11 outubro, 2011

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA (4)




4 – Sacramento de Cura e Libertação

É fácil constatarmos, quando lemos e meditamos os Evangelhos, que Jesus Cristo, antes de operar qualquer cura de uma enfermidade, perdoa os pecados àqueles que d’Ele se aproximam, no sentido de que é bem mais importante a “cura” da alma, que a cura do físico.

Um homem pode viver em paz e amor com uma enfermidade, por muito que essa enfermidade lhe tolha os movimentos, a vida.
Mas não consegue viver em paz, nem com e dando amor, se a sua vida estiver agarrada ao pecado, que vicia e escraviza.

Vivemos hoje num mundo em que a maior parte das doenças de que sofre o homem são doenças psicossomáticas, isto é, são doenças que têm a ver com a mente, com o estado de espírito das pessoas.
E são tantas coisas que fazemos na vida, que marcam as nossas vidas e se tornam tantas vezes razão de mau estar psicológico e físico.
São tantas coisas que fazemos na vida ou que nos fazem, e que nos marcam de modo tão forte que vão condicionando o nosso dia-a-dia, às vezes até sem nos apercebermos disso mesmo.
São dores de cabeça, de estômago, as insónias, as angústias, as tristezas permanentes, as depressões, a dificuldade de relacionamento com os outros, tantas vezes até, com os nossos familiares mais chegados.

A verdade é que a maioria esmagadora dessas situações se deve a factos passados nas nossas vidas, a pecados cometidos ou que cometeram contra nós, e que ainda não foram resolvidas, ainda não foram perdoados, muitas vezes por nós próprios.

Vejamos por exemplo uma pessoa que cometeu um pecado de adultério, homem ou mulher, tanto faz, e pode ter sido apenas uma vez.
Pode estar casado há muito tempo mas se realmente não se perdoou a si próprio, para além do perdão de Deus, obviamente, a sua vida estará sempre marcada por esse episódio, por esse pecado, e muitas vezes a presença da sua mulher ou do seu marido, em vez de despertar amor pode despertar um sentimento de culpa que depois se reflecte no estado de espírito da pessoa e condiciona a sua paz, a sua alegria de viver, e por arrastamento, por exemplo, um mau dormir, dores de cabeça ou outras manifestações físicas.
A pessoa não está bem consigo própria e por isso não pode estar bem com a vida.

Atentemos ainda em outro exemplo, como aquele de uma mulher que pratica o aborto.
A pessoa pode estar arrependida, ter tomado um compromisso sério de não voltar a cometer tal pecado, mas se não se perdoou a si própria, isto é, se não se deixou alcançar pela plenitude do amor, do perdão de Deus, essa pessoa viverá continuamente atormentada por aquele facto, por aquele pecado na sua vida, e não terá descanso, não terá paz, não terá felicidade.
Isso trazer-lhe-á forçosamente muitas vezes, mau estar físico que se poderá manifestar de muitos formas, como depressões, tristezas inexplicáveis, insónias, e tantas outras manifestações que não deixam que a sua vida seja verdadeiramente uma vida livre, uma vida em abundância.

Podemos ter a vida pelo facto de termos sido gerados pelos nossos pais e de termos nascido, mas podemos não a ter em abundância, isto é, na sua plenitude, que só é alcançada na comunhão com Deus.
Podemos ter momentos de alegria, mas podemos não viver a alegria que nos vem da comunhão com Deus e nos ajuda a ultrapassar as dificuldades e as provações.

Para vivermos esta comunhão com Deus, que nos dá a vida em abundância, a alegria completa, precisamos de estar reconciliados com Deus, connosco próprios e com os outros.

Pelo Sacramento da Penitência, devidamente celebrado, perfeitamente vivido, o perdão de Deus alcança-nos, e por Sua graça concede-nos também o dom de nos perdoarmos das nossas faltas, e de perdoarmos aos outros as faltas que contra nós cometeram.

A memória fica, (porque a memória não se apaga), mas já não nos magoa, não nos incomoda, não nos retira a paz, antes pelo contrário, serve-nos de ensinamento, de aviso, para que não repitamos os actos e atitudes que tanto nos magoaram.

E se a memória é libertada da dor, do incómodo, a paz instala-se, o amor reencontra-se, e assim a liberdade é uma realidade, porque ela se baseia então da relação com Deus, do amor de Deus, e o amor de Deus é incondicional, por isso mesmo nos criou em liberdade.

E é toda esta cura e libertação que podemos alcançar, pela graça de Deus, na celebração do Sacramento da Penitência.


5 – Notas Finais

Permito-me, perante esta reflexão pessoal da minha vivência do Sacramento da Penitência, perceber quanto a Igreja e todos nós cristãos temos que fazer ainda, para que este sacramento seja uma realidade na vida de cada cristão.

O ensinamento da Igreja sobre este maravilhoso sacramento, necessita de uma nova catequese, de uma nova forma de ser apresentado, uma forma que dele aproxime os cristãos, sobretudo os mais jovens, os adolescentes.

Tenho para mim, por experiência própria, que uma confissão bem celebrada, bem vivida, é um momento de paz e alegria, que se prolonga por muito tempo.

Acredito que, se conseguirmos que os adolescentes, por exemplo, sintam necessidade de se confessar, (muito mais do que por obrigação do calendário litúrgico), a Igreja será muito mais comunhão, a caridade será mais realidade, a sociedade assistirá a muito mais testemunhos de homens livres e em paz, consigo mesmo e com os outros.
Joaquim Mexia Alves

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