20 junho, 2010

O Espírito Santo e a Evangelização


No Domingo de Páscoa Jesus já tinha dito aos discípulos: “Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 21-22).
Primeira efusão pós-pascal do Espírito que lança os discípulos na missão. Na Páscoa nasce a mística do apostolado.
Enviados por Jesus, com a presença e força do Espírito para evangelizar. Mas no dia da Ascensão o envio foi ainda mais claro: “Ide por todo o mundo, fazei discípulos e baptizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19).
“Ide” é o mandato da missão, da evangelização para pregar e fazer discípulos. Contudo no dia de Pentecostes, com a efusão plena do Espírito, a Igreja toda nasce evangelizadora e missionária.
Com as línguas de fogo todos são repletos do Espírito e enviados em missão.
Ter recebido esse Espírito no baptismo, no crisma, na efusão do Espírito, no baptismo do Espírito deve-nos tornar, cada vez mais evangelizadores, missionários, profetas da esperança, mensageiros da Boa Nova, anunciadores de Jesus que é Vida, que é Salvador.
A nossa oração deve levar-nos sempre à missão. Estamos sempre em estado de envio, como fermento activo no meio da massa, em estado de profeta que anuncia a verdade, desmascara a injustiça, proclama o bem, anuncia a salvação.
Não podemos ficar no “quentinho” da nossa oração, dentro do adro da Igreja, menos ainda na sacristia. Temos que nos lançar em missão, inventando modos concretos de levar aos outros a Pessoa de Jesus, a sua Palavra, o seu Evangelho.
Como S. Paulo cada um de nós poderá e deverá dizer: “Ai de mim se não evangelizar”(1ª Cor 9, 16), se não for discípulo ardoroso, com-paixão e encanto, com audácia, de um modo destemido, anunciador de Jesus Salvador.
O Espírito nos lança em missão, nos lança no dinamismo apostólico, nos quer destemidos e audazes, pela sua graça e pela sua força. O Espírito nos ungiu e nos trabalha interiormente para estarmos em missão, para ajudar a libertar, a remir, a evangelizar.
O dinamismo do Espírito Santo quer fazer de cada um de nós um apóstolo, com coragem evangélica. Por isso não nos podemos acomodar, calar com respeito humano, com cobardia. Não devemos permitir que outros pelo mal possam fazer mais que nós pelo Reino, por Jesus, pela missão de verdadeiros evangelizadores. Baptizado que não é apóstolo é apóstata, já está a renegar a sua fé e a faltar à sua missão.
É a força e o dinamismo do Espírito que faz da Igreja uma Igreja missionária. Desde o Pentecostes de há dois mil anos, a Igreja sempre assumiu essa sua missão, para levar o Evangelho da salvação a todos os homens, para cumprir a sua missão de Mãe e Mestra, para ser Profeta, Santificadora e Pastora, num dinamismo de amor a Jesus, pelo sopro divino do Espírito.
Não foi só o anúncio da Palavra, foi também as obras de misericórdia, o cuidado com o rebanho do Senhor, a solicitude com o mundo pecador e sofredor. Foi sempre impulsionada pelo desejo efectivo da salvação, da santificação do Povo através da oração e dos sacramentos. Mas isso nunca lhe tirou os rasgos do serviço humilde, da caridade, da vida doada em amor.
Cuidar do pobre, do doente, do marginal, do infeliz, do que não tem pão, casa, cultura. Uma Igreja, movida pelo Espírito, em contínua missão de bem-fazer, de caridade, de dom e serviço.
Todos os que rezamos, que participamos da Eucaristia, que no nosso Movimento Carismático pertencemos a um grupo de oração, temos que ter este dinamismo evangelizador e missionário.
Foi isto que o Papa Bento XVI nos pediu, nos recomendou na sua visita ao nosso país. Falou da missão, da evangelização, pediu que fossemos às nossas origens de Portugal missionário, que re-descobríssemos a nossa vocação de evangelizadores. Não podemos instalar-nos, aburguesar-nos, ter uma oração estéril e uma vida de sacramentos sem audácia apostólica.
O mundo precisa de nós; somos homens e mulheres para evangelizar o mundo. Talvez até o mundo mais perto de nós: a nossa família, os nossos vizinhos, os nossos colegas de trabalho, os nossos amigos, os membros da nossa paróquia, da nossa diocese. Tem que nos arder no coração o fogo que Jesus trouxe à terra, pois Ele quer que esse fogo se incendeie, e que incendeie todos os corações.
Que pode e deve fazer cada um de nós? Como vamos revitalizar a nossa vocação evangelizadora e missionária? Como queremos sair da nossa oração mais apóstolos audazes e destemidos? Apóstolos, evangelizadores pela oração, pela penitência, pelo testemunho de vida, pela palavra proclamada com desassombro e audácia.
Não esqueçamos nunca que não é a nossa palavra que converte ou que salva, mas a palavra de Jesus, pela acção do Espírito. Daí a necessidade de rezar a Palavra, de fazer dela vida da nossa vida. E será o Espírito a trabalhar o coração dos que nos ouvem a aderir à palavra que é anunciada.
Ninguém converte ninguém, mas somos todos instrumentos do Espírito para, com Ele, trabalharmos na obra da evangelização. Não é uma opção pessoal, um gosto pessoal, é missão de todos, é “obrigação” de todos.
Que o Espírito nos queime por dentro, nos incendeie o coração para sermos cada vez mais evangelizadores apaixonados, arautos da Boa Nova, mensageiros da Vida.

Dário Pedroso, SJ
Labat n.º 105 de Junho de 2010

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