A representação das imagens dos Santos acompanhou todas as expressões artísticas ao longo dos séculos.
Os artistas idealizaram as figuras dos doze Apóstolos e de muitas
outras figuras do Novo e do Antigo Testamento, bem como as imagens dos
homens e das mulheres que subiram aos altares muito tempo depois de terem morrido, e sem terem deixado retratos pintados ou esculpidos porque estes eram apenas acessíveis aos nobres e aos muito ricos.
As representações idealizadas dos Santos foram-se transmitindo como referências de geração em geração, até aos nossos dias.
Como os modelos eram repetidos sem grandes variações para poderem ser reconhecidos, tornava-se necessário distinguir os personagens uns dos outros através de sinais que os identificassem, principalmente quando os Santos e as Santas eram religiosas e vestiam hábitos, o que era a grande maioria.
Os sinais identificadores dos Santos eram elementos simbólicos directamente relacionados com a vida ou com a missão de cada um, pelo que passavam a fazer parte da respectiva iconografia.
Podemos
ver como as imagens dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo que chegaram até
nós, e que continuam actuais, apenas diferem uma da outra através da associação de alguns
objectos: S. Pedro é representado com as chaves alusivas ao Reino dos
Céus, enquanto S. Paulo é representado com uma espada, instrumento do
seu martírio.
Nas imagens de dois Santos franciscanos, S. Francisco de Assis e Santo António, as diferenças evidenciam-se principalmente nos seus atributos: os estigmas nas mãos e no peito de S. Francisco, que geralmente tem uma pequena barba, e um livro, o Menino Jesus e uma açucena nas mãos de Santo António que é representado de cara rapada e com uma grande tonsura.
A representação dos Santos recentemente canonizados continua a repetir o estilo dos antigos modelos, como temos visto na maioria da beatificações e canonizações transmitidas de Roma, quando se suspendam os telões com os rostos dos novos Santos e Beatos na fachada principal da Basílica de S.Pedro.
Porém, em alguns casos mais recentes, a realidade da fotografia acabou por se impor. O retrato captado em circunstâncias reais e concretas da vida dos beatificados deu origem a uma situação completamente nova, e sem paralelo, no campo da iconografia católica.
A novidade torna-se
mais contrastante nos casos em que os beatificados são fiéis leigos,
quando as fotografias os mostram felizes e contentes, e inclusivamente a
rir, ou em situações particulares da sua vida quotidiana, ou seja, sem
ser na postura tradicional dos Santos, geralmente representados de hábito, de mãos
postas e a olhar seraficamente, para o alto.
Curiosamente pertencem a Portugal dois daqueles exemplos: a
fotografia inconfundível dos Pastorinhos em traje domingueiro,
visivelmente assustados e de sobrolho franzido no meio de um campo, foi uma imagem que se impôs desde o início e quando foi descerrada na fachada da basílica de Fátima. Na sua rude simplicidade, a fotografia de Jacinta e de Francisco colocou-nos perante a verdade nua e crua da grandeza da fé e do sacrifício livre e heroicamente assumido pelas duas crianças na vida e na morte prematura.
O segundo exemplo foi a imagem alegre e bem-disposta de Alexandrina de Balasar, fotografada com o cabelo descoberrto e a olhar para a objectiva com um sorriso tão largo que lhe mostrava os dentes, desmentindo o sofrimento que se sabia ter, e com a naturalidade de uma vida mística tão intensa que lhe dispensava a alimentação.
Um caso idêntico e muito recente aconteceu quando da canonização de Gianna Beretta Molla, uma médica pediatra italiana que deu a vida pelo seu último filho. Na fachada de S.Pedro e lado a lado com as imagens sérias e solenes de vários religiosos e religiosas vestidos de escuro, e em atitude orante, apareceu uma fotografia luminosa de uma jovem e lindíssima senhora a abraçar um bebé, ambos radiantes de alegria, de ternura e de amor.
Estes retratos fotográficos de pessoas concretas e muito diferenciadas, que foram impressos em gigantescos telões agitados pelos ventos de Fátima e de Roma, introduziram um novo estilo de iconografia e um novo conceito de representação
dos Santos; neste casos a fotografia traduz, melhor do que a pintura,
um hino à vida, àquela vida em abundância que Jesus prometeu.
Através destas representações torna-se mais visível e palpável a realidade do mistério da Encarnação e da acção santificadora que o Espírito Santo realiza no ser humano, sempre de forma surpreendente na diversidade dos seus dons e carismas.
Emília Nadal
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