10 setembro, 2009

A Tentação do RCC

(REACENDE O DOM DE DEUS – 2 Tm 1,6)

Ramiero Cantalamessa

O Padre Raniero Cantalamessa OFM, pregador da casa papal, fez um aviso desafiador na Conferência de Rimini, no início dos anos 80. Publicamos agora, excertos desta conferência, uma vez que continua muito actual para nós hoje.

Pobreza
Uma das tentações que o Renovamento enfrenta hoje, é querer ser algo em si próprio, olhar uns para os outros, contando os números, movendo o nosso olhar (contemplação), pouco a pouco, do sol para a sombra.

(…) Ás vezes pergunto-me, a mim mesmo, como é que Jesus gosta tanto de alguns dos nossos grupos de oração que aparecem aqui e ali no Renovamento. Tanto poder e tantos prodígios são manifestados neles. E, parece-me que o segredo, que faz deles tão queridos de Deus, é a sua absoluta pobreza.
O facto de que não têm passado e nem sequer um futuro. Eles são quase um ‘nada’ como algumas formas de vida que se formam de manhã e desaparecem à noite, levadas de volta para o grande seio da vida, como uma pequena nuvem que desaparece no céu, depois de ter derramado toda a sua água na terra.

(…) Quer o Renovamento no Espírito ser essa coisa, tão pequena, mas tão preciosa para Deus? Quer ser este instrumento de “insignificância” na Sua mão omnipotente? Não nos preocupemos em assegurar um futuro para o Renovamento entre os movimentos da Igreja hoje.

(…) Silenciosamente ou mesmo abertamente, se possível e se for pedido, tentemos ser aquela pequena nuvem desejosa de desaparecer depois de derramar toda a sua água sobre a Igreja.

Não é o Renovamento Carismático uma vida cristã totalmente dedicada a Deus, sem fundadores, nem regras, ou novas congregações.

O seu único fundador é Jesus Cristo. O Evangelho, interpretado pelo Espírito Santo, é a sua regra; e a Igreja é a sua congregação.

Não se preocupem com o amanhã. Não desejem construir organizações reconhecidas que continuem através dos sucessores … Jesus é o fundador que nunca morre, por isso Ele não precisa de sucessores. Temos que deixar que o tempo faça sempre novas coisas, mesmo amanhã. O Espírito Santo estará na Igreja também amanhã.

Não terminem na carne
O Renovamento fez que todos nós, alguns mais, outros menos, passássemos pela experiência da santidade de Deus como um “fogo devorador”. Verdadeiramente podemos dizer que o Renovamento Carismático na Igreja Católica começou de uma experiência idêntica.

Um dos participantes do famoso fim-de-semana em Duquesne descreveu mais tarde a experiência que o grupo teve quando estavam reunidos na capela: “o temor de Deus começou a fluir entre nós; uma espécie de terror santo impediu-nos de levantar os olhos.
Ele estava lá, pessoalmente presente, e tivemos medo de que não pudéssemos fazer face a tanto amor. Louvamo-lO e descobrimos pela primeira vez o que significa louvar. Tivemos uma escaldante experiência da terrível realidade e presença do Senhor”.(…)

Qual é o nosso carisma?
Talvez Deus nos chame do Renovamento também, a sermos como um “novo homem” no mundo, da mesma espécie de loucura mencionada por Paulo quando disse aos Coríntios: “Nós somos loucos por causa de Cristo …” (1Cor 4, 10). Portanto perguntemos a nós mesmos: Qual é o nosso carisma, qual é a tarefa para a qual Deus ergueu o Renovamento?

Ninguém, eu acredito, duvida que o Renovamento que iniciamos com o Espírito; termine na carne. A nossa vocação é proclamar o presente, vivo Senhorio de Jesus, através do Seu Espírito na Igreja. (…)

O Baptismo do Espírito Santo
Há gestos e momentos nos quais este poder de Deus é proclamado com grande pureza. A Efusão ou Baptismo do Espírito! O que é que fizemos com o Baptismo do Espírito?
Nele a graça única do Renovamento é mantida. Nele Jesus aparece como Aquele que “é”; nele Ele mostra-se como o Senhor que dá o dom do Espírito. Nele o homem não é nada e Deus é tudo.

Podíamos reunir as experiências de tantos irmãos, especialmente daqueles que vieram primeiro, e descobriríamos quantas vidas esse gesto renovou, quantas vocações ele despertou.

Agora, o Baptismo no Espírito passou para segundo plano, existem grupos em que poucos o receberam e nos quais as pessoas acreditam que não é muito importante para a vida no Renovamento.
Passamos o tempo a dizer: “Mas nós já recebemos o Baptismo e nele o Espírito foi-nos dado …” Jesus também estava cheio do Espírito Santo desde a sua concepção no seio de Maria, e contudo Ele quis receber o Baptismo no Jordão e a plenitude do Espírito foi derramada de novo n’Ele.
Porque para cada nova missão e vocação há um novo Baptismo no Espírito, embora para nós apenas o primeiro é sacramental e todos os outros não são nada, mas sim o Renovamento do primeiro, nomeado de graça baptismal.

Despertar da vida cristã
É deste cansaço, estou convencido, que o mal do Renovamento começa; para o resto de facto, não é muito diferente dos outros movimentos contemporâneos da Igreja.
Somos movidos a repetir as palavras de Paulo aos Gálatas: “Experimentaram todas estas coisas em vão?” (Gal 3, 4). Temos que voltar a usar este dom melhor, realizarmos bons seminários com a efectividade do Baptismo do Espírito.
Temos que despertar a vida cristã que está latente ou gasta. Ao faze-lo, tudo será possível a nível pessoal, de acordo com a vida de cada um: - compromisso social, evangelização, vocação religiosa …
Então, estas coisas serão expressões do dinamismo do Espírito e não formas de activismo humano.

Apenas Jesus é exaltado

Devemos ter um grande desejo no nosso coração: que o Renovamento seja, ou seja outra vez, o lugar aonde o Ressuscitado possa proclamar incontestavelmente “Eu sou”! que Ele olhe por nós, nos envolva, com os olhos e os Seus braços. (…)

Refexão sobre o RCC
Pe. Raniero Cantalamessa
Labat n.º 93 – Abril de 2009

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