Há uns dias atrás indicaram-me um livro e insistiram que o devia comprar e ler.
Confesso que não era minha vontade, até porque tenho um pouco a mania de comprar livros, que por vezes acabo por não ler.
Mas acedi e comprei “O preço a pagar por me tornar cristão”, de Joseph Fadelle, editado por Paulinas Editora.
Enquanto esperava no carro que o meu filho mais novo acabasse as aulas, folheei o livro e dei comigo muito interessado em saber mais da história que o mesmo conta.
Assim que cheguei a casa não descansei enquanto não comecei a ler o livro, primeiro por curiosidade, depois empolgado, (é o termo), porque não conseguia deixar de querer levar aquela história toda até ao fim.
Não o li todo nessa noite, mas não passou o outro dia sem que o tivesse acabado de ler.
Em primeiro lugar fiquei com uma admiração profunda por aquele homem, que arrostando contra todos e contra tudo, decidiu dizer sim na sua vida e tornar-se cristão no meio mais hostil para tal decisão.
Não vou obviamente descrever a história contada, porque apagaria a surpresa, e sobretudo porque nunca conseguiria colocar nas palavras escritas por mim a descoberta daquela narrativa, a força daquela vontade, o destemor de um homem que “persegue” Cristo para O comungar, (leiam o livro e perceberão porquê), a perseverança que Deus dá aqueles que O procuram em «espírito e verdade».
Em segundo lugar percebi um pouco a dificuldade imensa porque passam os cristãos naquele ambiente e como por vezes até pode parecer que rejeitam os que os procuram, mas como tudo isso tem por detrás um enorme “preço” a pagar.
E depois …
Depois senti-me nada, senti-me pecador até ao mais profundo do meu ser!
Não pecador de pecados diários “normais” no nosso conceito de pecado, mas pecador verdadeiro, um pecador que não sabe aproveitar e fazer render os “talentos”, as facilidades que Deus permanentemente lhe dá.
Envergonhado, (e não é a primeira vez que me sinto envergonhado por testemunhos vindos daquela parte da terra), por ter tanto e dar tão pouco.
Num meio profundamente hostil, (tão hostil que o resultado para quem procede como o narrador, é a morte), aquele homem procura incessantemente Jesus Cristo, arrostando com todos os perigos, desistindo de uma vida confortável e estável, colocando de lado até o poder social, sem desistências, nem concessões a si próprio ou à sua própria família.
E eu vejo-me a encontrar desculpas para não participar da Eucaristia, (presença viva de Cristo), numa qualquer igreja a 100 metros de minha casa, ou até a alguns quilómetros, sem ter que me esconder de ninguém, nem de nada.
Dou por mim a pensar quantas vezes me reduzi ao silêncio quando diziam mal do meu Deus, da minha Igreja, para não dar nas vistas, ou por medo de alguma represália.
Quantas vezes deixei que fosse apenas o meu voto, (no segredo da urna), a combater fracamente as leis iníquas que o meu país vai aprovando contra Deus, contra a Igreja, contra a família.
Recordo os meus comodismos, os meus confortos, e que, por causa deles, tantas vezes fiquei calado não dando testemunho da fé que afirmo viver, não fosse por qualquer razão “cair em desgraça” aos olhos de outrem.
«Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Mc 10, 21
Este homem nem vendeu o que tinha! Desistiu do que tinha para seguir Jesus!
Mas eu não, eu dou apenas do que me sobra e mesmo assim dou muito menos do que poderia dar, com medo de que algo me falte.
Uns percorrem quilómetros, escondidos entre muros e árvores, para poderem chegar a uma celebração da Eucaristia.
Nós que temos estradas e bons caminhos, e podemos caminhar “às claras” pelas ruas, arranjamos razões para deixar de celebrar a Eucaristia.
Às vezes até escolhemos este ou aquele padre, porque celebra mais rápido, porque fala mais ao nosso gosto!
E protestamos porque o padre falou muito, porque os avisos são demorados, porque isto, porque aquilo … perdendo totalmente o encontro pessoal e comunitário com Cristo que se faz presente em cada Eucaristia.
A lista seria tão longa que fico por aqui.
Mas tenho que deixar vivas em mim as palavras de Jesus na “parábola dos talentos”:
«Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.» Mt 25, 26-30
Leiam este livro e sintam-se incomodados como eu, nem que seja apenas por uns dias!
Pela graça de Deus alguma coisa há-de mudar em nós.
Glória ao Senhor, que tais filhos chama para d’Ele darem testemunho!
Marinha Grande, 30 de Janeiro de 2012
Joaquim Mexia Alves
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