A ânsia da busca do melhor faz parte da natureza humana. Porém, não significa que, nessa procura, o alcancemos.
Nos últimos tempos tivemos a prova disso. Buscamos e buscamos muito, com fasquia alta. Mas afinal, o que parecia ser o melhor para nós, em muitos casos foi o pior, ou pelo menos o menos bom! Por quê este resultado? Talvez tenhamos sido enganados, tanto naquilo que correspondia ao melhor que devíamos buscar, como ao caminho a seguir para o atingir.
De facto, parece que houve uma confusão generalizada acerca do que realmente seria o melhor para a satisfação do ser humano. Culpa de quem? Engano dos promotores das ofertas para nossa satisfação? Ingenuidade nossa?... Pelo tipo de sociedade e de cultura que nos caracteriza, parece que fomos dominados pela nossa ignorância e pela de muitos mais, e pela ganância de alguns! Trocaram-nos as voltas: em vez de nos guiarem para a procura das coisas melhores para a nossa realização como pessoas humanas, quase nos iam fazendo regressar à “selva”, despertando em nós interesses semelhantes aos dos animais, que promovem o gosto do domínio traumatizante de uns sobre os outros.
Vejamos: levaram-nos à busca da melhor comida e da melhor bebida; do melhor no vestir e no divertir; do melhor nos divertimentos e nos prazeres do corpo. Ao procurar o melhor no sexo, ele ganhou privilégios tais que produziu uma nova escravatura. Foi pior que na selva!
E veio a realidade: quando o poder de compra do melhor é dirigido em exclusividade aos prazeres materiais, chegamos ao fim, ou seja, deparamo-nos com a realidade de que nada disso é o melhor. Na verdade, foi a busca de tudo isso que nos trouxe a desilusão: ficamos cheios de vazio interior!
Que fazer, então? Mudar de rumo, acordar para a realidade: parar um pouco e reflectir acerca da validade das ofertas que nos fizeram, e das nossas reais necessidades, para retomarmos o caminho certo das buscas do que realmente necessitamos.
Afinal, quem sou? Quais as minhas reais e profundas aspirações? Na resposta, apresentar-se-á logo o amor em primeiro lugar. Quanto eu preciso muito mais do amor do que de mero alimento material! O amor, esse que se pretendeu substituir pelo sexo à vontade, não perdoa tal barbaridade. E, do fundo de mim mesmo, o amor reclama o seu lugar no meu coração, que, entretanto, se encheu de egoísmo, de ódio, de solidão, que resultou em agressividade na família, na escola, no trabalho e que conduziu à exploração de uns pelos outros.
O amor total é compreensível a todos os cristãos: é uma Pessoa - paradigma e fonte do amor que clama lugar na vida de cada um de nós, e na sociedade dos homens. “Deus é Amor”, diz S. João (1 Jo 4, 16). E, se lermos o 1º capítulo do livro do Génesis - “Deus criou o homem (e mulher) à Sua imagem e semelhança” (Gen 1, 27) - concluímos então que, se Deus é amor, nós somos amor.
Deste modo, o Amor será a nossa primeira busca. Mas, o amor semelhante a Deus… de cuja semelhança teremos de nos aproximar. Encontraremos aí, então, o critério para as nossas buscas das coisas boas: tudo aquilo que nos aproxima de Deus, da semelhança com Ele! E se Deus é Espírito, então temos o conselho certo de S. Paulo: “Buscai as coisas do Alto… as espirituais (Col 3, 1).
Este novo direccionamento das nossas buscas trará de volta o amor que alimenta a vida na sua realidade profunda e essencial, porque reconstruirá os laços de amor entre as pessoas, reconstruirá a família, retirará os filhos da orfandade, que os atira para a rua, libertar-nos-á da violência e dos medos e doenças psicológicas a que estamos submetidos. Esta nova prioridade de buscas iluminará a orientação das outras: da busca do alimento, do vestir e do lazer, na medida do nosso possível e enquanto concorra para a verdadeira realização da pessoa humana, inclusive na consciência da obrigação da partilha com os que menos têm.
A Quaresma, Tempo litúrgico em que estamos, é bom momento para repensarmos a nossa vida e a organizarmos em torno do essencial: a busca do amor. Daí virá luz para o melhor que devemos buscar, numa dialética de inter-ajuda de uns com os outros.
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Hercília Pinto
Comunidade Cristo de Betânea, Março de 2012
Comunidade Cristo de Betânea, Março de 2012
(Editorial da Revista Jesus Vivo, edição Março/Abril 2012)
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