16 novembro, 2012

"CREIO NO ESPÍRITO SANTO" (1)




A propósito do tema de hoje, "Creio no Espírito Santo", lembrei-me de uma graça que ouvi contar há uns anos, e que tem a ver com a Sua presença na Igreja e em nós, claro.

Havia um pároco já de idade avançada numa determinada paróquia e percebia-se que o cansaço estava a tomar conta dele porque cada vez mais diminuía o número de fiéis na Missa Dominical.
O Bispo dessa Diocese, decidiu então dar-lhe o merecido descanso, e colocou no seu lugar um jovem sacerdote, cheio de genica e vontade de trabalhar.
Passado pouco tempo já a igreja estava cheia de fiéis na Missa Dominical.
Num Domingo o Bispo decidiu ir à paróquia fazer uma visita e reparou com agrado que a igreja estava cheia.
Já na sacristia, depois da Missa, reparou no olhar orgulhoso do novo pároco, por causa do número de pessoas presentes na Missa.
O Bispo decidiu então chamá-lo à razão e disse-lhe:
Senhor Padre, não se orgulhe muito, porque tudo isto é trabalho do Espírito Santo!
Ao que o jovem sacerdote respondeu, com um sorriso:
Pois, pois, mas o Espírito Santo já cá estava antes de eu cá chegar!

Esta graça, que não tem qualquer maldade, poderá servir-nos daqui a pouco para percebermos a acção do Espírito Santo em nós e na Igreja, mas por agora detenhamo-nos no tema que nos foi dado: Creio no Espírito Santo!

Muito melhor do que quaisquer palavras que eu diga, o Catecismo da Igreja Católica explica verdadeiramente e sem a mínima dúvida o que é crer no Espírito Santo.

685. Crer no Espírito é, professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, «adorado e glorificado com o Pai e o Filho.»

Esta é uma verdade que todos conhecemos e repetimos todos os dias, sobretudo quando nos benzemos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

E no entanto o Espírito Santo parece-nos muitas vezes um “ilustre desconhecido”, se me permitem esta expressão.

Já não tanto como quando eu era novo, tempo em que por exemplo os protestantes criticavam os católicos por “desconhecerem” o Espírito Santo, ou como alguns deles diziam, O termos substituído pela Virgem Maria.
Talvez tivessem alguma razão, nesse tempo!

Obviamente que a Igreja, a Tradição, o seu Magistério, sempre falou e ensinou sobre o Espírito Santo e é conhecida, por exemplo, a Carta Encíclica do Papa Leão XIII, Divinum Illud Munus, sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

No entanto, é o Papa João XXIII, que na Constituição Apostólica Humanae Salutis Convocatória do Concílio Ecuménico Vaticano II, vai tornar actual, perdoem-me a expressão, o Espírito Santo!

Cito:
«E digne-se o divino Espírito ouvir da maneira mais consoladora a oração que todos os dias sobe de todos os recantos da terra: "Renova em nossa época os prodígios, como em novo Pentecostes; e concede que a Igreja santa, reunida em unânime e instante oração junto a Maria, Mãe de Jesus, e guiada por Pedro, difunda o reino do divino Salvador, que é reino da verdade, de justiça, de amor e de paz. Assim seja"» Humanae Salutis

E fora ouvidas as palavras do Beato Papa, porque o Concílio Vaticano II veio trazer um novo folego à Igreja, na construção de uma Igreja mais próxima dos fiéis, de tal modo que fez surgir diversíssimos Movimentos e Obras, a maior parte fundados por leigos em companhia de sacerdotes, numa diversidade rica de espiritualidade, em união e comunhão de Igreja, abarcando todos os sectores da sociedade humana à procura de Deus.

Com efeito o Espírito Santo não é de ontem, não é das primeiras comunidades cristãs, nem apenas dos primeiros Padres, o Espírito Santo é de ontem, de hoje e para sempre.

Sem Ele não há fé!

Atentemos no que nos diz o Catecismo da Igreja Católica, no item 683:

683. «Ninguém pode dizer "Jesus é o Senhor" a não ser pela acção do Espírito Santo» (1Cor 12, 3). «Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! Pai!'» (Gl 4, 6). Este conhecimento da fé só é possível no Espírito Santo. Para estar em contacto com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo. É Ele que nos precede e suscita em nós a fé. Em virtude do nosso Baptismo, primeiro sacramento da fé, a Vida, que tem a sua fonte no Pai e nos é oferecida no Filho, é-nos comunicada, íntima e pessoalmente, pelo Espírito Santo na Igreja.

E depois o Catecismo cita Santo Ireneu:

O Baptismo «dá-nos a graça do novo nascimento em Deus Pai, por meio do Filho no Espírito Santo. Porque aqueles que têm o Espírito de Deus são conduzidos ao Verbo, isto é, ao Filho: mas o Filho apresenta-os ao Pai, e o Pai dá-lhes a incorruptibilidade. Portanto, sem o Espírito não é possível ver o Filho de Deus, e sem o Filho ninguém tem acesso ao Pai, porque o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus faz-se pelo Espírito Santo».

E ainda nesta citação, no item 684:

684. O Espírito Santo, pela sua graça, é o primeiro no despertar da nossa fé e na vida nova que consiste em conhecer o Pai e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo

Em palavras muito simples poderemos dizer que o Antigo Testamento nos revela o Pai, o Criador, e de forma mais velada, (passe a expressão), o Filho que há-de vir.
O Novo Testamento, sobretudo nos Evangelhos, manifesta o Filho, a Revelação do Deus que se quis dar a conhecer aos homens para sua salvação.
Nos Actos dos Apóstolos poderemos dizer que nos é revelado o Espírito Santo, prometido pelo Filho, que como o próprio Jesus Cristo nos diz, nos fará reconhecer a Verdade e guiará no caminho da salvação:

«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir.» Jo 16, 12-13

Joaquim Mexia Alves

Nota: "Palestra" que fiz na Escola Vicarial da Fé, (Vigararia da Marinha Grande), e que aqui divido em várias partes dada a sua extensão.
Este texto é obviamente um guia para uma intervenção oral que foi desenvolvendo o tema.

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