucessivos ao batismo, com os itinerários apropriados que levem em conta as condições de vida das famílias. Animo, portanto, as comunidades paroquiais e as outras realidades eclesiais a continuarem refletindo para promover uma melhor compreensão e recepção dos sacramentos através dos quais o homem se torna participante da vida mesma de Deus. Que a Igreja de Roma possa sempre contar com fiéis leigos, prontos a oferecer a sua contribuição pessoal para edificar comunidades vivas, que permitam que a Palavra de Deus entre no coração dos que ainda não conheceram o Senhor ou se afastaram d'Ele. Ao mesmo tempo, é oportuno criar ocasiões de encontro com a Cidade, que permitam um diálogo proveitoso com todos os que estão à procura da Verdade.

Queridos amigos, desde que Deus mandou o seu Filho unigênito para que nós pudéssemos ter a filiação adotiva (cf. Gal 4,5), não pode existir para nós uma tarefa mais importante que estar totalmente ao serviço do projeto divino. Neste sentido, quero animar e agradecer todos os fiéis da Diocese de Roma, que sentem a responsabilidade de devolver a alma à nossa sociedade. Obrigado a vós, famílias romanas, células primeiras e fundamentais da sociedade! Obrigado aos membros das muitas Comunidades, Associações e Movimentos comprometidos em animar a vida cristã da nossa cidade!

«Te Deum laudamus!» A Vós, ó Deus, louvamos! A Igreja nos sugere concluir o ano dirigindo ao Senhor o nosso agradecimento por todos os seus benefícios. É em Deus que deve terminar a nossa última hora, a última hora do tempo e da história. Esquecer este final da nossa vida significaria cair no vazio, viver sem sentido. Por isso, a Igreja coloca nos nossos lábios o antigo hino Te Deum. É um hino repleto da sabedoria de tantas gerações cristãs, que sentem a necessidade de elevar o seu coração, na certeza que estamos todos nas mãos cheias de misericórdia do Senhor.

«Te Deum laudamus!». Assim canta também a Igreja que está em Roma, pelas maravilhas que Deus realizou e realiza nela. Com a alma cheia de gratidão nos dispomos a atravessar o limiar do ano 2012, lembrando que o Senhor vela sobre nós e nos protege. Nesta tarde, queremos confiar-Lhe o mundo inteiro. Coloquemos em suas mãos as tragédias do nosso mundo e ofereçamos a Ele também as esperanças de um futuro melhor. Depositemos estes votos nas mãos de Maria, Mãe de Deus, Salus Populi Romani. Amen.

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