25 setembro, 2009

Reconciliados com Deus, connosco e com os outros, para viver no Amor Pleno


Ensinamento de Joaquim Alves, apresentado à Comunidade Luz e Vida, no seu dia de Louvor, realizado no Centro Pastoral Paulo VI - Fátima, em 11 de Janeiro de 2009.

Joaquim Mexia Alves


Bom dia!
Alguns de vós já me conhecem, mas certamente outros não, por isso apresento-me.
Chamo-me Joaquim, tenho 59 anos, sou casado, pai de 4 filhos e avô de dois netos.
Pertenço à Comunidade Luz e Vida e vivo na Diocese de Leiria-Fátima.
Para além de outras características que tenho que me fazem igual a todos vós, tenho uma especial em que somos todos iguais.
Sou pecador!
Julgo que aqui não há ninguém que não seja pecador, ou há?
Ser pecador é uma constante da nossa vida humana, da fraqueza das nossas vidas, mas tem algo que acaba por ser muito bom.
Claro que o muito bom não é o pecado, mas o facto de sermos pecadores. Deus condena o pecado, mas não condena os pecadores.
E é isso que é muito bom, porque sabemos que Jesus Cristo se fez Homem como nós, para estar no meio dos pecadores, para nos libertar do pecado, e que é Ele mesmo que o diz, que veio para os pecadores.
Por isso, e em primeiro lugar tomemos a consciência firme de que Ele, Jesus Cristo, está aqui no meio de nós, e em nós, porque está sempre no meio dos pecadores, porque Ele veio para os pecadores.
E se Ele está no meio de nós, nada devemos temer, mas apenas abrirmos os nossos corações e deixarmos que Ele nos fale, nos toque, nos mostre o caminho que devemos caminhar para nos encontrarmos verdadeiramente com Ele, num encontro pessoal que mude as nossas vidas, que nos liberte e nos dê já aqui no mundo a paz, a alegria e a felicidade prometidas no Céu.
Quando o Padre Filipe me pediu para eu fazer este ensinamento na manhã de hoje, o meu coração bateu mais forte.
Era algo que eu desejava, mas ao ser posto perante a realidade de ter que fazer este ensinamento, a minha confiança tremeu, e senti um enorme peso sobre mim.
E isso aconteceu porque me coloquei perante as minhas capacidades, perante aquilo que eu julgava ou julgo saber, quando a minha atitude deveria ter sido de agradecer ao Senhor por se querer servir de mim e sobretudo colocar-me nas Suas mãos, para que Ele fizesse em mim aquilo que eu sozinho nunca poderia fazer.
O Padre Filipe tinha-me pedido para eu rezar e pedir a Deus a palavra, a mensagem sobre a qual hoje deveríamos meditar.
No meu quarto, com a Bíblia entrei em oração pedindo ao Senhor que me ajudasse na minha fraqueza e me mostrasse o que queria de mim, o que nos queria dizer hoje.
Ao fim de um tempo de oração abri a Bíblia e confesso que fiquei desapontado, pois o que me era mostrado não era nenhuma passagem bíblica, mas sim a introdução ao Evangelho de São Marcos.
Resisti à vontade que tive de fechar a Bíblia para a abrir novamente e li com atenção o que estava escrito naquela página.
Havia uma gravura de Cristo crucificado e sobre a gravura estava escrito o seguinte:
«Marcos preocupa-se com fazer esta grande revelação aos pagãos: Jesus de Nazaré, o crucificado, é o Filho de Deus! E quem o confessa é nada menos que o centurião romano de guarda à cruz, quando vê Jesus, crucificado entre dois ladrões, dar um grande grito na sua morte.» Mc 15,33-39
Jesus Cristo serve-se de quem menos se espera para revelar aos outros a verdade sobre Si mesmo: Ele é o Filho de Deus!
Fiquei ali a pensar naquela verdade, que tantas vezes é demonstrada ao longo dos quatro Evangelhos.
Foram tantos aqueles pecadores que tocados por Jesus acabaram por serem as testemunhas de que Ele era e é o Filho de Deus.
Foi Zaqueu, foi o centurião que tinha o servo doente, foi a mulher adultera, foi Levi o cobrador de impostos, foi Jairo o chefe da Sinagoga, foi a Samaritana, foi o ladrão que com Ele foi crucificado, foram os Apóstolos que tirando João abandonaram Jesus na Cruz, foi Paulo que perseguia os cristãos, foi até Pedro, o primeiro Papa que negou três vezes Jesus.
E com este facto que aqui vos conto há logo uma lição a tirar, que tirei também para mim.
Muitas vezes abrimos a Bíblia e como já conhecemos a Palavra que nos surge, ou porque não é a Palavra que mais nos agrada, (tantas vezes porque é do Antigo Testamento), voltamos a fechá-la para a abrirmos novamente.
E como estamos errados, porque a Palavra de Deus é viva, e aquilo que Ela me disse ao coração uma vez, pode ser bem diferente dessa vez, e é com certeza aquilo que eu necessito nesse momento.
Por isso não procuremos aquilo que nos agrada, mas meditemos naquilo que o Senhor nos quer dizer com a Sua Palavra, e mesmo que Ela se repita várias vezes pensemos verdadeiramente se já entendemos todo o seu conteúdo, toda a sua mensagem para nós.


Deus serve-se então dos pecadores para se revelar a uns e a outros.
Mas para que eu pecador, para que cada um de nós pecadores possa ser testemunha de Jesus Cristo é preciso que queira viver fora do pecado, é preciso que mostre na sua vida, nas suas atitudes, nos seu gestos, na sua maneira de proceder que o seu encontro pessoal com Jesus Cristo mudou a sua vida.
Precisa de se libertar, de ser liberto da escravidão do pecado que tantas vezes toma conta de nós e condiciona as nossas vidas.
E então veio ao meu coração outra passagem bíblica, aquela relatada em Lucas 4, 16-21.
Tantas vezes que entendemos esta passagem exactamente como ali está escrito, ou seja, entendemos que esta passagem revela os milagres físicos que Jesus fez e vêm relatados nos Evangelhos.
E revela com certeza esses milagres, mas revela também que Jesus Cristo veio para os pobres em espírito, ou seja para aqueles que não têm Deus, ou que conhecendo-O não O vivem, revela que veio para libertar aqueles que estão presos ao pecado, revela que veio dar a luz aqueles que andam nas trevas, porque ainda não O conhecem verdadeiramente, revela que veio dar liberdade aos que estão presos aos vícios que os oprimem.
Neste momento dei um breve testemunho da minha vida, contando que apesar de ter nascido e crescido numa família profundamente cristã e católica, tendo recebido dos meus pais o testemunho da Fé, bem como dos colégios católicos que frequentei, por volta dos 17/18 anos comecei a afastar-me da prática religiosa, da Igreja, da Fé, de Deus, tendo vivido cerca de 25 anos totalmente afastado, sendo que, os últimos 10 anos dessa vida sem Deus foram preenchidos com uma vida dissoluta, de noitadas e tudo o que isso envolve, e como, apesar de reconhecer de vez em quando que devia mudar de vida, pois que a que levava me conduzia ao abismo, não era capaz de sair dessa vida de pecado viciante.
Só quando por graça de Deus, abri novamente o meu coração e a minha vida à Fé, à Sua presença na minha vida, à comunhão em Igreja, me foram dadas forças para me afastar dessa vida.
Não é verdade, não reparamos nós que na maioria dos milagres que Jesus faz, em primeiro lugar perdoa os pecados e só depois acontece a cura física?
Vivemos hoje num mundo em que a maior parte das doenças de que sofrem as pessoas são doenças psicossomáticas, isto é, são doenças que têm a ver com a mente, com o estado de espírito das pessoas.
E são tantas coisas que fazemos na vida, que marcam as nossas vidas e se tornam tantas vezes razão de mau estar psicológico e físico.
São tantas coisas que fazemos na vida ou que nos fazem e que nos marcam de modo tão forte que vão condicionando o nosso dia a dia, às vezes até sem nos apercebermos disso mesmo.
São as dores de cabeça, de estômago, as insónias, as angústias, as tristezas permanentes, as depressões, a dificuldade de relacionamento com os outros, tantas vezes até com os nossos familiares mais chegados.
A verdade é que a maioria esmagadora dessas situações se deve a factos passados nas nossas vidas, a pecados cometidos ou que cometeram contra nós, e que ainda não foram resolvidas, ainda não foram perdoados, muitas vezes por nós próprios.
Vejamos por exemplo uma pessoa que cometeu um pecado de adultério, homem ou mulher, tanto faz, e pode ter sido apenas uma vez.
Pode estar casado há muito tempo mas se realmente não se perdoou a si próprio, para além do perdão de Deus, obviamente, a sua vida estará sempre marcada por esse episódio, por esse pecado, e muitas vezes a presença da sua mulher ou do seu marido, em vez de despertar amor pode despertar um sentimento de culpa que depois se reflecte no estado de espírito da pessoa e condiciona a sua paz, a sua alegria de viver, e por arrastamento, por exemplo, um mau dormir, dores de cabeça ou outras manifestações físicas.
A pessoa não está bem consigo própria e por isso não pode estar bem com a vida.
Outro exemplo poderá ser uma violência que a pessoa sofreu no passado, violência física, verbal ou até sexual.
A pessoa já se pode ter reconciliado com Deus, pela Confissão, mas ainda não conseguiu perdoar ao outro, ou até mesmo a si própria.
Há pessoas que sofrem estas violências e consideram que têm alguma parte na culpa, consideram que de alguma forma também são culpadas.
Enquanto não acontecer a paz sobre esse assunto, sobre esse pecado em todas as suas dimensões, a pessoa não poderá viver a vida em toda a sua plenitude, não poderá viver a alegria da liberdade dos filhos de Deus.
Atentemos ainda em outro exemplo, como aquele de uma mulher que pratica o aborto.
A pessoa pode confessar-se, estar arrependida, ter tomado um compromisso sério de não voltar a cometer tal pecado, mas se não se perdoou a si própria, isto é, se não se deixou alcançar pela plenitude do amor, do perdão de Deus, essa pessoa viverá continuamente atormentada por aquele facto, por aquele pecado na sua vida, e não terá descanso, não terá paz, não terá felicidade. Isso trazer-lhe-á forçosamente muitas vezes, mau estar físico que se poderá manifestar de muitos formas, como depressões, tristezas inexplicáveis, insónias, e tantas outras manifestações que não deixam que a sua vida seja verdadeiramente uma vida livre, uma vida em abundância.
Compreendemos então agora melhor a passagem do Evangelho de São Lucas que há um pouco lemos, pois percebemos agora que Jesus Cristo nos veio resgatar do cativeiro do pecado, nos veio dar a luz, a vista perdida nas trevas do pecado, nos veio libertar das opressões do pecado.


Compreendemos agora melhor a passagem do Evangelho de São João, em que Jesus nos diz:

«Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.» Jo 10,10
E também a passagem do mesmo Evangelho:
«Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.» Jo 15,11
Podemos ter a vida pelo facto de termos sido gerados pelos nossos pais e de termos nascido, mas podemos não a ter em abundância, isto é, na sua plenitude
, que só é alcançada na comunhão com Deus.
Podemos ter momentos de alegria, mas podemos não viver a alegria que nos vem da comunhão com Deus e nos ajuda a ultrapassar as dificuldades e as provações.
Para vivermos esta comunhão com Deus, que nos dá a vida em abundância, a alegria completa, precisamos de estar reconciliados com Deus, connosco próprios e com os outros.
E o passo imprescindível que temos de dar para essa reconciliação é o nosso exame de consciência e o Sacramento da Confissão.
Hoje em dia ouvimos muitos dizerem que se confessam a Deus, e que portanto prescindem da confissão com um sacerdote.
Mas, minhas irmãs, meus irmãos, o Sacramento da Confissão foi instituído por Jesus Cristo conforme podemos ler em Jo 20, 22-23 «Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito, Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.»
Deus quis instituir este Sacramento assim, servindo-se dos homens, porque Ele mesmo, na pessoa de Jesus Cristo, se quis encontrar com os homens, num contacto directo, através dos sinais e linguagens da condição humana, quis viver como nós e passar pelas mesmas condições que nós, excepto o pecado.
Como nos diz o Arcebispo Bruno Forte, italiano, num pequeno livro sobre a Confissão:
«Como Ele saiu de si mesmo por nosso amor e veio “tocar-nos” com a sua carne, assim nós somos chamados a sair de nós mesmos por seu amor e ir com humildade e fé ter com quem pode dar-nos o perdão em seu nome mediante a palavra e o gesto.
Somente a absolvição dos pecados, que o sacerdote nos dá no Sacramento, pode comunicar-nos a certeza interior de sermos verdadeiramente perdoados e acolhidos pelo Pai que está nos Céus, porque Cristo confiou ao ministério da Igreja o poder de ligar e desligar, de excluir e de admitir na comunidade da aliança. (cf Mt 18,17
Com efeito, como podemos nós aferir se determinado comportamento é pecado ou não, se verdadeiramente na nossa consciência temos dúvidas?
Então, só na Confissão perante o sacerdote que nos ouve e connosco fala, o mesmo sacerdote nos pode ajudar a percebermos a dimensão total do nosso pecado, a necessidade do nosso arrependimento e nos conduzir, não só ao perdão de Deus, mas à consciência do perdão a nós mesmos e aos outros.
Muito mais ainda isto é verdade se nos lembrarmos que a Igreja nos ensina que o sacerdote na Confissão é pessoa de Cristo, ou seja, nos estamos a confessar a Cristo.
E minhas irmãs, meus irmãos, eu não sou sacerdote como muito bem sabeis, mas acreditem que os sacerdotes não querem saber dos nossos pecados, não fazem julgamento para si próprios de nós por causa dos nossos pecados, apenas agem como pessoa de Cristo para em Seu nome, nos ouvirem, aconselharem e perdoarem.
Um dia na Catequese, um jovem dizia-me que não se queria confessar por que depois o Prior ficava a saber o que ele fazia e depois quando olhasse para ele parecia que o padre o estaria a julgar.
Eu respondi-lhe o que ainda agora vos disse, que ao padre não lhe interessam os pecados de cada um e nem sequer julga as pessoas pelos pecados que confessam, mas ainda disse mais, pois disse-lhe que cá para mim, eu achava que Deus concedia aos padres a graça de se esquecerem dos pecados dos que a eles se confessam, ou seja, até se podiam lembrar dos pecados confessados, mas provavelmente já não sabiam quem é que tinha confessado este ou aquele pecado.
A verdade é que o segredo da Confissão é o segredo mais bem guardado da história da humanidade e que eu saiba nunca foi violado.
Já houve padres e até há poucos anos um Bispo em França que foram presos, mas não revelaram esse segredo.
Quando o Senhor ao fim de tanto tempo do meu afastamento dEle começou a tocar o meu coração e o da Catarina, minha mulher, passados uns tempos, talvez um ano ou dois, um sacerdote Franciscano com quem falávamos muito, perguntou-nos porque é que não nos confessávamos.
Perante as dúvidas ainda das nossas vidas, não nos tinha até ao momento ocorrido fortemente essa decisão, mas perante o que ele nos disse, decidimos então confessarmo-nos a ele.


Um dia lá fomos ao Convento de Leiria para nos confessarmos.
Há mais de 20 anos que não me confessava. Não sabia bem como o fazer e já nem sequer me lembrava da última vez que me tinha confessado.
Vinham à minha memória, ao meu coração pecados da minha infância, da minha adolescência que eu não me lembrava se já alguma vez tinha confessado ou não.
Assim decidi que devia confessar tudo o que viesse ao meu coração, de tudo o que me lembrasse da minha vida até ao momento vivida.
Não sei quanto tempo demorou a Confissão e isso também não interessa, mas ao longo dela o Senhor foi-me lembrando coisas da minha vida que me marcavam, que me envergonhavam a mim próprio, mesmo sem o conhecimento dos outros, lembro-me que as lágrimas me corriam pela cara e lembro-me sobretudo da doçura daquele sacerdote, ou seja de Jesus Cristo, que abria os braços e me acolhia no seu amor perdoando-me das minhas fraquezas.
É um momento que não esqueço na minha vida e se agora falo dele é porque é importante para aquilo que há um pouco vos dizia, sobre o facto de por vezes nos confessarmos, alcançarmos o perdão de Deus, mas não nos perdoarmos a nós próprios, ou aos outros.
Com efeito havia coisas na minha vida tão graves, que mesmo após a confissão, não só eu ainda duvidava de que Deus me perdoasse, mas também porque a vergonha de certas coisas continuava a pesar na minha vida.
É lógico que a dúvida sobre se Deus me perdoava ou não, era causada porque a minha caminhada de fé só tinha começado há pouco tempo, (o que são dois anos de caminho para 25 anos de afastamento), e porque também ainda não tinha tido aquele encontro pessoal com Deus que muda as nossas vidas.
Já o perdão a mim próprio era mais complicado e eu fui percebendo ao longo dos anos que essa falta em mim, não me deixava crescer na fé, no meu relacionamento com os outros, e interferia na minha maneira de viver e proceder.


Um dia numa Adoração ao Santíssimo pedi ao Senhor que me desse essa certeza do Seu perdão, porque precisava dela para a minha caminhada, e Ele concedeu-me essa graça de eu perceber, de eu viver a certeza de que o seu perdão é muito maior que o nosso pecado.
Então percebi que se Deus me perdoa, como posso eu não me perdoar a mim próprio.
Se Deus me purifica, como posso eu não me deixar purificar.
Se Deus me liberta do meu pecado, como posso eu ficar agarrado à lembrança do pecado.
Perante essa certeza decidi confessar novamente esses pecados que ainda me atormentavam, não porque não acreditasse que Deus já mos tinha perdoado, mas para que confrontando-me novamente com eles na confissão, me libertasse deles definitivamente.
E claro, a graça aconteceu, porque a Confissão é também um Sacramento de Cura e Libertação e a partir daí a minha vida mudou e eu pude viver a minha vida com Deus, comigo próprio e com os outros livremente e sem as cadeias da vergonha, da mágoa ou do ressentimento.
Mas para que a Confissão seja recebida em toda a sua plenitude, com toda a graça que o Sacramento derrama nas nossas vidas, é preciso que seja bem feita.
A Confissão não pode ser apenas um relatório de pecados, um desfiar de fraquezas, um contar de problemas.
É preciso que assumamos as nossas faltas, (não foi por causa dos outros), que nos confrontemos com as nossas fraquezas, que tenhamos a consciência do arrependimento e o propósito de emenda, ou seja o compromisso de não voltar a cometer esses pecados, mesmo que infelizmente venhamos a cair neles novamente.
Abrirmos os nossos corações ao perdão de Deus e percebermos que se Ele nos perdoa não podemos nós continuar agarrados à lembrança desse pecados.
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Assim, ao recebermos a absolvição de Deus, também o nosso coração se abre à reconciliação connosco próprios e com os outros, e assim somos libertos do peso da vergonha, da lembrança que nos magoa, e em paz connosco ficamos também em paz com os outros e vivemos mais um pouco da abundância de vida e da alegria que Jesus Cristo nos veio trazer.
Também por essa Confissão alcançamos a graça da força necessária para pedirmos perdão àqueles que nós magoámos e perdoarmos aqueles que nos magoaram.
Assim e ainda, aqueles problemas de que falámos há pouco, de não ser fácil enfrentar aqueles contra quem pecámos, ou aqueles que contra nós pecaram, são curados das nossas vidas e podemos viver em paz com eles e por isso também os problemas de saúde que nos atormentavam acabam por desaparecer e mais uma vez, repito, passamos a viver a vida verdadeira que Jesus Cristo nos trouxe e que é a vida em abundância na alegria de Deus.
Hoje, minhas irmãs e meus irmãos, temos de tomar, de viver este compromisso sério de nos aproximarmos da Confissão na primeira ocasião que tivermos.
Mas tomá-lo conscientemente e não debaixo de uma emoção do momento.
Percebermos que a Confissão a fazer tem de ser tão consciente que não seja apenas relatar pecados, mas assumi-los como culpa nossa, enfrentá-los como fraquezas nossas, e sobretudo acreditarmos firmemente que o amor e o perdão de Deus são muito maiores que os nossos pecados.
Porque assim, acreditando no perdão de Deus, que nos purifica pela Confissão, não podemos nós deixar de nos perdoarmos a nós e aos outros, porque se assim não fizermos estaremos como que a manchar o perdão que Deus nos concede.
E não tenhamos medo ou vergonha de confessarmos pecados já confessados, se por alguma razão eles ainda nos envergonham e magoam, dizendo ao sacerdote isso mesmo, para que ele nos aconselhe e de coração aberto alcancemos todas as graças que o Sacramento da Confissão nos concede, desde o perdão de Deus, até à libertação e à cura dos problemas psíquicos e até físicos.
Peço-vos agora que fecheis os olhos e baixeis a cabeça, numa serenidade total que é garantida pela presença de Jesus Cristo no meio dos pecadores que somos nós.
Peço-vos ainda que em silêncio escuteis a oração que vou fazer pausadamente e que à medida que a fores escutando a rezeis com o coração, sem palavras saídas da boca, mas tomando-a como vossa e assumindo verdadeiramente o compromisso que nela está.


Oração

«Senhor Jesus Cristo, que estás no meio de nós, porque somos pecadores, vem ao meu encontro e toca o meu coração e a minha mente.
Mostra-me Senhor Jesus, tudo o que na minha vida não é do teu agrado e tudo o que me impede de viver a vida em abundância e alegria que Tu mesmo nos vieste trazer.
Concede-me a graça de acreditar firmemente que o teu perdão é infinitamente maior que o meu pecado, para que acolhendo o teu perdão na minha vida, também eu me perdoe a mim próprio das minhas fraquezas e perdoe as minhas irmãs e os meus irmãos que me ofenderam e peça perdão aos que eu ofendi.
Peço-te também, Senhor Jesus, que pela graça da Confissão me libertes de todo o pecado, da opressão do pecado, de todas as doenças psíquicas e físicas que o pecado trouxe à minha vida.
Agora Senhor Jesus, que estás aqui no meio de nós, eu comprometo-me de todo o coração, com toda a minha vida a, no mais curto espaço de tempo, procurar o Sacramento da Confissão e de coração aberto, reconhecendo-me pecador e acreditando no teu infinito perdão, confessar-me de todos os meus pecados, presentes e mesmo os passados que ainda não consegui perdoar a mim próprio ou aos outros.
Na tua misericórdia firmemente acredito e desde já agradeço-te pela libertação que vais operar na minha vida e pela paz, pela alegria e pela vida em abundância que já neste momento me estás a dar.
Louvado sejas Senhor, pelo teu infinito amor.
Ámen.

20 setembro, 2009

EFFATHÁ!


Effathá!

Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos calados,
sem falarmos do Teu amor a toda a gente.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos surdos,
sem queremos ouvir a Tua voz.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de coração fechado,
sem deixarmos que habites em nós.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de mente fechada,
tentando controlar a fé,
com a razão.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos ausentes,
longe da Tua Palavra,
longe da oração.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de braços fechados,
sem acolher o nosso irmão.
Mas Tu Senhor não desistas,
de abrir as nossas bocas,
de abrir os nossos ouvidos,
de abrir os nossos corações,
de abrir as nossas mentes,
de abrir os nossos braços.
Que em cada hora e minuto,
do tempo que a Tua vida nos dá,
nós possamos sempre ouvir,
a voz do teu amor,
que nos diz permanentemente,
Effathá!
Effathá!
Effathá!

Joaquim Alves
Comunidade Luz e Vida

19 setembro, 2009

Entrevista concedida por Jim Murphy


A visão e a dimensão profética
que o Espírito Santo nos concede

Fátima, 30 de Agosto de 2009 – Entrevista que Jim Nurphy, Director do Instituto de Lideranças Carisamáticas do ICCRS e orador da última Assembleia Interdiocesana Nacional concedeu ao LABAT, Orgão do Renovamento Carismático da Diocese de Lisboa.

Labat – Procurando ser o Labat um elo de unidade do RCC na Diocese de Lisboa, assim como um meio de formação e informação agradecemos que nos fale do RCC e as novas tecnologias ao serviço da evangelização.
Jim – As publicações relacionadas com o RCC são muito importantes e em diferentes partes do mundo tomam formas muito diversas, seja na forma como chegam aos leitores, seja em papel, pela internet, por sites ou blogs. A verdade é que têm um papel importantíssimo criando um sentido de pertença, mantendo a visão clara do RCC a todos.
É certo que há diferentes aspectos do RCC que são ressaltados em cada uma das publicações, mas isso também tem a ver com a cultura específica de cada local.
Hoje em dia as pessoas são bombardeadas com todo o género de notícias e de informações que são apresentadas, que às tantas se sentem perdidas e não sabem o que fazer. Por isso é necessário manter as pessoas alertadas para aspectos importantes e para que a visão do RCC não se perca.
Numa perspectiva de organização, os jornais são importantes; mas para além disso ajudam a comunicar uns com os outros, ter conhecimentos de algumas actividades, daquilo que se vai passando, assim como é uma oportunidade de transmitir ensinamentos particulares do RCC, ajudando ao crescimento das pessoas e de grupos.
L. – Caminhamos para meio século do RCC. Qual deverá ser a nossa preocupação presentemente?
J. – Pessoalmente, penso que o primeiro grande desafio do RCC é o de ter uma visão unificadora; enquanto que o segundo é o de ter uma compreensão mais saudável da relação do RCC dentro da Igreja.
Por outro lado, não sinto que vivamos uma explosão da Efusão do Espírito, porque não temos uma visão clara de quem somos como identidade e daquilo que o Senhor quer de nós enquanto RCC.
L. – A nossa atitude enquanto carismáticos, aqui e agora, como deve ser orientada e conduzida?
J. – Em minha opinião, nós, o RCC, ficámo-nos muito em estruturas e organizações, mas não demos muita atenção à dimensão profética do RCC. E o Renovamento precisa de ter ambos os elementos, mas numa medida certa.
Em muitos lugares do mundo o RCC é quase como que uma empresa, organizada dessa forma e aonde há muito pouca expressão da dimensão profética.
A nossa busca deverá sempre passar por manter um certo equilíbrio, para que por um lado exista uma certa organização estruturada e por outro não percamos a visão e a dimensão profética que o Espírito Santo nos confere.
L. – Como vê as Equipas Diocesanas, Grupos de Oração e Comunidades carismáticas nas Comunidades cristãs.
J. – Dentro da Igreja todas estas são realidades maravilhosas que criam um contexto no qual o RCC pode ser experimentado. Deve contudo existir entre todas um respeito mútuo e cooperativo, de forma que se possam ajudar umas às outras, partilhando os seus recursos e, quando me refiro a recursos, não estou a falar em termos financeiros, mas sim humanos, e à experiência própria de cada Equipa, Grupo ou Comunidade.
Isto acontece por todo o mundo, em alguns locais com mais sucesso do que em outros, dependendo sempre muito do respeito e da cooperação existentes. Porque o mais importante é apreciar e partilhar a diversidade dos dons e dos carismas com que o Espírito nos equipa para evangelizarmos.
L. E quanto aos responsáveis das Equipas diocesanas, de Grupos e de Comunidades carismáticas.
J. – O responsável pela Diocese é o Bispo. É a ele que cabe a tarefa de discernir se deve ou não delegar responsabilidade noutra pessoa, que pode ser num coordenador diocesano ou numa Equipa Diocesana, pode também ser num sacerdote como conselheiro espiritual, ou numa outra pessoa. Mas em todos os locais existe uma hierarquia mais ou menos pré definida, que é encabeçada pelo Bispo, seguida da Equipa Diocesana, normalmente com um Conselho Espiritual designado, ao qual se seguem os responsáveis pelos grupos de oração. Contudo a autoridade máxima é a do Bispo. Aonde existam Equipas Diocesanas, os responsáveis pelas comunidades carismáticas devem procurar ter um relacionamento estreito e cooperativo com essas Equipas procurando não se sobrepor a elas.
L. – Reportando-me concretamente a Lisboa, vivemos uma situação em que se realizam várias assembleias em Fátima (e não só) durante o ano. Elementos dos grupos frequentam periodicamente essas assembleias, levando depois para os seus grupos essas dinâmicas originando por vezes conflitos de atitudes dentro e com os grupos, ficando estes debilitados com toda esta divisão e a falta de unidade. Gostaríamos de ouvir a sua opinião sobre isto e ainda qual o discernimento a ser feito e como se deve proceder.
J. – A meu ver toda esta situação acarreta um certo desrespeito por aquilo que está a ser feito, uma vez que existe já uma estrutura que funciona dentro da Diocese. Quando uma comunidade procura evangelizar dentro da diocese deve procurar em primeiro lugar o Bispo residencial, e havendo uma Equipa Diocesana que é responsável deverá indicá-lo à Comunidade para que previamente exista um diálogo, um contacto e uma procura de colaboração. É preciso existir um respeito mútuo, porque é assim que o Senhor nos ensina a relacionarmo-nos uns com os outros respeitando as diferenças de cada um.
Por outro lado os grupos Têm um papel muito importante na catequização dos seus elementos. Se possuem uma equipa forte, com uma visão definida de para onde caminha o seu grupo, esses problemas não chegam sequer a existir; mas se isso não acontece, o que resulta é a divisão e muitas vezes a aniquilação desses grupos. Contudo não podemos esquecer que os elementos do grupo são livres para fazerem as suas escolhas, optando por ficar a pertencer a outro grupo.
Depois de ter clarificado este ponto, digo-vos ainda que em última instância a responsabilidade é do Bispo, porque é ele o pastor que deve procurar o bem do seu rebanho. É ele que muitas vezes tem a autoridade para intervir.
Depois precisamos ainda de olhar a quatro factores importantes:
o primeiro é que precisamos de compreender que há muitas coisas que mudaram na nossa cultura e quando me refiro a isto, não estou a falar apenas do RCC, mas também de outras áreas como na política, no desporto, etc. As pessoas não vão aos encontros como costumavam ir e temos que ter isso em conta;
o segundo é que nós não evangelizamos como o fazíamos há alguns anos atrás;
o terceiro tem a ver com a forma como podíamos fazer bem melhor para que os nossos grupos fossem mais dinâmicos e mais vibrantes do que o são na realidade;
o quarto e último factor é que talvez necessitássemos de muito mais coração e jejum, de procurar Deus no meio desta situação e conhecer o seu plano correcto.
Penso que em relação ao primeiro factor não há muito que possamos fazer, mas quanto aos outros três podemos e devemos fazer algo para melhorarmos e ultrapassarmos esta situação que se nos apresenta. Temos que regressar ao nosso primeiro amor, ao nosso primeiro contacto com esta torrente de graças que é o Renovamento.
L. – Qual é o caminho a seguir para testemunharmos a unidade?
J. – Eu acho que uma das primeiras coisas que poderiam ser feitas era de 3 em 3 meses ter uma reunião entre a Equipa diocesana e os representantes das Comunidades, com a presença do Bispo. Quando falo em reunião, não estou a falar em algo muito organizado, com uma ordem de trabalhos, mas em algo mais informal, com oração, criando elos de ligação e de unidade, tendo em conta as diferentes realidades e expectativas, e para além de tudo isso dando a conhecer actividades e colaborações que se possam efectuar.
L. – Muito obrigado pela mensagem contida na entrevista que será levada pelo Labat ao RCC da Diocese de Lisboa e a todos os assinantes. Agradecemos uma palavra de nosso irmão de fé; que nos manterá unidos ao Jim e à mossa vida cristã.
J. Todos nós precisamos de uma mais profunda e continuada conversão em Cristo Jesus. Temos que fazer um maior esforço de evangelização e de serviço aos outros. E o último ponto é que precisamos de trabalhar mais pela unidade entre nós no RCC.
Para além de tudo isso nunca nos esqueçamos da nossa dimensão profética. Rezem por mim, porque eu rezarei por vós.

Labat n.º 97, de Setembro de 2009

18 setembro, 2009

Deserto que Jesus quer vencer

Tornamo-nos cegos
Somos incapazes de ver a realidade
Fechamos os ouvidos
Não escutamos o grito de quem implora ajuda
A indiferença e o egoísmo endurecem o coração.
Só o amor vencerá o deserto em teu coração!

Bento XVI, 06.SET.09
(Destaque do Labat n.º 97, de Setembro de 2009)