Com
certeza que não se entenda pelo que escrevi no texto anterior, que o ensino da
Doutrina não é importante e imprescindível.
Claro
que é, porque não se pode amar aquilo que não se conhece, e para se amar Jesus
Cristo é preciso conhecer o seu “todo”: o Deus, o Homem, o seu ensinamento, a
sua Igreja.
Mas,
nas nossas vidas, quando amamos os outros, não só precisamos de os conhecer, (o
que são e o que pensam), mas também precisamos de privar com eles, conversando,
convivendo, celebrando as datas importantes das suas e nossas vidas em
conjunto.
E
este viver, este conviver, este celebrar, tem sempre alguma emoção, (somos
seres emocionais), pois se assim não fosse, como poderíamos nós expressar o
nosso sentir no riso, nas lágrimas, e tantas outras expressões que cada
situação contém.
Ora
se a emoção sem controle pode ser perniciosa, a vida sem emoção não existe, é
vazia e sem sentido.
Por
isso é necessário também que desde o início da catequese as crianças sejam
levadas a viver a emoção de sentir Deus próximo, que não seja um Deus longe e
inacessível, mas um Deus perto, com Quem podemos rir, chorar e sentir que Ele
ri e chora connosco.
E
o sentir essa emoção do Deus próximo, tem a muito ver com essa oração pessoal,
individual e colectiva, feita de palavras nossas, que constituem um diálogo com
Deus contando as nossas vidas, as nossas preocupações e as nossas alegrias.
E
ao habituarmos as crianças a rezarem, (falarem com Jesus), de quando em vez em
frente do sacrário, não só as leva a esse encontro pessoal e intimo com Deus,
mas também lhes dá a “dimensão” da presença de Jesus Eucarístico, “dimensão”
tão importante para a Missa se “transformar” num encontro com Deus e não numa
celebração “seca” como hoje em dia se diz.
Mas
para isso, é necessário que nós catequistas tenhamos também essa intimidade com
Deus, essa forma de orar dialogando, esse encontro tão pessoal com Jesus, que
nos leva a falar d’Ele com paixão, com amor, com testemunho, de tal modo que
leve os jovens a perceberem que há um Deus bem real e presente nas nossas
vidas.
Com
certeza que cada catequista tem a sua espiritualidade, a sua maneira de sentir
e viver Deus, mas se por acaso essa vivência não é a de um Deus próximo e
presente nas nossas vidas, como podemos nós transmitir a realidade da presença
de Deus entre nós e em nós?
Sobretudo,
se em casa os pais não são cristãos “activos”, e portanto não o sendo, não são
os primeiros catequistas, a criança não terá a mínima ligação com Deus, e se
não for levada a “perceber” Deus na sua vida, a catequese transforma-se em mais
uma escola, em mais um estudo, em mais uma obrigação, em que é preciso decorar
um certo número de coisas, que, ainda por cima, parecem não ter qualquer
importância para vida do dia-a-dia.
Para
se ser catequista não será, portanto, apenas necessário saber o guia de “fio a
pavio”, conhecer muitas dinâmicas, “ter jeito” para ensinar, mas para além
disso, ser um cristão de vivência diária da fé que testemunha Cristo na sua
vida, nas suas atitudes, nos seus gestos, nos seus sentires, na sua entrega e,
sobretudo, confiar que é Ele que transforma, que converte, que dá a graça da fé,
servindo-se de nós, seus «servos inúteis».
Reparemos
que muitos pais cristãos convictos e empenhados, podendo não saber muito de catequese,
são no entanto aqueles que dão aos filhos os seus primeiros contactos com Deus,
e fazem-no de tal forma e com tal paixão, (nas orações da noite, junto à cama, às
refeições, etc.), que os seus filhos sentem que Deus faz parte das suas vidas,
faz parte das suas famílias, e que é o Guia de amor sempre presente, que os conduz
em cada momento alegre ou triste, dando-lhes razão de vida e razão de amor, e portanto
vai perdurar para sempre nas suas vidas, mesmo que aconteçam afastamentos mais
ou menos longos, como a mim aconteceu.
Nota:
Gostaria
que estes textos não fossem entendidos como uma qualquer crítica ou “lição”,
(para tal não tenho competência), mas sim fruto de uma reflexão pessoal que vou
fazendo ao sabor do que vou escrevendo.
Marinha
Grande, 3 de Julho de 2013
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