31 maio, 2012

“SERVO DE TODOS”




Naquele tempo, Jesus e os discípulos iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Os discípulos estavam preocupados, e aqueles que os seguiam estavam cheios de medo. Tomando de novo os Doze consigo, começou a dizer-lhes o que Lhe ia acontecer: «Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. E hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará.»
Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.»
Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?»
Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.»
Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?»
Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.»
Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.» Mc 10, 32-45

Ao ler e meditar o Evangelho de ontem, chamou-me a atenção este particular versículo:
«Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João»

Fiquei então a pensar: E indignaram-se porquê?

Pela desfaçatez do pedido? Porque acharam “indigno” que eles pedissem semelhante coisa? Porque ao fazerem este pedido era nítido não tinham percebido nada do que lhes tinha ensinado Jesus? Ou seria porque se sentiam ultrapassados pelo pedido? Porque tinham inveja, pois também almejavam essas “posições” de “superioridade”, de protagonismo?

Claro que este pensamento tinha que forçosamente ser reflectido na minha vida e na nossa vida em Igreja e em sociedade.

Quando nós criticamos aqueles que estão em “posições” de destaque, seja na Igreja, seja na sociedade, fazemo-lo com o intuito de ajudar à construção, ou apenas porque queremos ser nós a ocupar tais “posições” e por isso mesmo os invejamos?

Criticamos o seu desempenho e actuação, reflectindo sobre as nossas próprias fraquezas, (provavelmente iguais às dos criticados), reconhecendo-as em nós, ou apenas criticamos para tentarmos atingir tais “posições” que agradam ao nosso ego?

E se quisermos ir ainda mais fundo, poderemos reflectir se colaboramos fielmente, solidariamente com esses que foram escolhidos, ou pelo contrário, para além das críticas, ainda de alguma forma, mais ou menos visível, “sabotamos” o seu trabalho e a sua missão?

Olho para dentro de mim e sinto alguma vergonha ao fazer esta reflexão, porque não tenho dúvidas que muitas vezes agi de acordo com as perguntas que aqui faço.

Deus tenha compaixão da minha fraqueza, e que, sobretudo, me ajude a viver a Palavra que Jesus nos quis ensinar: «Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos.»


Monte Real, 31 de Maio de 2012
Joaquim Mexia Alves

30 maio, 2012

BENTO XVI - Audiência Geral


Praça de São Pedro

 
Quarta-feira, 30 de Maio de 2012


Queridos irmãos e irmãs,

A oração é um verdadeiro encontro com Deus Pai, em Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo. Assim se encontram o «sim» fiel de Deus, que vem em nosso auxílio e nos conforta, e o «ámen» dos fiéis que, nas provas da vida, se abandonam à vontade divina. A oração perseverante e diária faz-nos sentir, de forma concreta, a consolação do Pai do Céu e a fidelidade do seu amor que foi ao ponto de nos dar o seu Filho na cruz. Por nossa vez, somos chamados a corresponder com o «ámen» duma adesão fiel de toda a nossa vida à sua vontade. Esta fidelidade não se pode alcançar só com as nossas forças, mas vem de Deus e está fundada sobre o «sim» de Cristo, cujo alimento é fazer a vontade do Pai. É neste «sim» que devemos entrar, até podermos repetir, com São Paulo, «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim». Então o «ámen» da nossa oração pessoal e comunitária envolverá e transformará toda a nossa vida.
* * *
Amados peregrinos de língua portuguesa, em particular os participantes no curso de formação dos Capuchinhos e demais grupos do Brasil e de Portugal: a todos dou as boas-vindas, encorajando os vossos passos a manterem-se firmes no caminho de Deus. Tomai por modelo a Virgem Mãe! Fez-Se serva do Senhor e tornou-Se a porta da vida, pela qual nos chega o Salvador. Com Ele, desça a minha Bênção sobre vós, vossas famílias e comunidades eclesiais.

© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana

27 maio, 2012

PENTECOSTES (2)



Encerrado na minha casa,
sozinho,
deixo as janelas e portas fechadas,
pois tenho medo do que me pedes,
Senhor!

Como sempre,
quando tenho medo,
peço a tua Mãe que me ajude,
e me ensine o caminho!

E o que faz Ela?
Reza,
pede –Te o Espírito Santo,
para Ela,
para mim,
para todos.

De repente,
vindo do Céu,
ou de dentro de mim,
(pelo Baptismo, pelo Crisma),
irrompe uma força,
um vento impetuoso,
que leva as minhas dúvidas,
arrasta os meus medos,
e abre o caminho para Ti,
Senhor!

E eu levanto-me,
encho-me de coragem,
(ou és Tu que me enches,
Espírito de Deus),
e num grito da alma,
proclamo:
meu Senhor e meu Deus!

Quero quedar-me assim,
a gozar da tua presença,
mas Tu não me deixas,
e abrindo as janelas,
escancarando as portas,
mostras–me o mundo e dizes-me:
Vai, anuncia-Me!

Oh, pobre de mim,
o que dizer,
o que fazer,
como anunciar-te,
Senhor!

Mas Tu,
Senhor,
docemente,
sedutoramente no amor,
como sempre fazes,
dizes-me ao ouvido:
«diz o que te for dado nessa hora,
pois não serás tu a falar,
mas sim o Espírito Santo.»*


* Mc 13, 11

Marinha Grande, 27 de Maio de 2012
Joaquim Mexia Alves

PENTECOSTES (1)



Com o Pentecostes, tudo mudou
Antes, os Apóstolos estavam tristes, cheios de medo, hesitantes na Fé, fechados no seu isolamento. Mas no dia de Pentecostes, por entre um ruído de rajadas de vento e línguas de fogo, o Espírito Santo tomou posse deles e fê-los falar, com desassombro e entusiasmo, em línguas que eram entendidas pela multidão imensa que acorreu e incluía homens de diferentes culturas, raças e nações. Pedro falou com tal sabedoria, que todos “ficaram emocionados até ao fundo do coração” (Act. 2, 14-37). Foram cerca de três mil os que se converteram e receberam o baptismo nesse dia.
A partir de então, os Apóstolos e os discípulos sabiam e confessavam que era o Espírito Santo que os levava pelo mundo fora, que lhes dizia o que deviam fazer, que lhes dava a palavra certa no momento certo. Era o Espírito Santo que os fazia converterem multidões, realizarem milagres de todo o género, louvarem a Deus em alegria, mesmo perante as perseguições e o martírio.
Ao longo destes vinte séculos de Igreja, inúmeras vezes se têm renovado as maravilhas do Pentecostes. Sempre que um cristão tem uma experiência forte de Deus que o faz mudar de vida, que o faz entender a Escritura de modo novo e compreender a sua vida toda como o Senhor a vê. É Pentecostes, é efusão do Espírito Santo. E nós, carismáticos, temos vivido tudo isto, e muito mais, tantas vezes...
Se este ano nos sentimos cansados, tristes, cheios de medo, desiludidos de nós próprios, estamos no bom caminho. Era assim que estavam os Apóstolos imediatamente antes do Pentecostes, mas “unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus” (Act. 1, 14). Se assim fizermos também sobre a nossa fraqueza e o nosso nada, descerá de novo o Espírito do Pentecostes em toda a sua força. Tomará posse de nós. Renasceremos para uma vida nova e mais feliz.
Luís Archer, s.j.
Editorial do Labat, 24 de junho de 2003

23 maio, 2012

PAPA BENTO XVI - Audiência Geral


Praça de São Pedro
Quarta-feira, 23 de Maio de 2012

[Vídeo]

Queridos irmãos e irmãs,
O Espírito Santo nos ensina a tratar Deus, na oração, com os termos afetuosos de «Abbá, Pai!», como fez Jesus. São Paulo, tanto na carta aos Gálatas como na carta aos Romanos, afirma que é o Espírito que clama em nós «Abbá, Pai!», fazendo-nos sentir numa relação de profunda confiança com Deus, como a de uma criança com seu pai. Hoje muitos não se dão conta da grandeza e da consolação profunda contidas na palavra «Pai», dita por nós a Deus na oração. O Espírito Santo ilumina o nosso espírito, unindo-nos à relação filial de Jesus com o Pai. Realmente, sempre que clamamos «Abbá, Pai!», fazemos isso movidos pelo Espírito, com Cristo e em Cristo, e sempre em união com toda a Igreja. De fato, desde o princípio, Ela assumiu esta invocação, de modo particular na oração do «Pai-Nosso». Quando rezamos ao Pai, nunca estamos sozinhos. É a Igreja que sustém a nossa invocação, porque a nossa invocação é invocação da Igreja.
* * *
Queridos peregrinos de língua portuguesa: sede bem-vindos! Saúdo de modo particular os brasileiros do Rio de Janeiro, do Rio Grande de Sul, bem como as Irmãs Franciscanas de São José. Com a proximidade da solenidade de Pentecostes, procurai, a exemplo de Nossa Senhora, estar abertos à ação do Espírito Santo na vossa oração, de tal modo que o vosso pensar e agir se conformem sempre mais com os do seu Filho Jesus Cristo. De coração vos abençoe a vós e às vossas famílias!

© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana

22 maio, 2012

O DIA DA MINHA EFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO


 

Estavam os Três reunidos num só, como desde sempre, quando Deus Pai disse:
É hora, ide.

Então, Jesus Cristo e o Espírito Santo, “desceram” da casa do Pai, e entraram em mim.

Olharam, tornaram a olhar, franziram o sobrolho e disseram:
Esta habitação está a precisar de muitas obras, de melhoramentos, de uma boa remodelação, enfim, praticamente uma habitação nova.

Jesus disse para o Espírito Santo:
Abre essas janelas! Esta casa está fechada há muito tempo, está bolorenta, fria e sem luz, nem vida. Sopra o teu vento para afastar todos estes maus cheiros, todas estas teias de aranha e perfuma toda a casa com odores de nova primavera, deixando entrar a Luz.

O Espírito Santo assim fez e depois da casa arejada e iluminada, reparou nas paredes e disse a Jesus:
Olha para estas paredes, cheias de cores pesadas e desenhos feios e monstruosos. Podias pegar no pincel, na tinta mais branca e dar uma pintura geral, para que a casa brilhe com a Luz, vestida de branco.

Jesus assim fez e quando acabou as pinturas a casa brilhava, cheirava bem, tinha novos ares, mas ainda com cortinados e mobílias velhas.
Então o Espírito Santo sugeriu a Jesus:
Porque não chamas a tua Mãe para nos ajudar? Ela deve ter jeito para estas coisas!

Assim, Jesus chamou a Virgem Maria e pediu-lhe:
Mãe, vê o que podes fazer para mudar estes cortinados e esta mobília, porque o mais importante já Nós fizemos.
Maria, nossa Mãe, deitou mãos à obra com o seu amor maternal e em pouco tempo a casa estava habitável, com calor, com luz, esperando a vinda do Pai, para a inspecção final.

Veio então o Pai.
Entrou na casa, visitou-a demoradamente, conferiu que o branco era o mais branco que havia, conferiu que a luz era a mais brilhante, confirmou que os cortinados e a mobília eram novos e de material para durar, e disse pausadamente:
Sempre gostei muito desta casa, mas assim está muito melhor. Quereis morar nela?

Jesus e o Espírito Santo trocaram um sorriso cúmplice e disseram a uma só voz:
Também gostamos muito mais assim! É uma boa habitação para fazer morada, mas antes temos que falar com o dono dela.

Olharam para mim com aqueles olhos de infinito amor e perguntaram:
Estás disposto a manter esta casa sempre limpa, arejada, iluminada e com o branco imaculado?
Estás disposto a enchê-la de paz, amor, tranquilidade e muita alegria?
Estás disposto a não deixar entrar nela ladrões, mentirosos ou ideias que a corrompam?
Estás disposto, isso sim, a ter a porta sempre aberta aos que necessitam de comer, beber, descansar ou que de alguma forma precisem de ti?
Estás disposto a não te servires dela para outros fins, que não seja a nossa habitação?
Estás disposto a que, quando por qualquer motivo, sujares ou estragares alguma coisa, Nos pedires perdão e reparares o mal que fizeste?
Estás disposto a ter um quarto sempre pronto para minha Mãe, quando Eu a convidar para nos visitar?
Estás disposto, enfim, a receber nela os nossos amigos e aqueles que nós escolhermos para tu convidares?

E eu, humildemente, alegremente, dançando e louvando, respondi cantando:
Pois se Tu és o meu Senhor Jesus, que deu a vida por mim, pois se Tu és o meu Senhor Espírito Santo que me consolas e guias, pois se Tu és o meu Pai que me ama e criou em amor, como posso eu dizer que não? Digo sim, setenta vezes sete vezes, sim!
Mas também tenho que Vos pedir, meu Deus e meu Senhor, que me ajudeis sempre, que estejais sempre nesta casa, e que, meu Pai e meu Deus, quando eu falhar e não vos pedir perdão por estar distante, me ajudeis na mesma, chamando-me a atenção para que vos peça perdão e assim seja restabelecida a comunhão que eu tinha quebrado.

Então o Pai, unido ao Filho e ao Espírito Santo, num só Deus, com lágrimas de alegria nos olhos, mandou dar início à festa do regresso deste seu filho que andava perdido, tomou conta da habitação e cantando, dançou para que a alegria fosse completa.

E eu, pequenino, humilde, só louvava dizendo:
Glória, glória ao Senhor nosso Deus, que perdoou, aceitou e fez nascer de novo este seu servo!


Festa da Ascensão – Monte Real, 16 de Março de 1999
Joaquim Mexia Alves


Nota:
Porque neste próximo Domingo se celebra a Solenidade de Pentecostes, lembrei-me deste texto escrito há 13 anos.

O que é a “efusão do Espírito Santo” ou “baptismo no Espírito Santo” no Renovamento Carismático Católico?

A efusão do Espírito Santo (ou baptismo do Espírito) é uma renovação e uma actualização de toda a iniciação cristã, e não só do baptismo. O interessado prepara-se para isso, não somente através de uma boa confissão, mas participando em encontros de catequese, nos quais é conduzido a um contacto vivo e alegre com as principais verdades e realidades da fé: o amor de Deus, o pecado, a salvação, a transformação em Cristo, a vida nova no Espírito Santo, os carismas, os frutos do Espírito Santo. E tudo num clima caracterizado por uma profunda comunhão fraterna.
É através do que precisamente se chama baptismo do Espírito que se faz a experiência do Espírito: da Sua unção na oração, do Seu poder no ministério apostólico, da Sua consolação na prova, da Sua luz nas opções. Mais do que na manifestação dos carismas, é assim que se faz a percepção do Espírito: como Espírito que transforma interiormente, que dá o gosto do louvor a Deus, que faz descobrir uma alegria nova, que abre a mente à compreensão das Escrituras, e que, sobretudo, nos ensina a proclamar Jesus como Senhor. E ainda nos dá a coragem para assumir novas e difíceis tarefas, ao serviço de Deus e do próximo.

Pe. Raniero Cantalamessa, Foi nomeado por João Paulo II Pregador da Casa Pontifícia em 1980 e confirmado no cargo por Bento XVI, em 2005
in: "Documento de Malines I" (Posfácio à trad.portuguesa), ed. Pneuma

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