16 abril, 2010

Mistério Pascal: Revelação do Amor


Toda a vida do Verbo Encarnado foi manifestação do amor trinitário, mas o Tríudo pascal coloca diante de nós, dum modo, dum modo muito evidente, a revelação desse amor. Deus é Amor (cf. 1Jo 4, 8), mas o mistério pascal é a mais solene e rica revelação desse amor, numa trilogia enriquecida pelos momentos mais significativos da experiência pascal de Jesus.
Amor eucaristico de Quinta Feira Santa, amor em que Jesus lava os pés com humildade de escravo, em que institui a Eucaristia como sacramento de amor, em que institui o sacramento da Ordem para que homens possam perpetuar a sua oferta e os outros sacramentos, em que Se dá a nós na entrega mais generosa e mais total, como sacerdote e vítima, em que faz a bela e longa Oração sacerdotal que S. João coloca no capítulo 17 do seu evangelho.
Amor eucarístico que prova a eloquência da dádiva do novo Cordeiro pascal que Se entrega para ser nosso alimento, em que Jesus quer ficar connosco no sacramento da Eucaristia, em que há a oração pela unidade de todos com Ele, por Ele, por ele e n’Ele.
Amor eucarístico em que o Bom Pastor se dá em alimento às suas ovelhas, em que o Pão Vivo se torna manjar celeste, em que homens são investidos do poder sacerdotal.
Amor crucificado de Sexta feira Santa, em que a vítima Se oferece em holocausto na Cruz, em que se dá a maior prova de amor, a morte pelos amigos, em que o Cordeiro que tira o pecado do mundo, Se deixa matar para nos remir e salvar, em que a misericórdia se torna operante, perdoando, remindo e fica perpetuada com a palavra “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Amor crucificado em que o cordeiro Imaculado se oferece pela salvação de todos, em que o Bom Pastor vai até ao extremo do dom da vida, em que a oferta é feita em pleno holocausto.
Amor crucificado simbolizado no Coração aberto, para provar a “loucura” apaixonada do nosso Deus, em que todos somos aspergidos pelo sangue redentor, em que a Igreja sai do seu lado aberto no símbolo de água e de sangue, os sacramentos do baptismo e da eucaristia.
Amor crucificado em que Jesus continua a ter sede de nós, da nossa amizade, do nosso amor, da nossa entrega generosa e fiel.
Amor ressuscitado de Domingo de Páscoa, continuado em todo o tempo pascal, em que a paz e a alegria invadem o coração e a vida dos cristãos, começando pelos apóstolos, em que é dado poder de perdoar e a primeira efusão do Espírito, em que Jesus nos envia em missão, para ser no mundo suas testemunhas.
Amor ressuscitado em que nos é dito que Deus é nosso Pai e que somos irmãos de Jesus, em que se gera a fraternidade universal e a comunhão de irmãos, em que o Cristo Pascal nos faz introduzir na comunhão trinitária.
Amor ressuscitado em que a Igreja é consolidada pela força do Espírito, em que Jesus nos convida, como a Tomé, a entrar em seu Coração aberto, em que somos enviados pelo mundo inteiro a baptizar, a anunciar o amor, a fazer discípulos.
Amor ressuscitado em que Jesus, doravante, fica presente e actuante na Igreja, na Palavra, na Eucaristia, em nós, em todos, sobretudo nos mais pobres e nos que sofrem (cf. Mt 25, 31 e seg.)

Trilogia do amor, amor-perfeito com três pétalas: eucarístico, crucificado, ressuscitado. O mistério pascal torna-se a revelação mais esplendorosa do amor. Viver o mistério pascal é entrar neste circuito do amor.

Dário Pedroso, s.j.
(Labat n.º 103 de Abril de 2010)

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