Naquele tempo, Jesus propôs à multidão mais esta parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ 'Foi algum inimigo meu que fez isto’ respondeu ele. Disseram-lhe os servos: 'Queres que vamos arrancá-lo?’
Ele respondeu: 'Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.’»
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Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.»
Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai.
Aquele que tem ouvidos, oiça!»
Ao ouvir este Domingo o Evangelho e a homília do sacerdote que presidia à celebração, fui-me deixando conduzir a “ver” mais para além das palavras que já tão bem conhecia, desta parábola.
“Saltou-me” ao coração esta frase dos “servos do dono”: 'Queres que vamos arrancá-lo?’ Mt 13, 28
Pressurosos, queriam de imediato tratar da “pureza” do campo, e desde logo eliminar tudo o que não fosse, segundo a sua visão, o trigo que tinha sido plantado.
Mas o dono do campo, pacientemente, disse-lhes que não, que era melhor esperar, que era melhor perceber e ter a certeza daquilo que era trigo e daquilo que era joio, pois na precipitação poder-se-ia eliminar também algum trigo bom.
E isto fez-me lembrar as nossas atitudes perante os outros, perante aqueles que julgamos não serem “verdadeiros cristãos”, e por isso mesmo, tantas vezes os desprezamos e colocamos de lado, sem tentar perceber se naquele que julgamos “joio”, não poderá haver afinal “trigo”.
E se por vezes não tomamos atitudes directas de exclusão para com eles, tantas vezes os olhamos de lado, com olhar reprovador, porque aquele ou aquela viveram fora da Igreja, ou vivem esta ou aquela situação, ou fazem isto ou aquilo que para nós é condenável.
E quem nos permitiu a nós, sabermos se naquilo que nos parece “joio”, não vai ainda nascer uma bela “espiga de trigo”, fruto bom que pode ser dado a outros?
Quem nos instituiu a nós “julgadores”, “separadores” do “trigo” e do “joio”?
O Senhor diz-nos nesta parábola, «deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa».Mt 13, 30
Este não é um “campo” de exclusão, é um “campo” de acolhimento.
Agora ainda não se consegue perceber aqueles que vão ser “trigo” e aqueles que vão ser “joio”.
Deixá-los crescer juntos, porque alguns daqueles que agora parecem “joio”, serão afinal “trigo” para ser recolhido no “celeiro do dono”.
Será o Senhor, no tempo certo, que dirá o que é “joio” e o que é “trigo”, e serão os anjos que apartarão o que for necessário apartar.
E o Senhor termina estas parábolas com este ensinamento:
«o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!» Mt 13, 41-43
E o final do Evangelho este Domingo, traz ao meu coração, que não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem ou conseguem mudar a vontade de Deus, que podem ou conseguem mudar a Doutrina, que podem ou conseguem mudar a Palavra revelada.
Não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem mudar aquilo que é mau, aquilo que é “joio”, em coisa boa, em “trigo bom”.
Por muito que argumentem com razões para “legitimar” o aborto, por exemplo, este nunca será “legítimo”, este nunca será da vontade de Deus, este será sempre “joio”.
Não tenhamos dúvidas que por muito que tentemos “torcer” a Palavra de Deus, para servir os nossos propósitos, a nossa vontade, não seremos nós que escolheremos e separaremos o “joio” do “trigo”, mas será o “dono do campo” que saberá o que deve ser recolhido no seu “celeiro” e o que deve ser lançado no fogo.
E o “dono do campo” já nos disse muito claramente, o que é o “trigo” e o que é o “joio”, para que não nos enganemos, e crescendo juntos no mesmo campo, possamos todos ser “trigo” para ser recolhido no “celeiro” do Senhor.
Joaquim Mexia Alves
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