Ao ler e
ouvir este versículo do Evangelho de Domingo, não pude deixar de estabelecer um
paralelo com frases que tantas vezes pronunciamos no nosso dia-a-dia, quando
alguém nos chama a atenção para as nossas falhas, os nossos erros, as nossa
fraquezas, as nossas atitudes.
“Quem é ele
para me dar lições?”
“Era o que
mais faltava, não aceito lições de qualquer um!”
“Mas quem é
que ele se julga para me dar conselhos?”
“Essa é boa,
então o sujeito é um zé-ninguém, e vem para aqui dar conselhos?”
“Coitado, não
tem instrução e julga que sabe da vida!”
E podia
repetir dezenas de frases idênticas, que eu já pensei ou pronunciei em tantas
ocasiões, em que alguém me chamou a atenção para algum erro ou falha minha.
E porquê?
Porque
verdadeiramente aqueles a quem dirigi tais frases, em pensamento ou vocalmente,
não poderiam fazer-me tais reparos ou dar tais conselhos, ou porque o meu
orgulho me impedia de os ouvir e me incomodava seriamente o que me estavam a
dizer, por ser real e verdadeiro e exigir de mim uma mudança de atitude?
Seriamente,
tenho que reconhecer que na esmagadora maioria das vezes em que tal aconteceu,
os outros tinham razão em chamar-me a atenção e dar-me conselhos, para eu
questionar as minhas atitudes e formas de proceder.
Mas se eu
acredito que Deus está em mim e está no meu próximo, e se acredito que se Ele
se serve de mim para dar testemunho, então tenho que acreditar que também se
serve dos outros em relação a mim.
Eu acredito,
sem dúvidas, que Deus me/nos fala de muitos modos, e que um deles é através dos
nossos irmãos, sejam eles sacerdotes, ou leigos como eu.
E acredito
também que, não fazendo Deus acepção de pessoas, se serve de todos, desde os
mais simples aos mais instruídos, para nos fazer chegar a sua Palavra, a sua
mensagem, a sua exortação.
Não eram os
primeiros Apóstolos simples pescadores?
Não nos
admiramos nós, por exemplo, com a sabedoria de vida dos mais velhos em tantas
coisas, (como por exemplo a agricultura), e afinal muitos deles não têm nenhum
“curso superior”, ou “instrução elevada”?
Quando não
queremos ouvir, nem aceitar o que os outros nos dizem sobre os nossos
comportamentos, (que interiormente sabemos estarem errados), não estamos a
fazer mais do que estes de que nos fala o Evangelho:
Os numerosos ouvintes
enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é
esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é
Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de
Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes
escandaloso. Mc 6, 2-3
Joaquim Mexia Alves
Sem comentários:
Enviar um comentário