17 dezembro, 2009

III – Caminhar no Espírito


Alimentemos o nosso caminhar no Espírito, nesse fogo e braseiro que renovam e transformam nosso coração, com os meios que o Senhor nos oferece: os sacramentos da Eucaristia e Confissão, a leitura e reza da Bíblia, a oração no Espírito, o amor ao irmão e a vida em grupo.

A I parte do ensinamento foi publicada no Labat nº 96, Julho 2009, nas págs. 4 e 5 (neste blogue, em: I - Caminhar no Espírito), a II parte, no Labat nº 99, Novembro 2009, pág. 7 (neste blogue, em: II - Caminhar no Espírito é imitar Jesus) e a III parte, na coluna ‘Caminhar no Espírito’ do Labat nº 100, Dezembro de 2009 (igualmente neste blogue, através do presente texto).

1. A PALAVRA DA BÍBLIA

A Palavra – lida, rezada, escutada, adorada, mastigada, aceite como resposta do Espírito ao nosso coração, amada e acolhida – constitui um sinal verdadeiro, uma força e uma presença insubstituível para o nosso caminhar no Espírito. O modo como escutamos a Palavra que rezamos é importante para ela nos conduzir ao coração de Deus.

Deus fala a cada um pessoalmente através da Bíblia pelo Espírito Santo (1). Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo (2). Vós que percorreis os jardins da Escritura, não o tendes que o fazer depressa ou com negligência. Cavai cada Palavra para dela tirar o Espírito. Imitai a abelha laboriosa que de cada flor recebe o seu mel (3).
A Palavra torna-se oração e a oração torna-se esperança. Bento XVI refere-se, assim a esse momento surpreendente da escuta da Palavra do DEUS Vivo: Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda ouve. Quando já não posso falar com ninguém, posso falar sempre com DEUS (4). A leitura leva à boca alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria (5).

1. S. Jerónimo
2. Santo Padre.
3. Texto, dos Padres da Igreja
4. Bento XVI
5. Guido, cartuxo e autor medieval.

2. ORAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Oração pessoal, diária, familiar e comunitária

Vivamos a Oração num diálogo íntimo com o Senhor, dando-LHE acção de graças, adorando-O, louvando-O, meditando, cantando, pedindo e suplicando, escutando e contemplando. S. Vicente de Paulo, pai dos pobres, era um homem que fazia da oração o ponto de apoio e o lugar de descoberta da vontade de Deus.

Bento XVI recordou que ‘Jesus subiu ao monte para rezar’ e que “enquanto rezava” se verificou o “luminoso mistério da transfiguração”. Ao subir ao monte, sublinhou ‘Jesus quis manifestar aos seus amigos a luz interior que o inundava plenamente quando rezava’. Ainda encoraja a todos a procurarem o silêncio e o recolhimento, para deixar mais espaço à oração e à meditação da Palavra de DEUS.

Somos cristãos orantes na alegria do Espírito

“Andai sempre alegres, orai sem cessar e em todas as circunstâncias (boas ou más), dai graças, pois é a Vontade de Deus em Jesus Cristo a vosso respeito” - 1 Ts 5, 16-22.

Se queres começar a possuir a Luz de DEUS – reza; se já estás empenhado na subida da perfeição e queres que essa Luz cresça em ti – reza; se queres a fé – reza; se queres a Esperança – reza; se queres a Caridade – reza; se queres o espírito de Pobreza – reza; se queres a Obediência, a Castidade, a Humildade, a Mansidão e a Fortaleza – reza. Seja qual for a virtude que aspiras – reza.

A oração é como a respiração da alma

Assim como é necessária uma boa capacidade respiratória para o funcionamento sadio de todos os órgãos do corpo, do mesmo modo, uma forte vontade de orar o é para a alma, sobretudo quando nos preparamos para o caminhar numa vida nova, para o caminhar no Espírito.

3. CAMINHAR NO ESPÍRITO É NECESSARIAMENTE VIVER NO AMOR AOS IRMÃOS

O amor é a única dívida que temos para com todos. “Não deveis nada a ninguém a não ser o amor mútuo” – Rm 13, 8. O amor de DEUS foi derramado nos nossos corações – Rm 5, 5.

Este amor é o amor com que DEUS nos ama e com que nos faz amar a Ele e ao próximo. É uma capacidade nova de amar. A prática desse amor é o sinal revelador do caminhar no Espírito.


Nós amamos o próximo ou gostamos apenas do próximo?

Gostamos, por exemplo, de ananás, ou manga, ou papaia, ou banana? E gostamos desses frutos com a casca, ou sem a casca? Então, gostamos ou amamos a fruta?
Ora a grande diferença em amar o irmão, é amá-lo com os seus defeitos. É aceitá-lo como ele é. Gostar somente, não é amar como o Senhor nos manda. No amor, cada um é atraído por aquilo que ama, sem que experimente coacção alguma exterior. Tudo se faz com alegria, espontaneidade e não por hábito, costume ou cálculo, é amor. O amor é contrário ao veneno dos juízos que algumas vezes fazemos dos nossos irmãos.


“Quem ama voa, corre, rejubila, é livre, nada teme e nada o pode conter. Muitas vezes o amor não conhece medida, mas arde sem medida alguma. O amor não sente peso, não liga ao cansaço, desejaria estar sempre presente e fazer mais do que aquilo que pode”. Pelo contrário, “quem não ama, fracassa e dá-se por vencido” – Imitação de Cristo, III, 5.

Em relação ao amor e perdão, o Senhor nos ensinou a rezar o Pai-nosso.

Digamo-lo silabicamente e meditando cada palavra que rezamos.


Deus está presente em nós. Mas, quantas vezes, procuramo-Lo fora de nós próprios. Alguns de nossos irmãos são tentados a saltitarem de grupo em grupo ou a procurar sem descanso, fora de si, lugares ou guias de oração. Entremos dentro de nós mesmos, pois aí mora a verdade. Deus está dentro de ti. Não o procures fora de ti. Caminha n’Ele e com Ele.

Há uma história sobre um animal selvagem, o almíscar, que possui em si uma bolsa perfumada. O animal percorre vales e montes à procura desse aroma que sente, mas que ignorava que viesse de dentro dele. Nessa procura constante, cai dum penhasco. Rebenta a bolsa. E, nesse momento descobre esse aroma em si. Já não pode viver esse aroma, porque morre.

Não imitemos esta imagem que vos apresento. Porque, DEUS está em ti, em mim, em nós. Encontramo-LO no nosso coração e encontramo-LO na nossa vida.
Maria Olga
Labat n.º 100, de Dezembro de 2009

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