17 janeiro, 2012

«NÃO SÃO OS QUE TÊM SAÚDE QUE PRECISAM DE MÉDICO, MAS SIM OS ENFERMOS.»



Evangelho segundo S. Marcos 2,13-17.

Naquele tempo, Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os.
Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus.
Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que o seguiam.
Mas os doutores da Lei do partido dos fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?»
Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

Ao escutar este Evangelho na Missa de Sábado passado, detive-me na frase de Jesus:
«Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

Fiquei a pensar no médico e na necessidade de a ele recorrer se nos encontramos doentes.

E daí reflecti também que o médico não trata só da doença, mas antes, e talvez prioritariamente, deve tratar da prevenção da doença.
Por isso mesmo, e porque com certeza ninguém quer estar doente, devemos recorrer ao médico, se por qualquer razão percebemos que podemos estar em perigo de contrair uma doença.

Por pequenos sinais, por ligeiros sintomas, percebemos muitas vezes que poderemos estar a ficar doentes e assim, aconselha o bom senso, que rapidamente consultemos um médico, para que possamos iniciar um tratamento que impeça a doença de progredir e até talvez, quem sabe, se não o fizermos, podermos chegar a uma situação de falta de saúde irreversível.
É pensamento mais ou menos aceite, que a doença é uma coisa latente em nós, ou seja, que de alguma forma os “provocadores” de doença estão em nós, e é apenas uma questão de se manifestarem ou não, (às vezes porque estamos mais débeis física ou mentalmente), e a doença acontecer, privando-nos da saúde que todos devemos e queremos ter.

Comparativamente, se há coisa que um cristão reconhece e aceita, é que o pecado o envolve, é que a tentação está sempre presente, e que, por isso mesmo, a queda no pecado é algo que devemos sempre encarar, sobretudo se estamos mais frágeis na fé, mais débeis espiritualmente.

Ora como esta é uma constante da nossa vida, devemos usar das mesmas precauções que usamos para nos defender da doença.

Com efeito, para protegermos a nossa saúde, somos capazes de nos esforçar dando grandes caminhadas, fazendo dietas saudáveis, recusando certas práticas que não são aconselháveis, desistindo até, por vezes, de certos “prazeres” que sabemos são momentâneos, e que acabam por nos conduzir a estados de má disposição e até falta de saúde.
Tomamos vacinas, fazemos exames, por vezes muito incómodos e desagradáveis, mas não deixamos de cuidar da nossa saúde, que amiúde até afirmamos ser o nosso maior bem!

Claro que para fazer tudo isso, despendemos muito do nosso tempo, das nossas posses financeiras, da nossa paciência, em filas de espera, em marcações a longo prazo, e vivemos também uma grande incerteza sobre se o que estamos a fazer é o melhor e, sobretudo, se vai dar resultado.

Voltemos então à comparação com a nossa vida espiritual, e podemos perceber que não dedicamos nem um décimo do nosso tempo e das nossas energias, a precavermo-nos das tentações, a proteger-nos do mal, enfim, a evitarmos a todo o custo cair no pecado.

E no entanto o nosso “médico das almas” está sempre disponível, e os “exames” e “tratamentos” que nos prescreve, são de imediato acesso e não têm nenhum custo financeiro.
Poderemos até dizer, e permitam-me a comparação mais uma vez, que são “genéricos”, no sentido de que servem a todos, e todos lhes têm acesso.
São realmente um “serviço de saúde espiritual mundial”, em que todos são efectiva e rigorosamente iguais na capacidade da sua “utilização”.

E todos os conhecemos, porque o “Médico” é sempre o mesmo e desde logo nos ensinou o que era preciso.

São os exames de consciência, com os respectivos resultados sempre alcançados na Confissão.
São os “comprimidos” da oração individual e colectiva.
São os “alimentos saudáveis”, que é sem dúvida a Comunhão, o alimento divino.
São as “caminhadas” na fé, que nos fortalecem perante os ataques dos desânimos, das provações, dos desesperos.
É a Palavra de Deus, que não tem nenhuma contra-indicação.
São os Sacramentos, “vacinas” poderosíssimas contra as tentações e o mal.
É, no fundo, a presença constante, viva, sensível de Jesus Cristo, o “médico das almas”, que não só está connosco, mas em nós, se assim o desejarmos e quisermos.

E, melhor ainda, porque se estamos precavidos, ou seja, se “usamos” estes “tratamentos” constantemente, no dia-a-dia, então estamos fortes e bem espiritualmente, e se estamos fortes e bem espiritualmente, em comunhão com Deus, as doenças do mundo que nos tocarem, deixam de ser sofrimento, para passarem a ser entrega de amor a Deus, por nós e pelos outros.

Como eu não posso saber se vou contrair alguma doença, vou tentando tudo fazer para que tal não aconteça, seguindo alguns conselhos médicos.

Mas como eu tenho a certeza que sou pecador, tenho também a certeza que vou cair na tentação, que me vou deixar tocar pelo pecado em algum momento da minha vida, por isso, tenho que tentar com todas as minhas forças, todos os dias e em todos os momentos, ouvir as “prescrições” do meu Senhor e seguir os “tratamentos que Ele mesmo sempre nos ensina.

Monte Real, 17 de Janeiro de 2012

Joaquim Mexia Alves

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