23 dezembro, 2009

Bom Natal


 


Desejamos a todos os nossos leitores um Feliz Natal. Que a Vida, que o menino Jesus nos trouxe, renove e restaure a Vossa Vida.


Padre Manuel Silva

19 dezembro, 2009

LABAT cem vezes



Pai, deixa que neste dia tão especial te falemos com palavras semelhantes às que Jesus teu Filho usou contigo na sua última noite, antes de voltar para ti (Jo 17, 1-26). Atrevemo-nos a falar-te assim, porque Jesus insiste connosco para sermos um só com Ele e contigo, na força do Espírito que vos une a vós e nos une a nós convosco.

Pai, demos a conhecer-te àqueles que, do meio do mundo, nos deste. Eles eram teus e tu no-los entregaste e eles têm guardado a tua palavra (Jo 17, 6). Continuam teus, e apreciam-te cada vez mais neste jornal que entre nós circula e ao longo de tantos meses e anos, já atingiu a centena de números.

Os que por isso se voltaram mais para ti são multidão incontável, que a nossa memória não pode abarcar, mas o teu amor conhece um a um. São tantos como as estrelas do céu e as areias do mar. “É por eles que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que nos confiaste, porque são teus” (Jo 17, 9).

Pai, eu te louvo por tantas maravilhas que neles fizeste. Tu lhes revelaste o esplendor da tua glória e lhes deste a sentir o teu amor sem limites. Experimentaram a tua intimidade, a tua imensidão, a tua paz e a tua consolação. Sentiram em si próprios a tua paciência e a tua fidelidade, mesmo quando foram infiéis.

É por esses que te rogamos especialmente hoje, porque estão no mundo, mas não querem ser do mundo. “Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo. 17, 15). Não te peço que os poupes à violência da sedução e da luta, mas que o teu Espírito os trespasse e lhes mostre o que é ilusão e engano.

Rogo-te, Senhor, que os não deixes cegos, a entrar num caminho falso, sem retorno. Fala-lhes e “faz que eles sejam inteiramente teus, por meio da Verdade. A Verdade é a tua palavra” (Jo 17, 17). A Verdade é o teu conselho amigo, o único que não engana nem nos esquece. O único que é o nosso ânimo, a nossa força, a nossa esperança, o nosso encanto e o nosso futuro.

Bem sabes, Pai, melhor que eu, como a vida tem sido dura e difícil para muitos dos nossos irmãos, que sofrem no corpo e no espírito, ao mesmo tempo que vai aumentando neles a sede do teu amor. Mostra-lhes, Senhor, o esplendor da tua face e ficarão saciados.

Rogo-te, Senhor por todos eles, a quem queria transmitir as maravilhas que me revelaste, de surpresa em surpresa ao longo dos anos. O que me custa é não encontrar palavras para o dizer… É que só tu és a Palavra. Por isso te peço que lhes fales, “para que eles tenham em si a plenitude da minha alegria” (Jo. 17, 13).

Faz com eles, Pai, o que fizeste com tantos de nós: aquece as suas noites e ilumina de Natal as suas trevas.
Toma posse deles, Senhor, e leva-os ao cume do monte, como levaste a alguns de nós, e então te transfiguraste. Foi bom, muito bom. Não queríamos sair de lá…

Rogo-te, Senhor por todos esses com quem partilhaste tantos segredos do teu amor.


18 dezembro, 2009

LABAT, um farol do Espírito



O Labat-Fogo do Espírito veio à luz, no início do novo milénio, depois da aprovação e bênção do senhor D. Manuel Clemente, Bispo Auxiliar de Lisboa, que lhe deu a paternidade escrevendo o primeiro editorial. Procurou, dentro das suas possibilidades, dar uma resposta modesta para a evangelização utilizando os meios de comunicação social, escrita e via Internet. Está ao trabalho da Igreja através do renovamento carismático.

O Labat, fiel a essa missão, aparece como um espaço aberto ao serviço dos grupos do renovamento e como um elo de ligação que, nas suas vertentes formativa e informativa, procura construir um laço de amor com seus leitores.

O Labat principiou, qual planta ténue, a necessitar de cuidados. O adubo para o crescimento e seus frutos é a acção do Espírito Santo que, através de um leque amplo e variado de colaboradores, tanto nacionais como estrangeiros, desde Bispos, a sacerdotes e leigos, lhe deram, através destes nove anos, corpo e maioridade.

O Labat adquiriu o estatuto de ‘o nosso Labat’, ‘o nosso amigo’, ‘o nosso companheiro’. Não é apenas mais um jornal, mas tornou-se ‘uma pessoa’ com quem dialogamos e escutamos, nos fortalecemos e animamos, e nos indica um rumo no caminho de cristãos renovados no Espírito.

O Labat ocupa hoje um lugar que ultrapassa a diocese de Lisboa. Fez-se presença mensal em todas as dioceses de Portugal e ultrapassou fronteiras. São os ecos do Espírito ao serviço das novas tecnologias da comunicação que enviam mailings solicitando a missão evangelizadora do Labat nos seus corações e lares.

O Labat tornou-se uma referência necessária e imprescindível para a história do renovamento na diocese de Lisboa.

A todos os generosos e dedicados amigos colaboradores que nestes nove anos, se comprometeram neste encargo, o nosso muito obrigado. Continuai a abraçar o vosso labat, pois o Espírito ilumina-vos. O renovamento está grato.

Um abraço de muita gratidão e profunda amizade.
João Silva
 Editorial Labat nº 100 - Dezembro 2009 e Janeiro 2010

Vem, Espírito criador!



Para celebrar a 100ª edição do Labat, nada me pareceu tão oportuno como falar do Espírito Santo e, sobretudo, dar a conhecer um precioso livro, que é um conjunto de meditações, que todos devíamos meditar e saborear, acerca do Hino “Veni creator”.

O livro foi escrito pelo P. Raniero Cantalamessa, padre capuchinho, pregador há muitos anos da Casa Pontifícia, ou seja, do Santo Padre e daqueles que mais de perto trabalham com ele, como vários Cardeais.
Homem insigne em sabedoria bíblica, homem de uma profunda espiritualidade que, como afirmou o Papa no prefácio do livro: “ No diligente tratamento dos textos nunca, porém, o Autor, se detém na mera esfera do histórico; no passado ele vislumbra o presente, de tal modo que, conceitos aparentemente muito distantes, tornam-se subitamente práticos e convertem-se em orientações realizáveis na nossa vida.

A Obra, embora concebida como comentário ao hino consagrado ao Espírito Santo ‘Veni Creator Spiritus’, da autoria do teólogo alemão medieval Rábano Mauro (780-856), não é uma obra sobre o Espírito Santo”. Quem lê estas palavras do actual Papa não pode deixar de ficar com desejo e gosto de ler a grande Obra do Padre Cantalamessa, publicado pelo Apostolado da Oração, Braga, num volume bem apresentado e rico de conteúdo, à venda nas livrarias.

Cada capítulo tem um título que é uma pequena oração tirada do Hino, mas o autor tomando o ensinamento de muitos teólogos e dos Santos Padres da Igreja, recheia o capítulo de muita sabedoria.

Examina, faz rezar o Espírito Santo, mistério de força e de ternura, Criador que transforma o caos em cosmos, que renova, em nossos dias, os primórdios do primeiro Pentecostes, que nos ensina a tornar-nos paráclitos, que ensina a fazer da nossa vida um dom, que nos comunica a vida divina, que nos livra do pecado e da tibieza, que nos faz vivenciar o amor de Deus, que nos comunica o odor da caridade de Cristo, que adorna a Igreja com imensidão dos carismas, que nos transmite a força de Deus, que dá sustento à nossa esperança, que dá força ao nosso anúncio, que nos conduz à verdade total, que nos faz passar do amor a nós mesmos ao amor de Deus, que prepara a redenção do nosso corpo, que nos assegura a vitória sobre o maligno, que nos concede a magna paz de Deus, que nos conduz ao discernimento espiritual, que infunde em nós o sentimento da filiação divina, que nos ensina a proclamar ‘Jesus é o Senhor’, que nos ilumina sobre a mistério da sua Pessoa.

É esta série maravilhosa de pequenos capítulos sobre o Espírito, fonte de vida e de santidade, água divina que lava e purifica, fogo que incendeia em nós o amor, que o P. Cantalamessa, com arte e sabedoria nos faz rezar.

Temos neste belo e precioso e livro uma verdadeira Summa teológica e espiritual sobre o Espírito Santo. O estilo, porém, não é o de um tratado de teologia, mas sim o da linguagem inspirada, que recorre aos símbolos, às imagens, ao canto, à poesia, à liturgia, à profecia e aos modelos de santidade.

Deste modo, o P. Raniero Cantalamessa - um dos maiores conhecedores da teologia do Espírito - revela-se um mestre na arte de entusiasmar cada leitor a um encontro verdadeiro e pessoal com o Espírito Santo. E todos precisamos de ter este contacto com o Espírito, que nos habita, que faz morada em nosso coração.

Ele é o Mestre interior, que reza em nós e nos ensina a rezar, é a sabedoria do Alto que nos ilumina a inteligência, é a força do Alto que nos pode fazer vencer tentações, levar a cruz de cada dia, ter vitória sobre o mal, e o Maligno. Sem esta comunhão com o Espírito não há verdadeira oração, não há vivência sacramental séria, não sabemos escutar a Palavra, não teremos a graça da união íntima com Deus.

Depois da Ascensão o Espírito Santo é o grande agente da vida e da santidade da Igreja e de cada um de nós. É Ele que nos cura, nos lava, nos purifica em ordem à santidade, à comunhão com Deus.

O Hino sobre o qual escreveu o Padre Catalamessa, da liturgia da Solenidade de Pentecostes, como prolongada e solene invocação do Paráclito, faz-nos compreender melhor as insondáveis riquezas do Espírito, como Pessoa divina, da sua acção e presença na história da salvação e na vida da Igreja e na nossa vida pessoal.

Sem devoção ao Espírito não nos abrimos à luz divina, não somos conduzidos nos caminhos da santidade, não temos a graça de viver de um modo evangélico, de saborear a Palavra de Deus, que é Palavra inspirada, não somos capazes de caminhar até à união mística. Só o Espírito, dom e graça do Alto, Deus verdadeiro, igual ao Pai e ao Filho, nos pode fazer realizar a maravilha da vida cristã.

Ter nas mãos este precioso livro do P. Catalamessa, saborear os seus ensinamentos, meditar com cuidado cada capítulo, tirar lições para a vida, fazer dele partilha na oração e nas reuniões, será um dos modos mais eficazes e mais felizes de celebrar o nº 100 do nosso Labat.

“Vem Espírito Criador”, vem animar nossas almas, vem ser luz e graça, vem ser fogo divino, vem fortalecer, iluminar, encorajar, divinizar.

“Vem, Espírito Criador”, que a tua presença em nós nos faça crescer em espírito de oração, em intimidade com a Trindade, em comunhão mais profunda com Jesus, em descoberta da Palavra, em amor filial com Maria, em sentido profunda de sermos Igreja.

“Vem, Espírito Criador, santifica-nos, transfigura-nos, diviniza nossos seres, identifica-nos com Jesus, fá-Lo viver em nós de um modo cada vez mais intenso, faz-nos viver n’Ele, para Ele, com Ele.
P. Dário Pedroso, SJ 
Labat n.º 100 de Dezembro de 2009

Livro referido:
Vem, Espírito Criador!
Meditações sobre o
Veni creator


Autor: P. Raniero Cantalamessa
Editora: "Editorial AO"

17 dezembro, 2009

Lei e Espírito




ESPÍRITO – HISTÓRIA – PALAVRA

Já referimos, aqui (Labat), este assunto. É da máxima importância tanto nos evangelhos como em S. Paulo. E se volto ao assunto é por causa do livro que estou a ler de E. P. Sanders, Paulo, a lei e o povo judaico (São Paulo, Ed. Academia Cristã/Paulus, 2009).

E. P. Sanders é reconhecido mundialmente como um dos melhores exegetas da Bíblia do Novo Testamento. O grande mérito deste autor consiste em tornar a ler a pessoa de Jesus, nos evangelhos, e de S. Paulo, nas cartas, à luz do pensamento judaico de então. Jesus e S. Paulo foram judeus. Não nasceram cristãos. Não eram nem gregos nem romanos.

À medida que a Igreja crescia e se dilatava pelos quatro cantos do mundo, o judaísmo era abandonado e combatido, e tanto Jesus como S. Paulo eram lidos, amados, proclamados urbi et orbi contra judeus e pagãos. Semelhante leitura não corresponde à verdade. O seu a seu dono.

Segundo E. P. Sanders, a doutrina de S. Paulo acerca da Lei não é uniforme, contrariamente ao que católicos e protestantes têm dito e pregado. Costumamos apresentar a Lei judaica, sobretudo nas cartas aos Gálatas e Romanos, como o oposto do Espírito: o Antigo Testamento e respectiva Lei moisaica foi substituído pelo Espírito. A Lei morreu para dar lugar ao Espírito. Ser judeu é pertencer à Lei e ser cristão é pertencer ao Espírito. Esta visão é demasiado unilateral.

S. Paulo parte do princípio que Deus determinou um projecto de salvação para o seu povo – o judaico – através da Lei, mas que não é suprimido pelo mesmo princípio de salvação para toda a humanidade para o seu povo – o cristão – através de Jesus Cristo. O Paulo judeu não deixa de ser judeu pelo facto de ter sido apanhado por Jesus Cristo (Fl 3, 12: “Não que já o [Jesus] tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro, para ver se o [Jesus] alcanço, já que fui alcançado/apanhado por Cristo Jesus”).

A S. Paulo punha-se o dilema de difícil solução: a Lei do AT é santa porque dimana de Deus, mas a vinda de Jesus Cristo, para judeus e pagãos, não podia estar sujeita à Lei, dada aos judeus. Assim se explicam as antinomias entre o Espírito e a Lei em Gl 5, 16-26.
Neste contexto, S. Paulo tanto apresenta a antinomia entre Espírito e Lei como entre Espírito e carne (5, 18s: “Ora, se sois conduzidos pelo Espírito, não estais sob o domínio da Lei. Mas as obras da carne estão à vista…”). Mas as obras da carne-Lei (vv. 19s “fornicação, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria. inimizades, contenda, ciúme, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas…”) também são condenadas na Lei do AT.
E as obras do Espírito (vv. 22s: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio) também são apresentadas na Lei do AT, embora sem esta cadência.

Esta antinomia é ainda mais clara em Romanos 7-8. No capítulo sétimo S. Paulo apresenta o seu pensamento sobre a Lei e no capítulo oitavo sobre o Espírito (19 vezes). Mas a Lei em 7, 13 é apresentada como boa (“Será então que aquilo que é bom se transformou em morte para mim? De maneira nenhuma!”).
Para resolver este dilema, S. Paulo deixa de apresentar a Lei-carne para apresentar como causa da morte e de todas as desgraças o pecado (v. 13b: “O pecado é que, para se manifestar como pecado, se serviu do que é bom [a Lei] e foi causa de morte para mim”).
Já antes escrevera (vv. 11-12: “É que o pecado, aproveitando-se da ocasião dada pelo mandamento [Lei], seduziu-me e deu-me a morte, por meio dele. Por conseguinte, a Lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom”).
Segundo o Apóstolo, no desígnio de Deus sobre o seu povo, não fazia parte a morte, a física e a moral, mas ela existe e está presente na sua carne-humanidade. Como explicar? S. Paulo recorre ao pecado. Perguntamos: mas que pecado? S. Paulo apenas faz afirmações sem as explicar.
Outro texto deveras intrigante é o de Rm 2, 5-6: “Afinal, com a tua dureza e o teu coração impenitente, estás a acumular ira sobre ti, para o dia da ira e do justo julgamento de Deus, que retribuirá a cada um conforme as suas obras…”.

Como conclusão devemos dizer que S. Paulo apresenta vários registos sobre a Lei. Há um desígnio de Deus, universal e absoluto, sobre a salvação através da Lei de Moisés. A Lei é boa e santa mas potenciadora do pecado e da morte porque é pela Lei que tomamos consciência do nosso estado de ser: “Não adorarás outro Deus… não cobiçarás…não desejarás a mulher do próximo…”.
Esta razão de ser da Lei tanto é válida ontem como hoje. Se ela impedir a fé em Jesus Cristo torna-se num muro de Berlim, contrária à liberdade (Gl.3, 1s:” Oh Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto Jesus Cristo crucificado? Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé?”; 5, 1: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”; 5, 13: “Irmãos, de facto, foi para a liberdade que vós fostes chamados. Só que não deveis deixar que essa liberdade se torne numa ocasião para os vossos apetites carnais…”).

Daqui deriva a necessidade da Lei do Espírito que tudo resume ao mandamento do amor (Gl 5, 5, 14: “É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo”).
Mas este mandamento é uma citação de Levítico 19, 18. Assim sendo, S. Paulo não é contrário à Lei de Moisés de modo unilateral. É judeu e é cristão porque o desígnio de Deus é único e irreversível. O que faz falta é saber ler e interpretar.
Há leis do AT que não interessam, mormente as leis identitárias do povo e da raça – circuncisão, sábado, kosher (leis da alimentação) -, que estabeleciam o tal muro de Berlim entre judeus e não-judeus.

O Deus de Jesus Cristo e o Deus de Paulo (teologia e cristologia em S. Paulo caminham juntos) é para todos e não apenas para um povo ou raça. As leis identitárias deste povo-raça facilmente nos conduzem ao racismo. Jesus Cristo e o seu Espírito libertam-nos deste perigo que, na prática, ontem e hoje continua bem vivo entre alguns judeus, cristãos e muçulmanos. 

 
Pe. Joaquim Carreira das Neves, OFM  
Labat n.º 100 de Dezembro de 2009

III – Caminhar no Espírito


Alimentemos o nosso caminhar no Espírito, nesse fogo e braseiro que renovam e transformam nosso coração, com os meios que o Senhor nos oferece: os sacramentos da Eucaristia e Confissão, a leitura e reza da Bíblia, a oração no Espírito, o amor ao irmão e a vida em grupo.

A I parte do ensinamento foi publicada no Labat nº 96, Julho 2009, nas págs. 4 e 5 (neste blogue, em: I - Caminhar no Espírito), a II parte, no Labat nº 99, Novembro 2009, pág. 7 (neste blogue, em: II - Caminhar no Espírito é imitar Jesus) e a III parte, na coluna ‘Caminhar no Espírito’ do Labat nº 100, Dezembro de 2009 (igualmente neste blogue, através do presente texto).

1. A PALAVRA DA BÍBLIA

A Palavra – lida, rezada, escutada, adorada, mastigada, aceite como resposta do Espírito ao nosso coração, amada e acolhida – constitui um sinal verdadeiro, uma força e uma presença insubstituível para o nosso caminhar no Espírito. O modo como escutamos a Palavra que rezamos é importante para ela nos conduzir ao coração de Deus.

Deus fala a cada um pessoalmente através da Bíblia pelo Espírito Santo (1). Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo (2). Vós que percorreis os jardins da Escritura, não o tendes que o fazer depressa ou com negligência. Cavai cada Palavra para dela tirar o Espírito. Imitai a abelha laboriosa que de cada flor recebe o seu mel (3).
A Palavra torna-se oração e a oração torna-se esperança. Bento XVI refere-se, assim a esse momento surpreendente da escuta da Palavra do DEUS Vivo: Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda ouve. Quando já não posso falar com ninguém, posso falar sempre com DEUS (4). A leitura leva à boca alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria (5).

1. S. Jerónimo
2. Santo Padre.
3. Texto, dos Padres da Igreja
4. Bento XVI
5. Guido, cartuxo e autor medieval.

2. ORAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Oração pessoal, diária, familiar e comunitária

Vivamos a Oração num diálogo íntimo com o Senhor, dando-LHE acção de graças, adorando-O, louvando-O, meditando, cantando, pedindo e suplicando, escutando e contemplando. S. Vicente de Paulo, pai dos pobres, era um homem que fazia da oração o ponto de apoio e o lugar de descoberta da vontade de Deus.

Bento XVI recordou que ‘Jesus subiu ao monte para rezar’ e que “enquanto rezava” se verificou o “luminoso mistério da transfiguração”. Ao subir ao monte, sublinhou ‘Jesus quis manifestar aos seus amigos a luz interior que o inundava plenamente quando rezava’. Ainda encoraja a todos a procurarem o silêncio e o recolhimento, para deixar mais espaço à oração e à meditação da Palavra de DEUS.

Somos cristãos orantes na alegria do Espírito

“Andai sempre alegres, orai sem cessar e em todas as circunstâncias (boas ou más), dai graças, pois é a Vontade de Deus em Jesus Cristo a vosso respeito” - 1 Ts 5, 16-22.

Se queres começar a possuir a Luz de DEUS – reza; se já estás empenhado na subida da perfeição e queres que essa Luz cresça em ti – reza; se queres a fé – reza; se queres a Esperança – reza; se queres a Caridade – reza; se queres o espírito de Pobreza – reza; se queres a Obediência, a Castidade, a Humildade, a Mansidão e a Fortaleza – reza. Seja qual for a virtude que aspiras – reza.

A oração é como a respiração da alma

Assim como é necessária uma boa capacidade respiratória para o funcionamento sadio de todos os órgãos do corpo, do mesmo modo, uma forte vontade de orar o é para a alma, sobretudo quando nos preparamos para o caminhar numa vida nova, para o caminhar no Espírito.

3. CAMINHAR NO ESPÍRITO É NECESSARIAMENTE VIVER NO AMOR AOS IRMÃOS

O amor é a única dívida que temos para com todos. “Não deveis nada a ninguém a não ser o amor mútuo” – Rm 13, 8. O amor de DEUS foi derramado nos nossos corações – Rm 5, 5.

Este amor é o amor com que DEUS nos ama e com que nos faz amar a Ele e ao próximo. É uma capacidade nova de amar. A prática desse amor é o sinal revelador do caminhar no Espírito.


Nós amamos o próximo ou gostamos apenas do próximo?

Gostamos, por exemplo, de ananás, ou manga, ou papaia, ou banana? E gostamos desses frutos com a casca, ou sem a casca? Então, gostamos ou amamos a fruta?
Ora a grande diferença em amar o irmão, é amá-lo com os seus defeitos. É aceitá-lo como ele é. Gostar somente, não é amar como o Senhor nos manda. No amor, cada um é atraído por aquilo que ama, sem que experimente coacção alguma exterior. Tudo se faz com alegria, espontaneidade e não por hábito, costume ou cálculo, é amor. O amor é contrário ao veneno dos juízos que algumas vezes fazemos dos nossos irmãos.


“Quem ama voa, corre, rejubila, é livre, nada teme e nada o pode conter. Muitas vezes o amor não conhece medida, mas arde sem medida alguma. O amor não sente peso, não liga ao cansaço, desejaria estar sempre presente e fazer mais do que aquilo que pode”. Pelo contrário, “quem não ama, fracassa e dá-se por vencido” – Imitação de Cristo, III, 5.

Em relação ao amor e perdão, o Senhor nos ensinou a rezar o Pai-nosso.

Digamo-lo silabicamente e meditando cada palavra que rezamos.


Deus está presente em nós. Mas, quantas vezes, procuramo-Lo fora de nós próprios. Alguns de nossos irmãos são tentados a saltitarem de grupo em grupo ou a procurar sem descanso, fora de si, lugares ou guias de oração. Entremos dentro de nós mesmos, pois aí mora a verdade. Deus está dentro de ti. Não o procures fora de ti. Caminha n’Ele e com Ele.

Há uma história sobre um animal selvagem, o almíscar, que possui em si uma bolsa perfumada. O animal percorre vales e montes à procura desse aroma que sente, mas que ignorava que viesse de dentro dele. Nessa procura constante, cai dum penhasco. Rebenta a bolsa. E, nesse momento descobre esse aroma em si. Já não pode viver esse aroma, porque morre.

Não imitemos esta imagem que vos apresento. Porque, DEUS está em ti, em mim, em nós. Encontramo-LO no nosso coração e encontramo-LO na nossa vida.
Maria Olga
Labat n.º 100, de Dezembro de 2009

08 dezembro, 2009

Quadra Festiva


e que o NOVO ANO