01 outubro, 2011

Maria, Mãe da Igreja

Diác. João Carmona

Maria está ligada à vontade salvífica de Deus. Mas a sua riqueza pessoal transcende a sua singularidade. A Mãe de Jesus manifesta o amor do Pai de misericórdia, que se dignou assumir o homem exaltando-o por pura graça, pela encarnação do Filho de Deus no seio da Virgem Maria.
Segundo o desígnio divino manifestado em Cristo, a Virgem forma parte da revelação de Deus à humanidade, unindo, deste modo, a participação activa da Igreja e do homem no acontecimento transcendente da realização do desígnio salvífico de Deus.
Maria está inserida no diálogo entre Deus e o homem, diálogo que se inicia na criação e que coincide com a própria história da salvação. A mãe de Jesus aparece entre a aliança do Sinai e a nova aliança, no tempo em que se desenvolve a pedagogia divina, segundo a qual, a comunicação de Deus ao homem se faz gradualmente.
Ela está entre os pobres e humildes do Senhor, e entre as mulheres santas que mantêm a esperança da salvação, como afirma o Concílio Vaticano II: «As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Miriam, Débora, Ana, Judite e Ester conservaram viva a esperança da salvação de Israel. Delas, a figura mais pura é Maria» (Lumen Gentium, 64).
A sua maternidade sendo um dom, resultado de uma eleição divina, significa que Deus estabelece com ela uma relação que pode ser descrita em termos de graça.
Trata-se da graça da maternidade que afecta a Mãe de Deus (Theotokos), como uma realização natural do seu ser mulher. Desde a sua concepção, a Virgem está totalmente ligada a Deus, que torna possível que todo o ser desta mulher se oriente para a geração da Palavra feita carne. Ela foi criada para esta missão.
A obediência é uma manifestação da fé e entende-se como o consentimento e a realização da vontade salvífica de Deus na própria vida; a esperança é a entrega confiada, apesar da obscuridade e da falta compreensão na vivência dos diferentes acontecimentos, pois Deus sempre cumpre a sua promessa de salvação; a caridade é a característica da missão de Maria relativamente a Deus e ao seu Filho, e a respeito de todos os homens.
A salvação é obra de Cristo, pelo que Maria não o pode substituir. A sua contribuição é de fé, de obediência, de oração, de sofrimento durante a sua vida terrena, e agora, na sua vida celeste, de intercessão materna, que se une à de seu Filho. E isto em ordem a todos os eleitos, como refere o nr. 62 da Lumen Gentium: «Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada».
Cristo é o caminho obrigatório, a porta para acolher a salvação (Jo 14, 6). O contributo de Maria para a história da salvação coexiste com a única mediação de Cristo, sem a obscurecer nem limitar, mas manifestando o seu valor e o seu poder.
Como afirma o Concílio Vaticano II, a função salvífica da Virgem é cristocêntrica, deriva de Cristo e conduz a Ele, «deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece» (Lumen Gentium, 60).
A experiência de Deus, por parte de Maria, tem como fundamento a sua virgindade, a sua disponibilidade exclusiva para Deus no corpo e na alma. Trata-se de uma experiência de Deus baseada no despojamento prévio da experiência humana fundamental.
Se Maria deu o seu “sim” incondicional à encarnação e a todas as suas consequências — entre as quais se encontra como a mais importante a cruz —, fê-lo em nome de todo o ‘género humano’, dos pecadores, dos que, enquanto tal, recusam a encarnação: «Veio ao que era seu e os seus não o receberam» (Jo 1, 11.
Maria é solidária com todos, precisamente porque foi concebida imaculada e por isso goza de uma infinita capacidade de doação e de amor.
Mas se Maria dá o seu sim agradecido ao Salvador que vem, não o faz de modo algum para si mesma, mas, em princípio, por todos aqueles que têm necessidade da “salvação de Israel”.
O despojamento de Maria, do qual o seu sim é consequência natural, permite-lhe experimentar o amor misericordioso de Deus, o que nela “fez maravilhas” e cuja “misericórdia perdura de geração em geração”. Maria viveu a condição de humildade que o Senhor exaltará. Ela foi a humilde escrava de Nazaré.
Maria representa toda a nova humanidade pois ela é não só o seio donde nasce o Verbo encarnado, mas também a primeira pessoa da nova criação e, portanto, seio materno do qual brotam os homens e mulheres que, como corpo de Cristo, constituem o novo Povo de Deus.
A reflexão sobre a mãe do Senhor há-de ser relacional: não se pode falar de Maria sem falar da Trindade, do Pai, do Filho, do Espírito Santo, do homem e da Igreja, da história e da vida eterna.
Para a Mãe de Deus e Mãe da Igreja, o Pentecostes é o ponto de partida de uma missão nova que se torna, a partir de agora, verdadeiramente infinita.
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Labat n.º 61 de maio de 2006

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